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Exército deixa 'favela laboratório', 2 UPPs são extintas e PM assume policiamento

23.fev.2018 - Militares em operação na Vila Kennedy, na zona oeste do Rio de Janeiro - Luis Kawaguchi/UOL
23.fev.2018 - Militares em operação na Vila Kennedy, na zona oeste do Rio de Janeiro Imagem: Luis Kawaguchi/UOL

Marina Lang

Colaboração para o UOL, no Rio

15/05/2018 16h18

As UPPs (Unidades da Polícia Pacificadora) do Batan e da Vila Kennedy, na zona oeste do Rio de Janeiro, foram extintas e passam a ser unidades destacadas do 14º BPM (Bangu) a partir desta terça-feira (15). As Forças Armadas deixam o patrulhamento da área e o batalhão de Polícia Militar reassume hoje o policiamento completo da região, segundo informou o GIF (Gabinete de Intervenção Federal).

Na prática, as bases da UPP ainda existem fisicamente, mas agora como uma extensão subordinada ao batalhão responsável pelos dois bairros.

A extinção das estruturas das UPPs ocorreu gradualmente numa tentativa de corrigir falhas na cadeia de comando da PM, uma vez que há UPPs e batalhões operantes na mesma região, mas com estruturas de comando diferentes.

A ação de retirada das tropas militares e da dissolução das UPPs aconteceu após um treinamento de 250 policiais da área, além da entrega de 15 veículos, munição e 100 fuzis Para-Fal M964, calibre 7,62. Outros 40 policiais foram integrados ao 14º BPM.

Segundo a equipe de intervenção, projetos sociais conduzidos pelas UPPs do Batan e da Vila Kennedy serão mantidos pelo batalhão.

Desde o começo da intervenção federal, os militares planejam fazer ajustes nas UPPs. Segundo o GIF, metade das 38 UPPs do Estado seriam fechadas ou reposicionadas dentro das favelas. Algumas UPPs, como a do morro Santa Marta ou a da favela da Rocinha, serão mantidas por terem se integrado à comunidade ou por terem grande valor simbólico.

Alvo de diversas operações conjuntas entre polícias e Forças Armadas, a Vila Kennedy foi escolhida como um “laboratório” para ações da intervenção.

Numa delas, em fevereiro, moradores tiveram documentos e rostos fotografados por militares --militares alegaram que estavam checando antecedentes criminais. A Defensoria Pública do Rio, à época, afirmou que o “fichamento” era um constrangimento ilegal e remetia a práticas da Ditadura Militar (1964-1985). O GIF rebateu dizendo que as ações estavam dentro da legalidade.

Mesmo com as operações das Forças Armadas --que permaneciam na Vila Kennedy durante o dia--, a criminalidade continuou a assolar a região. Em março, um criminoso encapuzado rendeu cerca de 30 pessoas em uma igreja, levando dinheiro da paróquia, além de joias e celulares dos fiéis.

Dias antes, um idoso morreu baleado na cabeça durante um tiroteio entre policiais e traficantes.

Também foi durante as operações das Forças Armadas que a Prefeitura do Rio destruiu quiosques de vendedores da Praça Miami, centro da Vila Kennedy.

A ação gerou um pedido de desculpas do prefeito Marcelo Crivella (PRB), que admitiu o "uso desproporcional da força" contra trabalhadores e mandou afastar os envolvidos, além de ter criado uma linha de microcrédito para que os donos de barracas restabelecessem seus negócios.

À época, o CML (Comando Militar do Leste) disse que a prefeitura agiu por iniciativa própria, aproveitando a estabilidade da região com a presença dos 1.400 militares que patrulham a comunidade. O Exército afirmou não ter participação na ação da prefeitura.