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Rio: com 14 mortos, operação policial é a mais violenta em mais de 2 anos

8.fev.2019 - Policial militar em operação no Morro do Fallet - BETINHO CASAS NOVAS/ESTADÃO CONTEÚDO
8.fev.2019 - Policial militar em operação no Morro do Fallet Imagem: BETINHO CASAS NOVAS/ESTADÃO CONTEÚDO

Alex Tajra e Silvia Ribeiro

Do UOL, em São Paulo e no Rio*

08/02/2019 19h23

O confronto entre policiais e traficantes nas comunidades Fallet Fogueteiro, em Santa Teresa, e no Morro dos Prazeres, no Catumbi, ambas na região central do Rio de Janeiro, que resultou em 14 mortos, foi a operação policial mais violenta no estado em mais de dois anos. Levantamento feito pelo laboratório de dados Fogo Cruzado a pedido da reportagem do UOL mostra que, desde o segundo semestre de 2016, quando a organização começou a funcionar, não houve registro de uma operação de forças de segurança com tantos mortos no estado.

Segundo a Polícia Militar, os mortos seriam suspeitos de envolvimento com o tráfico de drogas. As identidades deles ainda não foram reveladas pela corporação, que diz ter encontrado os corpos após o confronto. Em nota enviada ao UOL, a PM afirmou que "equipes policiais reagiram à injusta agressão proveniente dos criminosos". Foram apreendidos quatro fuzis, 14 pistolas e seis granadas.

Nos últimos dois anos, foram registrados oito confrontos com sete ou mais mortes em comunidades do Rio, segundo o Fogo Cruzado --organização independente que mapeia e contabiliza tiroteios na região metropolitana do Rio.

Operações com 8 vítimas:

  • 24/03/2018 - Rocinha
  • 18/05/18 - Complexo do Lins

Operações com 7 vítimas:

  • 19/11/16 - Cidade de Deus
  • 11/11/17 - Complexo do Salgueiro
  • 25/11/17 - Complexo do Caju
  • 08/06/18 - Praia Vermelha
  • 20/06/18 - Vila Pinheiro (Maré)
  • 20/08/18 - Morro do Sereno (Complexo da Penha)

Cinco destas operações aconteceram durante o período de intervenção federal na segunda pública do Rio, que vigorou entre fevereiro e dezembro de 2018. Foi o caso do confronto no Complexo do Lins (zona norte), em maio do ano passado, quando o chefe do tráfico de comunidades da Praça Seca (zona oeste) Sérgio Luiz da Silva Júnior, conhecido como Da Russa, foi morto durante troca de tiros com a polícia. 

A operação, comandada pela Subsecretaria de Comando e Controle, envolveu cooperação entre as Forças Armadas e policiais civis e militares. Em outra operação que envolveu o Exército, uma grande operação realizada no Complexo da Penha, em agosto passado, deixou cinco civis e dois militares mortos. O cabo do Exército Fabiano de Oliveira Santos e o soldado João Viktor da Silva foram os primeiros militares mortos em operações desde o início da intervenção, que terminou em dezembro.

2018: mortes pela polícia aumentaram 36%

Entre janeiro e dezembro do ano passado, o Rio registrou 1.532 mortes por intervenção de agentes de segurança. O número é 36% maior do que o registrado no mesmo período de 2017, quando ocorreram 1.127 mortes desse tipo.

O número expressivo de mortes verificado nesta sexta acontece depois de um grande debate iniciado na campanha eleitoral. O então candidato Wilson Witzel (PSC) defendeu o "abate" de criminosos que estejam portando fuzis. Ele defende o uso de atiradores de elite para este tipo de ação.

Um levantamento feito pelo Fogo Cruzado também aponta o aumento de tiroteios em oito grandes vias do Rio. Foram 419 tiros ou tiroteios nos seus arredores no ano passado. O número é 80% maior do que o verificado em 2017, quando foram registrados 234 tiros ou tiroteios nas mesmas vias.

As vias citadas pelo relatório são a avenida Brasil, as linhas Vermelha e Amarela, a Transolímpica, a autoestrada Lagoa-Barra, a estrada Grajaú-Jacarepaguá, a avenida das Américas e a estrada do Alto da Boavista, que liga as zonas norte e oeste.

A avenida Brasil apresentou o maior aumento no número de registros --de 137 casos em 2017 para 225 no ano passado. A via corta boa parte da região metropolitana e passa pelas região central da capital, além cruzar bairros das zonas norte e oeste e margear municípios da Baixada Fluminense.

*Com reportagem de Gabriel Sabóia e Marcela Lemos, do UOL, no Rio, e colaboração para o UOL, no Rio