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MP vê "conluio" entre Vale e Tüv Süd e investiga se cúpula sabia de riscos

15.fev.2019 - Funcionário da Vale é preso em Belo Horizonte em investigação sobre o rompimento da barragem de Brumadinho (MG) - UARLEN VALéRIO/O TEMPO/ESTADÃO CONTEÚDO
15.fev.2019 - Funcionário da Vale é preso em Belo Horizonte em investigação sobre o rompimento da barragem de Brumadinho (MG) Imagem: UARLEN VALéRIO/O TEMPO/ESTADÃO CONTEÚDO

Marcela Leite

Do UOL, em São Paulo

15/02/2019 19h50

Em entrevista coletiva concedida hoje por integrantes do MP-MG (Ministério Público de Minas Gerais,) o coordenador do núcleo criminal de investigação da tragédia de Brumadinho (MG), William Coelho, afirmou que houve um "conluio" entre funcionários da Vale e membros da empresa alemã Tuv Süd, responsável pelo relatório que atestou a estabilidade da barragem, para maquiar a situação real da estrutura.

Hoje, foram presos oito empregados da companhia que, segundo o MP-MG, estavam diretamente envolvidos na segurança e estabilidade da estrutura que se rompeu.

Alguns funcionários [da Vale] participaram ativamente de um conluio para dissimular a situação crítica da barragem com a empresa Tuv Süd
William Coelho, promotor do MP-MG

Em um dos e-mails obtidos a partir da investigação, um dos representantes da empresa alemã Tuv Süd fala que a Vale pressiona por um laudo positivo de estabilidade, acenando com possíveis contratos futuros. 

O foco das investigações agora, a partir mensagens de texto, de voz e documentos coletados de equipamentos apreendidos, é entender como funciona o fluxo de informação de toda a empresa e saber se a questão de segurança chegou aos órgãos de cúpula.

"Vamos verificar como essa informação e esses riscos foram assumidos na cadeia de tomada de decisão da empresa Vale", diz William. "Entender dentro de um complexo organograma da empresa como isso foi sendo deliberado internamente."

Dois presos foram ouvidos hoje: Felipe Figueiredo Rocha, da gerência Gestão de Riscos e de Estruturas Geotécnicas Ferrosas, e Cristina Heloíza da Silva Malheiros, responsável pelo monitoramento da barragem. Os demais falarão na próxima semana.

O órgão apura a prática de crimes de homicídio doloso, falsidade ideológica e crimes ambientais decorrentes do rompimento. Segundo o MP-MG, há "diversos elementos de prova que mostram de uma forma muito convincente que não foi acidente".

"Um dos crimes de falsidade ideológica tem a ver com algumas declarações de estabilidade apesar de os números indicarem de forma contrária", segundo William Coelho.

Eles assumiram risco do rompimento e o risco do resultado morte de centenas de pessoas
William Coelho, procurador do MP

Hoje, também foram cumpridos 14 mandados de busca e apreensão. Nove deles na região metropolitana de Belo Horizonte, em residências de um funcionário da Vale e outra de funcionário da empresa alemã Tuv Süd, e quatro em São Paulo, em casas de empregados da Tuv Süd. Outro foi no Rio de Janeiro, no conselho administrativo da Vale, "com o objetivo de arrecadar documentos e elementos de prova que possam contribuir pro esclarecimento do fluxo de informação com a empresa sobre as ocorrências que estão sendo investigadas", segundo o MP-MG.

Em nota, a Vale informou que considera "as prisões desnecessárias, pois os funcionários já haviam prestado depoimento de forma espontânea e sempre estiveram disponíveis para esclarecimentos às autoridades". A companhia também disse que tem apresentado documentos e informações voluntariamente e que permanecerá contribuindo com as investigações.

Possíveis retaliações

Segundo o MP, a posição de alguns cidadãos de Brumadinho como funcionários da Vale os coloca em potencial situação de vulnerabilidade, inclusive na prestação de informação.

"Estamos buscando esclarecer a população de que dar um passo à frente e colaborar com as investigações deve ser a decisão correta. Eles precisam nos ajudar, também, para nós conseguirmos esclarecimentos de diversas fontes, de forma que o poder público ajude a proteger essas pessoas de eventual retaliação que eles possam sofrer, seja no ambiente profissional ou no pessoal", explicou William.

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