Condenado por roubo de carro em SP estava em mercado no momento do crime
Resumo da notícia
- Familiares afirmam que jovens foram presos injustamente por roubo em São Paulo
- Vídeo mostra jovem distante 2,5 km do local do roubo supostamente no horário do crime
Uma aposentada de 65 anos foi vítima de dois criminosos na rua Lagoa Seca, no bairro Aricanduva, zona leste de São Paulo, às 14h50 do dia 26 de dezembro de 2018. Duas horas depois, policiais militares apresentaram na delegacia dois suspeitos, pegos a 2,5 km dali, sendo um deles reconhecido pela vítima. Eles foram condenados a cinco anos e seis meses de prisão.
O cabeleireiro Gabriel Rubio de Oliveira, 19, reconhecido pela vítima do roubo, e seu amigo, o ajudante de pedreiro Jhonatan Vinícius da Silva Nobre, 20, cuja família diz que estava empinando pipa no horário do crime, estão no CDP (Centro de Detenção Provisória) de Mauá, na região metropolitana de São Paulo, onde cumprem a pena imposta pela Justiça.
Imagens obtidas pelo UOL apontam que Gabriel, o suspeito reconhecido pela vítima, havia trabalhado até por volta de 12h daquele dia no salão de cabeleireiro e, no horário do roubo, com a mesma roupa utilizada durante a manhã, estava voltando com sacolas de um supermercado ao lado de sua namorada. As imagens nunca foram analisadas pela polícia, Justiça e vítima do roubo. Elas foram pegas por familiares após a condenação e, agora, são utilizadas em recurso para tentar livrá-lo da prisão.
"Os bandidos deram fuga e bateram o carro na rua de cima da barbearia. E fugiram pela avenida, passando pela porta da barbearia. Os policiais pegaram os inocentes na avenida. Os policiais sortearam duas pessoas, pegaram o Jhonatan primeiro. O Gabriel, que estava almoçando, saiu para fora, até com um copo de refrigerante na mão, levaram para a averiguação, e à noite soubemos que eles iam ficar presos por assalto."
O relato acima é de Renan Carlos Ferreira de Brito, 28, cabeleireiro e dono do salão onde Gabriel trabalhava até ser preso. Ele conta que, naquele dia, o liberou mais cedo porque, por ser fim de ano, o movimento estava baixo. Diz, também, que ambos não são os criminosos porque têm aparência física distintas das dos verdadeiros ladrões.
"Conversando com as verdadeiras testemunhas, que viram mesmo, disseram que os caras [que roubaram] tinham corrido no sentido da rua da minha barbearia. Eu puxei as imagens e [os] vi correndo. Mostrei as imagens para as pessoas que viram o roubo e elas me afirmaram com certeza absoluta que eram aqueles os autores", afirmou.
Imagens não apuradas
Segundo o TJ (Tribunal de Justiça) e a SSP (Secretaria da Segurança Pública), nenhuma imagem foi anexada tanto no processo judicial quanto no inquérito policial. "O julgamento de Gabriel e Jhonatan foi realizado em 13 de fevereiro deste mês e eles foram condenados a cinco anos, seis meses e 20 dias de reclusão, em regime fechado, acusados de roubo qualificado", informou o TJ.
"A advogada já manifestou desejo de recorrer da sentença da juíza junto ao Tribunal de Justiça, que poderá manter a sentença, modificar a pena para mais ou para menos, ou acatar a manifestação da defesa e absolver os réus", complementou a Justiça de São Paulo. Não há data para julgamento do recurso.
Já a SSP informou que a vítima e uma testemunha reconheceram Gabriel e Jhonatan como autores do crime. "Durante as investigações, nenhum vídeo foi apresentado à polícia, sendo o inquérito policial relatado ao Poder Judiciário em 28 de dezembro, não retornando ao distrito policial", apontou a secretaria.
Enquanto Gabriel foi reconhecido por ser o responsável pelo roubo, Jhonatan seria o coautor e foi reconhecido parcialmente apenas pelo cabelo, que tinha luzes.
Vítima não quis prejudicar ninguém
A reportagem entrou em contato com um filho da vítima do roubo, que pediu anonimato, uma vez que a história "desgastou a saúde da mãe". O filho relatou que a mãe, uma aposentada de 65 anos, "nunca teve interesse de prejudicar ninguém, mas que, de início, reconheceu um e afirmou não ter certeza de outro".
"Se as imagens forem verdadeiras, eles têm que ser soltos. Vai ter um novo julgamento e essas imagens têm que estar disponíveis mesmo. Quando os ladrões bateram o carro eu fui para o local. Depois de uns 30 minutos, os suspeitos foram levados para a delegacia. Se ficar esclarecido que não foram eles mesmo, tem que soltar", afirmou o filho da vítima.
O filho disse que mostraria as imagens para a mãe, que poderia reconhecer os outros suspeitos, indicados pela investigação feita pela família e amigos dos dois acusados e condenados.
As famílias dos suspeitos
A vendedora Silvia Rubio Lopes, 50, mãe de Gabriel, afirma que, naquele dia, depois do trabalho, ele foi ao shopping comprar um chinelo com a namorada, passou em um lugar para consertar o celular, no supermercado e na padaria. Chegou em casa, se sentou na cozinha, mostrou ao irmão o chinelo que havia comprado e disse que seria dele o que ele usava até então.
"Ele é trabalhador, não tem vício nenhum, sempre trabalhou, nunca fez nada de errado. Está sendo culpado por uma coisa que não fez. Passei mal lá dentro do presídio, porque não estou acostumada a esse ambiente. Ali não é um lugar adequado a uma mãe visitar um filho trabalhador que nunca teve passagem. Choro as noites inteiras", afirmou.
O padrasto de Gabriel, o vendedor Ailton Souza Lopes, 49, foi o responsável por reunir as imagens das ruas que mostram que ele estava longe do local do crime. "Eu estava deitado na cama quando ele chegou do supermercado. Dez minutos depois de ir para a casa da sogra, me veio a namorada correndo chorando. Algemaram, bateram nos meninos e levaram eles para perto de onde bateram o carro roubado. Isso não pode acontecer", disse.
Já a doméstica Andrea Gomes da Silva, 41, mãe de Jhonatan, afirmou que morava no Jardim Haia do Carrão, na região da Vila Formosa, com ele e outros dois filhos, além de um irmão. "Naquele dia, ele ficou em casa comigo a manhã toda. Quando foi 12h, desceu para empinar pipa. Por volta das 16h, chegaram os PMs e o enquadraram. O Gabriel saiu para ver o que estava acontecendo e os policiais também chamaram ele para uma averiguação", disse.
A advogada de Gabriel e Jhonatan, Sara Bernardo, afirma que "não há subsídios suficientes que comprovem ter os acusados praticado o delito" e que "há total insuficiência e fragilidade das provas". Ela pediu, em recurso, que ambos sejam absolvidos.
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