Com motoaquática, voluntários resgatam ilhados após chuvas em SP
O que era rua virou rio, e as casas se tornaram prisões para dezenas de moradores ilhados no bairro Rudge Ramos, em São Bernardo do Campo (SP), ontem.
Em meio a uma enxurrada que deixou 12 mortos na Grande São Paulo, um grupo de amigos organizou uma operação de resgate que envolveu uma motoaquática (um "jet ski") conduzida pelo surfista Marcelo Luna, 32.
Sabíamos que o Corpo de Bombeiros não estava dando conta de atender a todas as famílias. Se podíamos ajudar, por que não? Lucas Laes, 25, integrante do grupo voluntário de resgate no ABC.
Em uma área seca, com um rádio na mão, Lucas guiava o amigo que pilotava a motoaquática e o direcionava às casas onde havia gente presa pela enchente.
Os jovens também levavam comida e água para as pessoas ilhadas que não queriam deixar suas casas --nesse caso, com a ajuda de um bote.
Na noite de ontem, durante uma hora, a reportagem presenciou o resgate de ao menos dez pessoas, retiradas das casas em áreas alagadas e levadas a uma região mais alta, onde a água já havia baixado.
Ao completar a travessia, os resgatados eram recebidos por moradores da região que entregavam comidas, bebidas e roupas de frio.
"Se precisar, vamos varar a noite aqui", disse Lucas por volta das 19h. A operação havia começado às 15h.
Lucas conta que muitas famílias pediram socorro ao amigo surfista depois de vê-lo passando para os primeiros resgates.
Também havia gente que, por telefone ou mensagens, sabiam da operação e enviavam pedidos de resgate.
"Nós temos muitos conhecidos nesse bairro", disse Lucas, que afirma que o próprio amigo Marcelo chegou a ficar ilhado até as 4h da manhã de ontem na Igreja Bola de Neve, em Santo André, cidade vizinha.
"Ele estava no culto na hora da chuva e quando foi sair a região já estava toda tomada pela água", relata o amigo.
20 horas sem comida ou água
Uma das famílias resgatadas pelo grupo foi a de Juliana da Silva Batista, 18.
Ela e outras oito pessoas --incluindo duas crianças de 8 e 9 anos-- estiveram quase 20 horas presos no segundo andar de casa.
"Estávamos dormindo e quando acordamos por volta das 23h fomos surpreendidos com o andar de baixo tomado pela água", conta.
Como a cozinha ficava no andar de baixo, a família ficou sem água e sem comida durante todo o tempo do confinamento.
"Estávamos morrendo de fome e não sabíamos quanto tempo mais teríamos que aguardar até a água baixar", conta a jovem, que diz ter pedido socorro a pelo menos três botes do Corpo de Bombeiros que passaram em frente à sua casa.
"Eles nos disseram que estavam dando preferência as crianças, idosos e pessoas que estivessem passando mal", diz.
A mãe de Juliana foi quem mais se abalou com a situação. Ela saiu do jet ski com os olhos cheios de lágrimas e falando do medo de uma nova chuva ou até do desmoronamento da casa.
Outros resgatados desembarcavam tão consternados que não conseguiam, ou não queriam, relatar os últimos momentos vividos após a chuva que levou São Bernardo do Campo a declarar calamidade pública.
Sobre a operação, o Corpo de Bombeiros afirmou que "uma ação de salvamento deve ser acompanhada de coletes salva vidas e um local adequado para transporte de vítimas em segurança".
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