Massacre em Suzano: 'Caindo a ficha', diz aluna que mora em frente à escola
Desde o massacre na escola estadual Raul Brasil, na última quarta-feira (13), a aluna Carla Augusta Hiller Winkler, 15, não consegue se distanciar da tragédia. Ela mora exatamente em frente ao portão principal da unidade de ensino de Suzano, na Grande São Paulo.
Por causa disso, ela pede a ajuda dos amigos e de psicólogos neste momento. "Para aconselhar a gente a ver o que fazer. Porque, nesse momento, a gente não para de pensar [na tragédia]. Principalmente eu, que moro perto. Eu não tenho nem vontade de sair de casa", contou ao UOL.
Carla, que frequenta aulas do primeiro ano do ensino médio, chora toda vez que volta a sua residência. "Quando eu saio, eu não tenho vontade de voltar", diz. Seus pais cogitam outro lugar para morar. "Porque eu realmente não queria ficar aqui."
A proximidade é um fator que dificulta sua recuperação. "A gente chegar aqui e ver tudo isso, essas homenagens, aí que a gente se sente mais mal ainda. Porque está caindo a ficha agora."
Ela já está em contato com psicólogos que atuam no Caps (Centro de Atenção Psicossocial), localizado a uma quadra de sua casa e da escola.
É horrível, porque você não tem como fugir disso. Todo lugar que você olha, todo lugar que você vai, você vê isso. As pessoas comentam sobre isso. Machuca
Carla Augusta, aluna da escola estadual Raul Brasil, em Suzano
A aluna lembra que aquela quarta-feira seria mais um dia normal, em que participaria do curso de francês na instituição pela manhã. Ao final da aula, conversou com alguns amigos, ajudou uma professora a carregar livros, atravessou a rua e foi para casa. "Aí, nessa de eu chegar em casa, guardar os meus materiais, começou o tiroteio. Meus pais abriram o portão. Entrou muita gente aqui, e a gente foi ajudando da melhor maneira", recorda.
"Se eu sair da escola, não vai adiantar nada"
Carla, porém, não pensa em abandonar a escola. E o motivo para isso é apoiar seus amigos. "Porque, se eu sair, não vai adiantar de nada. Eu acho que só vai piorar. Aconteceu isso? Aconteceu. Mas poderia ter acontecido em qualquer escola. Foi nessa. Infelizmente, foi nessa. Mas eu acho que eu vou voltar para ajudar meus amigos."
Colega de Carla, Luiz Benício Batista, 15, reencontrou a amiga ontem após bater no portão da casa dela. Ele também irá retornar à escola e pede que seus colegas façam o mesmo.
"Vocês têm que vir porque vai ter pessoas que vão precisar de um abraço, vão ter pessoas que vão precisar de um conselho, de um consolo, de um ombro para chorar. Ou de algumas piadinhas para poder sorrir", sugere o estudante aos amigos.
Luiz passou boa parte do início da tarde em pé, refletindo, em uma das esquinas da escola onde foram colocadas homenagens diversas, como flores e cartazes. Quem passava por perto dele desejava força para enfrentar o momento. E ele confirmou que precisava desse apoio.
"Eu, por exemplo, eu não tô forte para falar para as pessoas, mas eu preciso estar, entendeu?", disse à reportagem, citando que tem se ancorado na religião para enfrentar a dor. "Só fui orando. Isso que me deixa mais calmo. Isso dá uma calma imensa no coração. Orem, rezem, peça para que as famílias sejam consoladas."
Eu fico triste por aqueles que se foram. Mas também fico feliz por aqueles que estão vivos, que conseguiram escapar
Luiz Benício Batista, estudante da Raul Brasil
Mas o apoio tem vindo de fora. Alunos de outras escolas estaduais estiveram no início da tarde de segunda no entorno do Raul Brasil. Eles ofereciam abraços. Enquanto conversava com Luiz, uma estudante se aproximou da reportagem e entregou um pedaço de papel.
Nele, estava escrito: "Seja forte. Você é guerreiro. Passará por todo esse sofrimento". Um recado escrito na medida para Carla e Luiz. E para todos os alunos da escola Raul Brasil.
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