Witzel diz que sequestrador estava com isqueiro na mão quando foi baleado
O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), afirmou hoje que a Polícia Militar decidiu atirar contra Willian Augusto da Silva, 20, que sequestrou um ônibus na Ponte Rio-Niterói, porque ele "estava com isqueiro na mão no momento em que foi abatido, pronto para incendiar" o ônibus. O governador negou ter participado da decisão sobre quando os snipers do Bope (Batalhão de Operações Especiais) deveriam atirar e defendeu a autonomia da PM em suas operações.
Witzel e vários de seus auxiliares participaram na tarde de hoje de entrevista no Palácio Guanabara, sede do governo do estado, em Laranjeiras, zona sul do Rio. Questionados sobre quem havia dado a ordem para que um sniper --camuflado em cima de uma viatura do Corpo de Bombeiros-- atirasse, o governador e o comandante do Bope, tenente-coronel Maurílio Nunes, inicialmente afirmaram apenas que os protocolos da PM haviam sido seguidos.
Diante da insistência no tema, Nunes admitiu ter dado a ordem para o atirador de elite. "A autorização foi do gestor da crise, que era eu", admitiu Nunes.
Witzel também negou ter participado da decisão de como os policiais deveriam agir durante o sequestro. Segundo ele, o Bope teve autonomia para atuar de acordo com o treinamento de seus policiais.
"A PM tomou as decisões que tomou porque é o órgão capacitado para decidir", afirmou. "Fui apenas o articulador político para que tivessem a tranquilidade de fazerem o trabalho deles. Para, se preciso, fosse agir politicamente em outros canais."
Logo após o sequestrador ser baleado, Witzel desembarcou de um helicóptero à Ponte Rio-Niterói. Ele comemorou com socos no ar o fim da operação --nas redes sociais, usuários criticaram o governador por ter aparentemente festejado a morte. Diante da repercussão negativa, Witzel voltou atrás e alegou ter celebrado a salvação dos reféns.
"Não pude me conter de estar feliz ao ver que aquelas pessoas iam voltar para casa", argumentou o governador.
No sede do governo fluminense, Witzel esteve ao lado de Rogério Figueiredo (secretário de Polícia Militar), Claudio Castro (vice-governador), Marcus Vinicius Figueiredo (secretário de Polícia Civil) e Cleiton Rodrigues (Governo e Relações Institucionais), além do comandante do Bope e de representantes da PRF (Polícia Rodoviária Federal).
O governador disse ter constatado "forte cheiro de gasolina" ao entrar no ônibus e afirmou que houve necessidade de usar atiradores para neutralizar "alguém que estava colocando em risco dezenas de pessoas".
Witzel revelou já ter conversado com a família de Willian. "A mãe está muito abatida e se perguntando onde foi que errou. Vamos ajudá-la a superar esse momento difícil. Ainda temos muito trabalho a fazer para combater a violência e proteger a população."
O governador contradisse a PM ao tratar da motivação do sequestro. O comandante do Bope apresentou elementos indicando que Willian sofria de transtornos mentais e estava em surto no momento do crime. Porém, o governador tentou associar a ocorrência à atuação de traficantes de drogas, mesmo sem apresentar nenhuma evidência nesse sentido.
"Vamos investigar, mas tenho na minha convicção de que esse fato que ocorreu hoje tem vinculação com o crime organizado, que estimula esse tipo de ação terrorista. Nós temos que tomar as providências imediatas para fazer cessar essas atividades criminosas", disse.
Interpelado por jornalistas sobre que informações sustentavam essa interpretação, Witzel se irritou.
"É minha convicção. Minha convicção. O meu entendimento como estudioso. Vocês ouvem um monte de especialistas e esquecem que eu também sou especialista. Sou estudioso do direito penal há mais de 20 anos. A minha convicção é de que essas facções estimulam atos terroristas, senão direta, indiretamente. Estimulam atos terroristas. Eu acredito que, como ocorre em outros países, o terrorismo estimula pessoas a agirem contra o estado. Para causar o caos, causar a desestabilização das autoridades", pregou.
Witzel ainda defendeu que o Brasil adote "uma postura mais dura" contra países que permitem o tráfico de armas, citando nominalmente o Paraguai. Também disse que irá propor uma ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) no STF (Supremo Tribunal Federal) para que exista uma interpretação unificada sobre a possibilidade de policiais matarem criminosos que portem fuzis, mesmo que eles não façam menção a atirar.
Ex-juiz federal, o governador alegou que o artigo 25 do Código Penal, que estabelece os limites da legítima defesa, permite que criminosos sejam alvejados se estiverem "com a bandoleira" --suporte que prende o armamento ao corpo, como uma espécie de alça.
Porém, o texto da lei não trata do tema, estipulando apenas que "entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem".
Sequestro, tensão e morte
Às 5h30 de hoje, Silva anunciou o sequestro aos passageiros do ônibus da Viação Galo Branco, que fazia o trajeto entre o Jardim Alcântara, no município de São Gonçalo, e o bairro do Estácio, no centro do Rio. Trinta e sete pessoas estavam no coletivo quando o veículo foi rendido pelo criminoso --ninguém se feriu.
Cerca de uma hora depois, ele atirou um objeto pegando fogo, espalhou gasolina pelo veículo e passou a ameaçar incendiar tudo. As duas primeiras reféns foram liberadas.
O Bope (Batalhão de Operação Policiais Especiais) chegou ao local por volta das 7h e assumiu o comando das negociações atendendo a uma exigência do sequestrador. As conversas haviam sido iniciadas pela PRF (Polícia Rodoviária Federal).
William passou a liberar um refém em intervalos de 20 a 30 minutos. Ao mesmo tempo, foi feito o bloqueio total da Ponte Rio-Niterói e parte do guard-rail passou a ser retirada para que os carros presos no local deixassem a via.
Por volta das 8h20, uma refém foi liberada pelo sequestrador e desmaiou logo após deixar o ônibus. Imagens da TV Globo mostraram a mulher sendo atendida pelos policiais.
Às 9h05, o sequestrador desceu do ônibus, atirou um objeto que parecia ser uma mochila e caiu ao lado do veículo logo após serem ouvidos disparos. Em seguida, a polícia liberou o restante dos reféns que ainda estavam no ônibus.
Willian morreu após os disparos. "Paciente chegou em parada cardiorrespiratória e foi constatado o óbito pela equipe médica do hospital", informou a Secretaria Municipal de Saúde.
Ainda não se sabe as motivações do homem que, de acordo com a PRF, tinha em seu poder um revólver 38, um taser (aparelho de choque), uma faca e um galão de gasolina. A Polícia Militar alega que ele estava apenas com uma arma de brinquedo.
Porta-voz da PM, o coronel Mauro Fliess disse que a ação foi a única possível para preservar as vidas dos reféns. "A operação foi um sucesso. O objetivo desejado era preservar todas as vidas, mas infelizmente ele não nos deixou outra opção. Foi necessário disparar contra ele para preservar a vida de inocentes", informou o coronel ao UOL.
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