Vereador é suspeito de usar cargo para liberar cultos em cemitério
Um vereador foi apontado como responsável por autorizar cultos religiosos no cemitério municipal São João Batista, na cidade paulista de Itapetininga, a 171 km da capital. Marcus Tadeu (PSDB), que também é delegado há 26 anos, nega que tenha utilizado os cargos que ocupa para autorizar as celebrações que provocaram críticas de moradores da Vila Hungria, bairro tradicional da cidade.
A celebração religiosa aconteceu em um sábado, dia 11 de maio. Era a segunda vez neste ano que aproximadamente 40 pessoas vestindo branco estacionavam seus carros às 20h em frente ao cemitério e iniciavam uma celebração de quatro horas.
O culto, com cantoria de hinos ritmados por timba e tambor, incomodou alguns moradores, que por volta das 23h chamaram a polícia. Uma moradora denunciou o caso "em virtude do barulho" em "horário inadequado". "Havia cantorias e utilização de instrumentos musicais", disse.
Ao chegar ao cemitério —fechado ao público sempre às 18h—, policiais militares foram informados por um dos vigias que "estava ocorrendo uma celebração religiosa autorizada pelo vereador Marcus Tadeu", segundo o B.O (Boletim de Ocorrência). "Já ocorreu outra celebração da mesma natureza em outra oportunidade", contou.
Informada sobre o uso do cemitério sem sua autorização, a prefeitura abriu em julho um processo administrativo para apurar as responsabilidades. O vereador diz que só intermediou o encontro dos interessados com a administração (leia mais abaixo).
Em depoimento à sindicância, um funcionário do escritório do cemitério contou que, dias antes da celebração, o vereador foi acompanhado de representantes dos religiosos para "autorizar a entrada no espaço público". O delegado teria dito que o "grupo era gente boa, que não teria encrenca". O funcionário disse que não questionou Tadeu "porque quem pediu era um delegado" e "que não foi a primeira vez".
"Nunca tinha visto ninguém fazer esse tipo de pedido", afirmou o funcionário à comissão. "Ninguém na prefeitura estava sabendo do fato, ninguém da prefeitura autorizou, apenas o sr. Marcus Tadeu na qualidade de delegado autorizou e que, se fosse outra pessoa pedindo, não teria autorizado."
O homem, de 52 anos, não soube informar que religião organizou o culto, mas que pensou ser a católica "porque o delegado é da Igreja Católica", mas que "pelo jeito não era católica".
Ainda em julho, um vigia foi ouvido pela sindicância: "O grupo chegou em torno de oito a dez carros com aproximadamente 40 pessoas, [...] todas de branco". Ele teria perguntado se tinham alguma oferenda "e foi dito que não tinham nada e que era da religião mesa alguma coisa".
"Batiam na timba (instrumento) e batiam o pé no chão. Faziam benzimento um no outro e cantavam hinos", contou o vigia à Comissão Permanente de Sindicância.
Ele voltou a dizer que o pedido partiu de Tadeu, "vereador e delegado na cidade e que representa uma autoridade". "Não houve conversa com ninguém da prefeitura, e ninguém mais estava a par da autorização", afirmou. "Não foi a primeira vez que o sr. Marcus Tadeu autorizou a entrada deste mesmo grupo religioso" em um culto que durou "em torno de quatro horas".
Na terça-feira (10), a sindicância abriu um processo disciplinar contra os dois funcionários e encaminhou à Câmara Municipal a denúncia contra o delegado. "Por se tratar de um vereador que não integra o quadro do Poder Executivo, os documentos foram protocolados na Corregedoria da Polícia Civil, Câmara Municipal de Itapetininga (que compete apurar a conduta do vereador), Ministério Público (Cidadania) e Diretoria do Fórum Criminal."
"É perseguição política", diz vereador
Vereador na cidade há seis anos e delegado há 26, Tadeu atribuiu as suspeitas a uma perseguição política. "O que acontece é que as denúncias feitas contra a prefeitura têm causado problemas para a administração", contou o delegado ao UOL. "É a velha política de inventar, criar casos. Mas essa, nem os roteiristas da Globo criariam uma história melhor."
Ele conta que no começo do ano foi procurado por uma amiga e um amigo dela. Eles queriam saber como poderiam realizar a manifestação religiosa dentro do cemitério. "Eu disse que a única maneira seria pedir à administração do cemitério. A minha única participação foi apresentá-los ao administrador. Eu fiquei cinco minutos. Não fiquei para a reunião, não sei se autorizaram ou não", afirma.
O delegado diz que não esteve no culto nem ficou sabendo se as celebrações de fato aconteceram. "Sou ligado à Igreja Católica, por isso querem me atingir", diz.
Mesmo não concordando com o conceito de fé deles, eu jamais impediria a liberdade religiosa. Foi em respeito a tudo isso que apresentei duas pessoas à administração
Marcus Tadeu, vereador e delegado de Itapetininga
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