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Caso Ághata: com blindagem, reconstituição ocorre sem mãe e com dois PMs

Policiais civis realizam a reconstituição da morte da menina Ágatha Félix, baleada no último dia 20 - ELLAN LUSTOSA/CÓDIGO19/ESTADÃO CONTEÚDO
Policiais civis realizam a reconstituição da morte da menina Ágatha Félix, baleada no último dia 20 Imagem: ELLAN LUSTOSA/CÓDIGO19/ESTADÃO CONTEÚDO

Pauline Almeida

Colaboração para o UOL, do Rio de Janeiro

01/10/2019 18h45Atualizada em 01/10/2019 23h41

Resumo da notícia

  • A polícia montou um forte esquema de segurança para a reconstituição da morte da menina Ághata Félix, no Complexo do Alemão
  • A mãe de Ághata, que acompanhava a menina no momento do crime, teve uma crise de pressão alta e não acompanhou os peritos
  • A Polícia Civil informou que não usou uma boneca para representar Ághata. Para saber de onde os tiros podem ter partido, lançou mão de medições.

A falta de segurança no local onde a menina Ághata Félix, 8, foi baleada fez com que fosse criado um forte esquema de segurança para a reconstituição do crime, no Complexo do Alemão, zona norte do Rio. Foi montada uma megaoperação com 70 policiais e três veículos blindados (os chamados "caveirões") para garantir a segurança das equipes no Largo do Birosca, local onde aconteceu a tragédia na noite de 20 de setembro.

A reconstituição durou cerca de quatro horas e não contou com a presença da mãe de Ághata, que estava com ela na Kombi atingida pelo disparo de fuzil. Vanessa Sales, mãe de Ágatha, teve crise de pressão alta, esclareceu o advogado Rodrigo Mondego, membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ.

"Ela não está aqui porque não tem condições de estar aqui. É um trauma muito grande", ressaltou. Mondego acompanha as testemunhas para que se sintam seguras a ajudar nos detalhes do crime e pediu à imprensa que elas não sejam expostas.

Inicialmente, os 11 policiais militares envolvidos na ocorrência ficariam fora da reconstituição. No entanto, durante a noite, dois PMs compareceram.

"Foi uma decisão própria deles e nós, independente disso, faremos nossa reprodução simulada e chegaremos à verdade dos fatos", disse Antônio Ricardo, diretor do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa.

A Polícia Civil informou que não vai usar uma boneca para representar Ághata e nem vai efetuar disparos. Para saber de onde os tiros podem ter partido, lançará mão de medições.

Policiais da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) realizam, nesta terça- feira, 1º de outubro de 2019, a reconstituição da morte da menina Ágatha Félix, de 8 anos, baleada no último dia 20 de setembro dentro de um transporte coletivo na comunidade da Fazendinha, uma das favelas do Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro - WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO - WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO
Kombi em que Ághata estava quando foi atingida está sendo usada na reconstituição
Imagem: WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO

"Nós já sabemos que ali, próximo ao local que ocorreu o fato tem um poste, que apresenta sinais de disparo de arma de fogo. Há uma possibilidade desse disparo ter sido efetuado em direção a esse poste e ter resvalado e acertado essa menina", colocou Ricardo.

O objetivo é descobrir se o posicionamento e a ordem dos fatos correspondem ao que foi relatado nos depoimentos.

Sem a mãe de Ághata, seis testemunhas participaram da reprodução simulada - entre elas, o motorista da Kombi, que negou a existência de confronto ao ser ouvido na Delegacia de Homicídios, o que vai contra a versão dos policiais militares de uma troca de tiros com criminosos.

Pais de Ághata afirmam que não houve confronto

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Montagem da reconstituição

As equipes da Delegacia de Homicídios da Capital e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) saíram de suas bases por volta das 15h30 e começaram a chegar ao Complexo do Alemão por volta das 16h30 para montar um cinturão de blindagem.

Logo em seguida, fizeram o posicionamento dos elementos, como da Kombi onde Ághata foi baleada. Porém, a reconstituição só começou efetivamente ao escurecer, para simular as condições da noite do dia 20 de setembro.

Para a imprensa acompanhar a reprodução com segurança, um ponto de encontro foi marcado na esquina da avenida Itaóca com a rua Antônio Austregésilo, via por onde trafegam as tradicionais Kombis que levam os moradores do Complexo do Alemão —justamente por onde passou Ághata no dia da tragédia. O local recebeu interdição por agentes da Guarda Municipal.

Em seguida, a Polícia Civil liberou a subida dos jornalistas até o Largo da Birosca, a cerca de 50 metros de onde foi montada a reconstituição.

O aparato da polícia e os coletes à prova de balas dos jornalistas contrastam com a tranquilidade do cotidiano dos moradores da comunidade, abalada várias vezes pelos tiroteios.

Segundo o aplicativo Onde Tem Tiroteio, no mês de setembro, o Complexo do Alemão continuou na liderança dos bairros com mais tiros ouvidos. Foram 55 ocorrências.

O que se sabe até agora

Na noite do dia 20 de setembro, uma sexta-feira, Ághata embarcou com a mãe em uma Kombi que circula pelo Complexo do Alemão, comunidade onde a família mora, e foi atingida por um tiro de fuzil nas costas. Ela chegou a ser encaminhada para o Hospital Estadual Getúlio Vargas, mas não resistiu.

A Polícia Civil recolheu o depoimento de pelo menos 20 pessoas na semana passada, entre elas os pais de Ághata, o motorista da Kombi e 11 policiais militares, oito deles da Unidade de Polícia Pacificadora Fazendinha, que estavam de plantão no momento, e outros três da UPP Nova Brasília, que auxiliaram no socorro.

Segundo o Instituto Médico Legal, a causa da morte foram lacerações no fígado, rim direito e vasos do abdômen, provocadas pelo tiro. Porém, o fragmento retirado do corpo de Ághata impossibilitou a descoberta de qual arma partiu o disparo. Isso porque os peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli não conseguiram determinar o calibre, número e direcionamento das raias do fragmento. Ainda foram periciadas sete armas, cinco fuzis e duas pistolas.

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