Um mês depois, agressores de médica serão indiciados por lesão corporal
Resumo da notícia
- PM de folga dono de carro depredado será enquadrado por prevaricação
- Polícia Civil do Rio aguarda resultado de laudo pericial para concluir inquérito
- Ticyana fraturou dois ossos do joelho e começará fisioterapia no fim do mês
- Médica, que mora em frente à casa de agressor, não vai mais deixar o bairro
Os quatro agressores da médica Ticyana Azambuja, espancada na frente de casa por frequentadores de uma festa clandestina em meio à pandemia causada pelo novo coronavírus no Grajaú, zona norte do Rio, serão indiciados por lesão corporal —dois deles por lesão grave e os outros dois, leve. Um mês após o crime, a Polícia Civil aguarda apenas o resultado do laudo pericial para concluir o inquérito.
O episódio, ocorrido na tarde de 30 de maio, foi registrado por câmeras de vigilância e por vídeos feitos por moradores. Depois de depredar um veículo estacionado irregularmente na frente da festa, que pertencia ao policial militar Luiz Eduardo dos Santos Salgueiro, Ticyana foi brutalmente agredida por quatro pessoas, segundo a investigação. Ela sofreu fratura em dois ossos do joelho esquerdo, passou por cirurgia e ainda está afastada do trabalho para se recuperar das lesões.
Rafael Martins Presta e Rafael Henrique Del Ferreira serão indiciados por lesão corporal grave. Ester Mendes Martins e Luiz Cláudio Balbino dos Santos responderão por lesão corporal leve. O policial militar Luiz Cláudio Balbino dos Santos será enquadrado por prevaricação, já que ele mesmo estando de folga é agente da lei e nada fez para impedir as agressões (leia abaixo o que fez cada um dos suspeitos).
A Polícia Civil ainda irá indiciar os 14 frequentadores da festa clandestina identificados pela investigação pelo artigo 268 do Código Penal por infração de medida sanitária preventiva em meio à pandemia.
"Falta só o laudo pericial para confirmar a lesão grave, que deve sair nas próximas semanas", disse o delegado André Luiz de Souza Neves, titular da 20ª DP (Vila Isabel).
Médica não vai se mudar e ainda lida com as dores
Após a agressão, a médica Ticyana Azambuja chegou a dizer que iria se mudar do apartamento no Grajaú porque tinha medo de sofrer algum tipo de represália dos agressores —o prédio onde ela mora fica em frente à casa de Rafael Presta. Mas ela mudou de ideia e decidiu permanecer no bairro, incentivada pelos próprios moradores.
"Outro dia, uma vizinha me escreveu dizendo que ora toda noite por mim, porque ela voltou a dormir [após o fim das festas clandestinas em meio à pandemia]. A comunidade me abraçou", disse ao UOL.
Eu estou redimensionando os meus riscos. Tomei uma decisão corajosa de ficar. Estava muito difícil lidar com a ideia de sair daqui. Seria um segundo ato de violência
Ticyana Azambuja, médica agredida
Ticyana foi submetida a uma cirurgia no joelho fraturado e só retirou o gesso na última quinta-feira (25). Ela agora convive com as dores e com as limitações para dobrar o joelho. As sessões de fisioterapia só devem começar no fim do mês. Ainda não há previsão para que ela volte a trabalhar.
Em nota, a advogada Maíra Fernandes, que representa Ticyana, agradeceu ao auxílio dos moradores, que enviaram fotos e vídeos comprovando as agressões. "Agora, nos resta aguardar o relatório da autoridade policial para que seja feita justiça."
Quem são os agressores e como deverão ser indiciados
- Rafael Martins Presta - Lesão corporal grave. Dono da casa que promovia festas clandestinas, ele foi o responsável pelas lesões mais graves. Rafael aplicou um mata-leão em Ticyana, quando ela abordava um motoboy para fugir. A vítima desmaiou e foi jogada no meio da rua. Em seguida, os vídeos mostram Rafael carregando Ticyana às costas e a atirando no chão. Na queda, ela sofreu a fratura no joelho.
- Rafael Henrique Del Ferreira - Lesão corporal grave. Após retirar o martelo de Ticyana, ele usou o objeto para agredi-la, enquanto ela era carregada por Presta. Ele também aparece no vídeo dando um soco pelas costas em Marco Antônio Guimarães Cardoso, agredido porque estava usando o celular chamar a polícia.
- Ester Mendes de Araújo - Lesão corporal leve. Ela aparece nas imagens puxando os cabelos de Ticyana enquanto ela era arrastada por Rafael Presta.
- Luiz Cláudio Balbino dos Santos - Lesão corporal leve. O vídeo mostra Luiz Cláudio agredindo a médica com um tapa no rosto, enquanto ela era carregada.
- PM Luiz Eduardo dos Santos Salgueiro - Prevaricação. O PM de folga era um dos frequentadores da festa. Era dele o carro depredado, estacionado irregularmente. Imagens mostram que ele arrastou a vítima pelo braço enquanto ela estava desmaiada. Ele acompanhou as agressões de Presta, como mostram os vídeos, mas nada fez para impedir.
- Marcus Vinicius Alamin Missena - Tentativa de lesão corporal. Ele aparece em um dos vídeos tirando a camisa e partindo para cima do defensor Marco Antônio e sendo contido.
Fotos registram as agressões sofridas pela médica Ticyana Azambuja
Relembre o caso
Ticyana usou um martelo para quebrar o retrovisor e o vidro traseiro de uma Mini Cooper Paceman de 2014 avaliada em R$ 100 mil, que pertencia ao PM de folga Luiz Eduardo e estava estacionada irregularmente na Rua Marechal Jofre, no Grajaú, zona norte do Rio, em frente à festa clandestina, que ocorria ao lado de uma unidade do Corpo de Bombeiros.
Em seguida, a médica saiu correndo e foi perseguida por Rafael Presta e Rafael Ferreira, que a alcançaram quando ela pedia ajuda a um motoboy em frente ao Hospital Italiano. Ferreira retirou o martelo dela. Presta aplicou um mata-leão na médica, que desmaiou e foi arrastada por alguns metros até o meio da rua.
Luiz Eduardo, então, apareceu e arrastou Ticyana pelo braço. Mas logo saiu de cena. Presta, então, a carregou às costas. Nesse instante, Ester a puxou pelos cabelos. Luiz Cláudio a agrediu com um tapa no rosto. Ferreira usou o martelo para agredi-la. Em seguida, Presta a atirou no chão, em frente ao carro.
Na queda, Ticyana sofreu duas fraturas no joelho esquerdo. O defensor público Marco Antônio Guimarães Cardoso, que mora na mesma rua, pegou o celular para acionar a polícia. Mas acabou sendo agredido por um soco nas costas dado por Ferreira.
Segundo testemunhas, os agressores se identificavam como policiais, inibindo qualquer tentativa de reação. As agressões foram flagradas por vídeos e fotos feitos por moradores. O UOL também teve acesso às câmeras de segurança do Hospital Italiano, que registraram o começo das agressões. Todo o material foi encaminhado para a Polícia Civil.
O que dizem os envolvidos
Procurada, a defesa de Rafael Presta e Rafael Ferreira disse que irá aguardar o relatório final da investigação. O representante de Ester Mendes de Araújo disse que ela não irá se pronunciar. A reportagem não localizou Luiz Cláudio Balbino dos Santos e Marcus Vinicius Alamin Missena.
O advogado Roger Doyle Couto Ferreira, que representa Luiz Eduardo dos Santos Salgueiro, negou que o PM tenha presenciado as agressões ou se omitido de agir —o UOL teve acesso a fotos e vídeos que mostram que o policial de folga presenciou, mas não impediu os ataques. Em vídeo publicado pelo UOL, o policial aparece arrastando a médica pelo braço após ela desmaiar ao ser contida por um golpe mata-leão.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.