Fogo em hospital: Relatório cita risco de morte de pacientes e pede reforma
Relatório encaminhado em agosto de 2019 ao Ministério da Saúde alertou para a urgência de uma reforma na subestação e geradores de energia do HFB (Hospital Federal de Bonsucesso), na zona norte do Rio, onde um incêndio na terça-feira (27) deixou três pessoas mortas. O documento —produzido a pedido da direção do HFB— citou risco de morte de pacientes, funcionários e até de pessoas em frente à unidade, caso ocorresse um acidente na subestação.
O texto ainda cita a obra como prioritária, com previsão de liberação de R$ 120 milhões do governo federal entre 2019 e 2020. O UOL revelou ontem que a DPU (Defensoria Pública da União) também encaminhou a demanda à direção do hospital em dezembro passado, relatando que os dois transformadores da unidade federal de saúde funcionavam com superaquecimento. A causa do incêndio da unidade, fechada por tempo indeterminado, está sendo investigada.
O documento alerta que o problema é emergencial e foi detectado ao longo dos últimos dez anos, agravado por uma obra contratada em 2010 e cancelada no ano seguinte após uma auditoria aberta pela CGU (Controladoria-Geral da União), por constatação de superfaturamento e outras irregularidades.
Nos anos seguintes, outros relatórios técnicos foram elaborados alertando para a urgência da modernização das instalações. Entretanto, as ações necessárias não foram colocadas em prática pela gestão do hospital.
O relatório ainda anexou trecho de uma vistoria feita pelo Proadi-SUS (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS), com a foto do transformador da subestação principal. Na imagem, é possível ver o superaquecimento de 148 graus.
Alto risco de explosão, inoperância total do sistema elétrico e risco de morte dos operadores
Trecho do relatório do Proadi-SUS
A situação se agravou em 2019, segundo o relatório.
Um eventual acidente [...] coloca em risco também a vida de inúmeras outras pessoas, desde transeuntes em edificações e áreas públicas próximas à subestação, até aos pacientes que dependem de equipamentos de manutenção de vida ligados à rede elétrica
Trecho de relatório elaborado a pedido do HFB
A causa do incêndio —que segundo informou preliminarmente o Corpo de Bombeiros teve início no subsolo do prédio 1, onde havia um estoque de fraldas— ainda não é conhecida. Contudo, em linha com o que alertava o relatório, os três pacientes que perderam a vida dependiam de aparelhos ligados à rede elétrica. Eles morreram após ou durante tentativa de transferência.
Ministério da Saúde diz ter ciência da situação da rede elétrica
O UOL entrou em contato por telefone com o Ministério da Saúde e, em seguida, encaminhou e-mail. Nele, citou os principais trechos do relatório e questionou por que a obra ainda não foi feita. A pasta se limitou a dizer que fez visitas aos hospitais "demonstrando atenção contínua à manutenção da infraestrutura de todos os estabelecimentos".
"Há projetos em andamento para realizar uma série de reformas. No ano passado, foram repassados R$ 1,8 milhão de verba suplementar para a modernização da unidade", informou. "A prioridade, no momento, é garantir o atendimento em segurança da população, uma vez que as consultas e exames laboratoriais no complexo estão temporariamente suspensos".
Em nota divulgada após o incêndio, o Ministério dá Saúde confirmou que já tinha conhecimento do problema. Mas não explicou por que as obras não foram feitas. O órgão informou ainda que a causa do incêndio está sendo investigada.
"O Hospital de Bonsucesso já tinha um diagnóstico prévio sobre a situação estrutural do complexo hospitalar, inclusive de toda a rede elétrica —o que vai facilitar a apuração dos fatos que levaram ao ocorrido", escreveu a pasta, em um trecho.
"Apesar de a unidade de saúde hospitalar ter vários projetos aprovados pelo Ministério da Saúde para realizar uma série de reformas de urgência, ainda não é possível afirmar as causas do incêndio", disse.
Família contesta atestado de óbito de paciente
A família do garçom Marcos Paulo Luiz, de 39 anos, um dos três pacientes mortos no incêndio, contesta o atestado de óbito dele, que cita morte em decorrência de pneumonia. Ele estava internado no 2º andar, no CTI.
Ele não morreu por causa de pneumonia. Disseram no hospital que foi necessário tirar os aparelhos dele pra fazer a remoção para outra unidade durante o incêndio. Mas ele acabou inalando muita fumaça, teve duas paradas cardíacas e não resistiu
Márcio Luiz, 33, irmão de Marcos
O corpo de Marcos Paulo Luiz, que deixou cinco filhos, será enterrado hoje à tarde no Cemitério Municipal de Nova Iguaçu.
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