Vídeo mostra últimos minutos de cliente no Carrefour antes de ser morto
Imagens do circuito interno de segurança do Carrefour de Porto Alegre mostram os últimos momentos de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, antes de ser morto ao ser agredido por um segurança do estabelecimento e por um policial militar temporário na noite de quinta-feira (19). Os dois estão presos.
Na gravação obtida pelo UOL, é possível ver Beto, como é conhecido, ao lado da esposa na caixa, que está passando as compras. Ele se afasta dela e fica próximo da parede do outro lado do corredor. Há um segurança perto dele.
Nas imagens, é possível ver que Beto faz um sinal com o dedo polegar - como se fosse um legalzinho - em direção à caixa. Em entrevista ao UOL ontem, a esposa dele, Milena Borges Alves, de 43 anos, disse que ele havia brincado com uma segurança, que se sentiu ofendida e chamou os colegas, que passaram a segui-lo. Nas imagens, não é possível afirmar para quem ele faz o sinal com o polegar.
Segundos após o gesto, uma funcionária do mercado se aproxima, fala com Beto e se dirige ao segurança que está próximo dele. Em seguida, ela volta até ele e outro homem se aproxima - não é possível dizer quem é o segurança e quem é o PM. Os quatro saem de cena.
A reportagem do UOL conseguiu ver o restante da gravação, mas não teve autorização para divulgá-lo. No vídeo, o cliente é visto saindo do mercado às 20h42 de quinta-feira acompanhado do segurança e do policial militar temporário. Antes de sair em direção ao estacionamento, Beto dá um soco em um deles e aí começam as agressões.
Inicialmente os dois tentam derrubá-lo, ou puxando as pernas ou dando rasteira. Beto cai com o rosto no chão.
A funcionária se aproxima deles cinco segundos depois dos três terem saído da loja, mas praticamente não intervém. A conduta dela também está sendo investigada pela polícia por ter sido omissa.
As imagens mostram que um dos homens é visivelmente mais agressivo.
Até então as imagens que circularam na internet mostram Beto sendo derrubado e atingido por vários socos. Entretanto, o vídeo ao qual UOL teve acesso mostra o antes e o depois da cena. Um minuto após as agressões, dois funcionários chegam correndo - um de paletó e outro sem. Um deles dá um chute em Beto. E nenhum tenta tirá-lo do chão.
Na gravação, de 5 minutos, o cliente é pressionado no chão por um dos homens, que está com parte da perna nas costas dele.
A esposa de Beto chega ao local às 20h44, empurrando um carrinho, que é inicialmente abandonado num canto. Naquele momento já havia sete funcionários da loja na volta do cliente.
Um homem puxa Milena pelo braço, tentando afastá-la. Segundos depois, o funcionário de paletó a empurra com a lateral do corpo. Ela fica e volta e meia se aproxima. O vídeo termina com quase dez pessoas na volta assistindo, além dos funcionários que continham Beto.
Caso provocou manifestações pelo Brasil
O episódio, ocorrido um dia antes do feriado de Consciência Negra, provocou revolta. Cerca de 2.500 mil pessoas se reuniram em um protesto no fim da tarde de ontem na zona norte de Porto Alegre. Os manifestantes se concentraram em frente ao principal acesso ao Carrefour, na avenida Plínio Brasil Milano. O estabelecimento não abriu as portas.
Após um início pacífico, um grupo de cerca de 50 pessoas tentou invadir o supermercado fechado. A Brigada Militar ocupou o interior do estabelecimento e passou a jogar bombas para afastar os manifestantes do portão, que acabou danificado. Uma pessoa conseguiu invadir o pátio e colocou fogo em alguns materiais. Após a confusão, muita gente deixou o protesto.
Em São Paulo, manifestantes invadiram a loja do Carrefour, localizada dentro de um shopping na região da avenida Paulista. Sob ordens de "não saquear", os manifestantes quebraram o portão de ferro e a fachada de vidro do supermercado, jogaram pedras e depredaram. Jogaram potes de tinta dentro da loja, mas não houve saque. Ninguém se machucou. Um princípio de incêndio rapidamente foi controlado. Pelo Twitter, alguns manifestantes relataram terem visto pessoas na região jogando ovos e garrafas de vidro em direção aos integrantes do protesto.
Na capital de Minas Gerais, Belo Horizonte, houve protestos em duas redes do supermercado, um dentro de um shopping center e outro em uma unidade do centro. Entre os manifestantes estava o cantor Djonga, que postou um stories do ato em seu Instagram.
Já no Rio de Janeiro, o protesto ocorreu em uma unidade na Barra da Tijuca, onde os manifestantes gritavam "assassinos" e "vidas negras importam". Curitiba também registrou atos no fim da tarde de ontem.
Entenda o caso
João Alberto Silveira Freitas teria discutido com a caixa do estabelecimento e foi conduzido por seguranças da loja até o estacionamento, no andar inferior. Um deles, policial militar temporário —funcionário contratado pela Brigada Militar por tempo determinado, para atividades administrativas —-, acompanhou o deslocamento, e colaborou no espancamento de Freitas.
Durante o percurso, acompanhado por uma funcionária do Carrefour, Freitas teria desferido um soco contra o PM, segundo afirmou a trabalhadora, em depoimento à polícia.
"A partir disso começou o tumulto, e os dois agrediram ele na tentativa de contê-lo. Eles (os seguranças) chegaram a subir em cima do corpo dele, colocaram perna no pescoço ou no tórax", disse o delegado plantonista Leandro Bodoia.
Os agressores foram presos, suspeitos de homicídio doloso. A cena vem sendo comparada nas redes sociais à que aconteceu com George Floyd, que morreu sufocado por policiais nos Estados Unidos.
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