'Sem cena', ouviu João Alberto enquanto gemia imobilizado por segurança
Um novo vídeo das agressões de dois seguranças do Carrefour contra João Alberto Silveira Freitas, 40, mostra que enquanto o cliente negro era imobilizado e gemia no chão, um terceiro funcionário disse para ele parar de fazer "cena". João Alberto morreu após ser espancado por dois seguranças do estabelecimento - Magno Braz Borges e o policial militar temporário Giovane Gaspar da Silva - na última quinta-feira (19), em Porto Alegre. Os dois homens estão presos.
Beto, como era conhecida a vítima, aparece gemendo no vídeo, já deitado no chão do estacionamento. Segundos depois, Silva grita para uma pessoa que está a sua volta: "ele se botou numa colega lá dentro". A esposa do cliente, Milena Borges Alves, 43, está próxima e rebate: "Não botou nada, mentira tua. Vocês tentaram me agredir também."
Um segurança, que não teve o nome revelado, aproxima-se do cliente, abaixa-se e diz: "Oh rapaz! Sem cena, tá? A gente te avisou da outra vez."
Após 28 segundos, a fiscal Adriana Alves Dutra também chega perto de Beto e começa a falar: "Calma, calma para eles poderem te soltar. A Brigada (Militar) está chegando aí." Ele diz alguma coisa, mas não é possível compreender, mas parece ser um pedido para ser solto. "Não, a gente não vai te soltar para tu bater em nós de novo", complementa Adriana.
Entenda o caso
Beto foi morto na última quinta-feira (19) no Carrefour da zona norte de Porto Alegre. Segundo a esposa dele, o casal foi ao supermercado para comprar ingredientes para um pudim de pão e adquirir verduras. Gastaram cerca de R$ 60. Ela conta que ficaram poucos minutos no Carrefour e que Beto saiu na frente em direção ao estacionamento. Ao chegar ao local, Milena se deparou com o marido se debatendo no chão. Ele chegou a pedir ajuda, mas a esposa foi impedida de chegar perto dele.
Ontem, UOL teve acesso ao vídeo que mostra as agressões no estacionamento. A gravação começa com Beto desferindo um soco no PM temporário, que é seguida por chutes, pontapés e socos do segurança e do PM temporário.
A maior parte das imagens mostra a imobilização com uso da perna flexionada do segurança sobre as costas de Beto. O uso da "técnica" pode ter se estendido por mais tempo além dos 4 minutos, já que o vídeo foi cortado. Nos Estados Unidos, George Floyd foi mantido por 7 minutos e 46 segundos com o joelho do policial sobre o pescoço dele, segundo os promotores de Minnesota. No sábado, UOL havia mostrado imagens do momento de Beto no caixa, antes de descer para o estacionamento com os seguranças.
Depoimentos de duas funcionárias do mercado obtidos pelo UOL mostram contradições nos relatos. Uma fiscal disse que nunca o tinha visto e que não entendeu por que ele estava agindo daquela maneira. Já a agente de fiscalização Adriana Alves Dutra, a mesma que aparece no vídeo do estacionamento pedindo que as imagens não fossem gravadas e que é considerada investigada pela polícia, disse que a colega relatou para ela que Beto teria tido atrito com outros funcionários em outras ocasiões.
A morte de Beto gerou protestos em Porto Alegre e em outras partes do país. Na capital gaúcha, um grupo de 50 pessoas conseguiu acessar o pátio do mercado, mas recuou após atuação da Brigada Militar. Uma pessoa conseguiu invadir e pichou a fachada do prédio. Outros colocaram fogo em materiais.
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