MP-RJ denuncia PMs que agrediram homem negro em shopping por racismo
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) denunciou hoje dois policiais militares acusados de praticarem ato de discriminação e preconceito racial contra um jovem negro no shopping Ilha Plaza, na zona norte do Rio. O caso aconteceu em agosto.
Segundo a denúncia, os policiais militares Gabriel Guimarães Sá Izaú e Diego Alves da Silva, que trabalhavam como seguranças no estabelecimento comercial, desconfiaram do entregador Matheus Fernandes, que é negro e tentava trocar um relógio no valor de R$ 300 que havia dado de presente ao pai no Dia dos Pais. Matheus foi abordado de forma truculenta.
O jovem foi obrigado a sair da loja, depois jogado no chão de uma escadaria, imobilizado e encurralado pela dupla. Segundo Matheus, ambos o acusaram de ter roubado o relógio assim que ele deixou a loja e até apontaram uma arma para seu rosto. Na ocasião, as imagens da abordagem truculenta viralizaram e geraram revolta entre internautas nas redes sociais. (Assista ao vídeo acima)
Na delegacia, os PMs alegaram que já haviam encerrado o expediente quando viram Matheus "com um boné que fazia menção a um dos antigos líderes do tráfico de drogas no Morro do Dendê". Eles também disseram que teriam notado um volume na cintura de Matheus, que parecia ser uma arma de fogo. Os dois PMs, no entanto, negaram que estivessem armados e que agrediram o jovem.
O boné citado pelos dois homens, no entanto, trazia a imagem do personagem Hulk.
Nesta quarta, a 2ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Territorial da área Ilha do Governador e Bonsucesso do Núcleo da Capital pediu que os dois PMs respondam pelo crime de racismo, previsto no artigo 20 da Lei 7.716/89 e que prevê pena de reclusão de um a três anos.
Em entrevista à GloboNews, o promotor responsável pelo caso Sauvei Lai classificou a abordagem como "desproporcional, irrazoável, só para humilhar e desrespeitar a cor da pele" da vítima.
"Eu até me questiono o que aconteceria caso não houvesse essas filmagens. Seria mais um caso de preconceito de racismo, que haveria desmentidos, o que caberia na velha fala da impunidade. Uma abordagem desproporcional, irrazoável, só para humilhar, menosprezar e desrespeitar a cor da pele de Matheus. Não é assim que a lei prevê uma abordagem legítima. Só se aborda uma pessoa quando há uma fundada suspeita. O Matheus, pelas filmagens do shopping, não estava em nenhum momento em fundadas suspeitas ou práticas de crimes", disse ele.
O UOL também tentou contato com a assessoria do Shopping Ilha Plaza, e aguarda retorno.
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