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Jovem responderá por calúnia após mentir sobre ataque racista em lanchonete

O caso tomou proporção quando mensagens com cunhos racistas foram divulgadas nas redes sociais pelo dono da lanchonete - Reprodução/Instagram
O caso tomou proporção quando mensagens com cunhos racistas foram divulgadas nas redes sociais pelo dono da lanchonete Imagem: Reprodução/Instagram

Colaboração para o UOL, em João Pessoa

14/01/2021 17h39

Um jovem está sendo apontado como o responsável por forjar uma situação na qual teria sido alvo de racismo por uma cliente da lanchonete onde trabalhava como garçom, no município de Campina Grande (PB). O caso ocorreu em dezembro e ganhou repercussão nas redes sociais. Hoje, a Polícia Civil informou que o jovem será indiciado por denunciação caluniosa. Ele iria depor na próxima semana, mas hoje foi à delegacia para saber se o inquérito poderia ser arquivado caso ele contasse a verdade.

A história começou quando o dono da lanchonete postou em uma rede social os prints de mensagens recebidas de uma suposta cliente reclamando que não gostou de ser atendida pelo atendente negro, identificado como Gabriel Akhenaton. Nas mensagens publicadas, a tal cliente diz: "Estava passando por sua lanchonete hoje e avistei um funcionário de cor escura atendendo, não me sinto bem sendo atendida por um preto".

Nos comentários da postagem feita pelo dono da lanchonete, muitos internautas questionaram a veracidade das mensagens e o horário que elas foram enviadas, por volta de 1h da madrugada. Na época, o casal proprietário do estabelecimento chegou a gravar vídeo rebatendo as acusações de que o caso em questão era armação para ganhar mídia e seguidores nas redes sociais.

A delegada responsável pelas investigações, Mairam Moura, disse que recebeu a ocorrência policial com a denúncia dos proprietários da lanchonete pela suposta injúria e racismo contra o atendente.

"Pedi as imagens do estabelecimento. A gente observa quando Gabriel vai ao banheiro com o celular nas mãos e o dono recebe as mensagens. Em seguida o jovem sai do banheiro, sem graça, olhando para o dono da lanchonete. O investigado vai até o lado de fora do estabelecimento e responde novamente", declarou a delegada explicando como se deu a troca de mensagens.

Hoje, quando a Polícia Civil desmentiu o caso e disse que Gabriel foi o autor das mensagens, a postagem da lanchonete voltou a repercutir. Segundo a delegada, o celular pelo qual as mensagens foram enviadas estava cadastrado em nome da mãe de Gabriel, que, em depoimento, disse que sequer sabia da existência do número. Com a operadora de telefonia, a delegada descobriu o modelo do aparelho celular que enviou a mensagem, e viu que era o mesmo do de Gabriel.

"Ele seria ouvido na próxima semana, e hoje ele compareceu à delegacia perguntando se o inquérito seria arquivado se ele decidisse contar a verdade. Eu disse que não. O depoimento dele seria na próxima semana. Falei para ele que o juiz poderia tomar uma decisão em relação à pena, diminuição ou deixar de aplicar, pelos benefícios da delação premiada, que cabe ao Judiciário entender se é cabível ou não", explicou a delegada.

Há duas semanas, segundo Mairan, Gabriel tentou desistir da representação da injúria racial. "Ele agora vai responder por denunciação caluniosa, pois o fato não existiu", frisou. A foto usada no perfil do número que enviou as mensagens é de uma adolescente que mora no Rio de Janeiro. Gabriel criou um perfil nas redes sociais com a foto da garota, que passou a sofrer ataques. Ele também pode responder pelo uso indevido dessa imagem.

Trecho da mensagem que foi compartilhada nas redes; polícia indica que garçom de lanchonete forjou o caso - Reprodução - Reprodução
Trecho da mensagem que foi compartilhada nas redes; polícia indica que garçom de lanchonete forjou o caso
Imagem: Reprodução

Dono da lanchonete está desapontado

Em entrevista ao UOL, o proprietário da lanchonete, Ramon Vieira, disse que ficou muito desapontado e triste com o desfecho da história. "Fico muito triste como empreendedor porque coloquei ele para trabalhar aqui e é descoberta essa farsa, essa mentira. Não compactuo com esse tipo de coisa, ele foi infeliz. Lamento pelos casos reais de racismo que existem", declarou.

Vieira disse ainda que o jovem deixou de ir ao emprego um dia após eles irem depor na delegacia. "Depois disso ele não veio mais trabalhar, recebeu os dias que eram devidos e não apareceu mais", contou.

O dono da lanchonete relatou que teve contato com a mãe da jovem que aparece no perfil criado por Gabriel, e disse que ela está sofrendo ameaças tendo em vista a repercussão do caso.

Gabriel não atendeu as ligações nem respondeu às mensagens enviadas pelo UOL.

Em seu perfil em uma rede social, ele colocou a seguinte mensagem: "Antes de mais nada, parem de atacar minha namorada, ela nunca soube de nada. 'Tão' colocando gente que não tem nada 'haver' com a história [sic]".