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Cliente discrimina garçom negro na PB e dono rebate: 'Precisa se tratar'

Fala racista foi rebatida pelo dono da lanchonete - Reprodução/Instagram
Fala racista foi rebatida pelo dono da lanchonete Imagem: Reprodução/Instagram

Colaboração para o UOL, em João Pessoa

10/12/2020 12h24

Um funcionário negro de uma lanchonete em Campina Grande (PB) foi alvo de discriminação por conta de sua cor por uma cliente que mandou mensagens para os donos do estabelecimento. O caso ganhou repercussão nas redes sociais quando a empresa decidiu tornar públicas as mensagens com falas racistas enviadas pela cliente reclamando por ter sido atendida por uma pessoa de cor negra.

No perfil da lanchonete os donos relataram que receberam a mensagem de madrugada. Era uma mulher se queixando do serviço de atendimento. "Até então, o que parecia ser uma queixa comum tornou-se um episódio horripilante de racismo contra um de nossos atendentes em treinamento", destaca a mensagem. Os responsáveis pela empresa disseram que inicialmente pensaram se tratar de uma pegadinha, mas logo perceberam que a mensagem era real.

Conforme as mensagens apresentadas pela lanchonete e pelo funcionário, quando questionada sobre qual problema teria acontecido na lanchonete, a cliente diz: "Então, fui atendida por um rapaz de pele escura hoje, com minha família. Eu acho que uma lanchonete do seu porte não deveria admitir isso. Isso é ruim, mancha a imagem da sua lanchonete, não é questão de racismo, é só que não sou obrigada a ser atendida por um negro. Foi até um rapaz educado conosco, mas a cor dele não nega, entende?".

racismo - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

A cliente continua a mensagem dizendo: "O que incomoda é a questão de ser atendida por ele mesmo, isso desrespeita meu lugar e da minha família. Acho que cada um tem que se por no devido lugar, o atendente no dele".

Em seguida, o dono da lanchonete rebate os insultos da mulher contra o funcionário e afirma "o que a minha lanchonete não aceita é cliente como você. Isso não quero. Faça um favor, nunca mais passe nem na frente". O proprietário completa: "E se uma cor de pele te incomoda, quem precisa de tratamento é a senhorita". Os donos da lanchonete registraram boletim de ocorrência na Polícia Civil.

Em entrevista ao UOL, Ramon Vieira, proprietário da lanchonete, disse que ficou perplexo com a situação e que a princípio pensou em não falar sobre as mensagens com o funcionário. "Foi muito constrangedor, pensamos em como ele receberia tudo isso. Mas eu e minha esposa decidimos fazer uma reunião com a equipe e então falamos sobre o fato. Gabriel e outras pessoas se emocionaram, foram ataques fortes. É algo que a gente vê em filme, em novela, mas nunca imagina que vai acontecer tão perto de nós", declarou.

Vieira disse ainda que espera que isso não fique impune e que não aceita, em seu estabelecimento, nenhum tipo de discriminação.

"Se isso tivesse acontecido com uma mulher, idoso, qualquer outra pessoa teríamos a mesma atitude, pois não admitimos esse tipo de tratamento", afirmou. Ele disse também que há cerca de dez dias, o mesmo funcionário que agora foi atacado pela cliente, achou no salão da lanchonete uma carteira com a quantia aproximada de R$ 1,5 mil. Ele ligou para o dono da carteira e a devolveu. Agora vemos um absurdo desse contra ele", explicou.

jovem - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Funcionário criticou o ocorrido em rede social
Imagem: Reprodução/Instagram

Já o funcionário, Gabriel Akhenaton, se posicionou em seu perfil no Instagram sobre o ocorrido.

"No primeiro momento eu não queria expor ao público, fiquei com medo. Mas percebi que a gente não pode se calar, a gente não pode deixar isso continuar acontecendo, eu estaria sendo conivente, sendo racista. A gente tem que falar, gritar, chegar nas mídias. Quantos 'Gabriels' não existem por aí que não tiveram a oportunidade que eu tive de expor o seu caso de racismo, quantos mais não podem ter sua voz ouvida?", lamentou.