Topo

Esse conteúdo é antigo

AM: Sem cilindro de oxigênio, idosa sobrevive com família bombeando ar

Antônio Pereira da Silva e Joecy Coelho da Silva (ambos sentados) estão internados por covid. Na foto, casal está com a filha Ivone Coelho - Arquivo Pessoal
Antônio Pereira da Silva e Joecy Coelho da Silva (ambos sentados) estão internados por covid. Na foto, casal está com a filha Ivone Coelho Imagem: Arquivo Pessoal

Hygino Vasconcellos

Colaboração para o UOL, em Chapecó (SC)

15/01/2021 07h43

Uma família corre contra o tempo para conseguir oxigênio para Joecy Coelho da Silva, 83 anos, internada por covid-19 desde 7 de janeiro. A idosa está no SPA (Serviço de Pronto Atendimento) da Redenção, em Manaus. Na madrugada de ontem, o oxigênio se esgotou na unidade e, sem alternativas, os cilindros foram liberados para as famílias recarregarem por conta própria. Sem conseguir encher o botijão, a família passou a noite bombeando ar manualmente.

O neto da idosa, o publicitário Luis Queiros, 32 anos, foi a três lugares diferentes e entrou em contato por telefone com outros 40 estabelecimentos. Mas não conseguiu recarregar o cilindro de 10 metros cúbicos da unidade.

"Foi uma correria maluca. Fui em uma fábrica e havia uma aglomeração imensa. A gente esperou 1h30 e disseram que só iriam atender quem já havia deixado o cilindro, das pessoas que chegaram ao local às 5h", contou.

Por isso, acabou alugando um botijão de 2 metros cúbicos de oxigênio por R$ 500, descarregado. Mas o cilindro é pequeno e o gás se esgota em menos de 1 hora. Por isso, só na quarta-feira a família recarregou três vezes - um gasto de mais R$ 450. Para passar a noite de ontem para hoje, a família decidiu se revezar na unidade para bombear manualmente o ar para a idosa, o que pode aumentar o risco de transmissão da doença para parentes.

Unidade de saúde liberou cilindros de ar para famílias recarregar. Luis Queiros colocou botijão no carro, mas não conseguiu enchê-lo - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Unidade de saúde liberou cilindros de ar para famílias recarregar. Luis Queiros colocou botijão no carro, mas não conseguiu enchê-lo
Imagem: Arquivo Pessoal

"Eu posso entrar, mas estou evitando, estou dando suporte logístico. Falei com o meu irmão agora de noite e informaram para ele que a SPA conseguiu meio cilindro de oxigênio, mas que vai ser alternado com outro paciente", disse Queiros.

A avó do publicitário estava inicialmente em outra sala da unidade e, segundo a família, das sete pessoas que estavam no local, quatro morreram ontem. Queiros fez um vídeo na frente da unidade mostrando o desespero de familiares correndo para dentro do pronto atendimento com os cilindros carregados.

Fábrica de oxigênio registra aglomeração em Manaus - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Fábrica de oxigênio registra aglomeração em Manaus
Imagem: Arquivo Pessoal

A idosa está bastante debilitada, segundo o neto. A saturação de oxigênio de Joecy chegou a 35%, enquanto o nível considerado adequado deve ficar acima de 90%. O avô do publicitário, Antônio Pereira da Silva, 81 anos, também está internado por covid-19, mas em outra unidade, do outro lado da cidade. Segundo Queiros, a situação dele é considerada menos preocupante. O idoso está hospitalizado desde terça-feira (12). "Quando ele foi internado a saturação estava entre 70% a 75%, agora varia entre 80% e 93% de saturação."

A família deve novamente retomar hoje a maratona atrás do oxigênio, sem ter certeza se vai encontrar o gás. O publicitário conta que em, média, os locais estão cobrando R$ 60 o metro cúbico de oxigênio e, por isso, para recarregar um botijão grande deve desembolsar R$ 600. "Nessa hora estamos passando o cartão, fazendo o que dá, ninguém está medindo esforços. Mas o sentimento é de incapacidade", conta Queiros.