2020 vira ano mais violento a jornalistas com Bolsonaro liderando agressões
Com o dobro de casos comparado ao ano anterior, 2020 foi o ano mais violento para jornalistas brasileiros desde quando a Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) passou a contabilizar os índices de violência contra profissionais da imprensa, no início da década de 1990.
De acordo com relatório divulgado hoje, foram registrados 428 casos de violência contra jornalistas em 2020. Em 2019, o país teve 208 ocorrências. Ou seja, o número mais do que dobrou. O principal agressor de jornalistas, segundo o levantamento, é o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Homens são 65% das vítimas da violência em decorrência do exercício da função de jornalistas. A maior parte do total de agressões foi registrada no Centro-Oeste (48,55%), seguido de Sudeste (28,26%), Sul (10,87%), Nordeste (6,88%) e Norte (5,44%).
"A explosão de casos está associada à sistemática ação do presidente da República, Jair Bolsonaro, para descredibilizar a imprensa e à ação de seus apoiadores contra veículos de comunicação social e contra os jornalistas", afirma a Fenaj no relatório.
Ainda de acordo com a entidade, a ação de tentar retirar a credibilidade da imprensa começou em 2019 e agravou-se em 2020, "quando a cobertura jornalística da pandemia provocada pelo novo coronavírus foi pretexto para dezenas de ataques do presidente e dos que o seguiram na negação da crise sanitária".
Esse tipo de ação foi a mais frequente contra jornalistas em 2020. Dos 428 casos, 152 (35,51%) foram de discursos que buscavam desqualificar a informação jornalística. Sozinho, Bolsonaro foi responsável por 145 dos casos de descredibilização da imprensa, por meio de ataques a veículos de comunicação e a profissionais.
Bolsonaro também agrediu verbalmente jornalistas em 26 oportunidades. Além disso, fez duas ameaças diretas a jornalistas e dois ataques à Fenaj, totalizando 175 casos, o que corresponde a 40,89% do total, de acordo com o relatório da entidade.
Veja a lista de principais agressores de jornalistas em 2020
- Presidente Jair Bolsonaro - 175 (40,89% do total)
- Servidores públicos - 86 (20,09%)
- Políticos - 39 (9,11%)
- Internautas - 21 (4,91%)
- Populares - 18 (4,21%)
- Juízes, procuradores ou promotores - 17 (3,97%)
- Manifestantes - 14 (3,27%)
- Policiais militares ou civis - 14 (3,27%)
- Empresários da comunicação - 7 (1,64%)
- Dirigentes de clubes ou torcedores - 7 (1,64%)
- Hackers - 6 (1,40%)
- Empresários - 5 (1,17%)
- Seguranças - 3 (0,70%)
- Jornalistas - 2 (0,47%)
- Profissionais liberais - 2 (0,47%)
- Religioso - 1 (0,23%)
- Traficante - 1 (0,23%)
- Youtuber - 1 (0,23%)
- Não identificados - 9 (2,10%)
As agressões verbais e ataques virtuais cresceram vertiginosamente no ano passado. Foram 76 casos, 56 a mais do que os 20 registrados em 2019. Na esteira das agressões verbais, jornalistas passaram a ser atacados por populares nas ruas e virtualmente, por meio de redes sociais e aplicativos de mensagens.
"Apesar do aumento significativo, é muito provável que ainda haja subnotificação dos casos, porque muitos profissionais não chegam a denunciar o ataque sofrido", aponta a Fenaj.
Também houve aumento nos casos de agressões físicas e de cerceamento à liberdade de imprensa por ações judiciais. "As agressões físicas eram a violência mais comum até 2018, mas diminuíram em 2019 e, em 2020, voltaram a crescer: foram 32 casos, 17 a mais do que as 15 ocorrências registradas no ano passado", diz a entidade.
Agressões registradas contra jornalistas em 2020
- Descredibilização da imprensa - 152 (35,51% do total)
- Censuras - 85 (19,86%)
- Agressões verbais/ataques virtuais - 76 (17,76%)
- Ameaças/intimidações - 34 (7,94%)
- Agressões físicas - 32 (7,48%)
- Cerceamento por meio de ações judiciais - 16 (3,74%)
- Impedimentos ao exercício profissional - 14 (3,27%)
- Ataques cibernéticos - 6 (1,40%)
- Violência contra organização - 6 (1,40%)
- Assassinatos - 2 (0,47%)
- Injúrias raciais - 2 (0,47%)
- Sequestros - 2 (0,47%)
- Atentado - 1 (0,23%)
Jornalistas assassinados
No ano passado, foram assassinados os jornalistas Lourenço Veras, conhecido como Léo Veras, e Edney Menezes. Em 2019, também foram dois jornalistas assassinados no país. "O registro de duas mortes de jornalistas, por dois anos seguidos, é evidência concreta de que há insegurança para o exercício da profissão no Brasil", diz a federação.
Léo Veras foi morto na cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero, que faz divisa com a brasileira Ponta Porã. Ele atuava profissionalmente nas duas cidades e, em Ponta Porã, era responsável pelo site Porã News, no qual denunciava o crime organizado na fronteira. Por isso, o caso foi registrado como ocorrência brasileira.
Já Edney Menezes foi morto em Peixoto de Azevedo, município de Mato Grosso localizado a 690 km da capital Cuiabá. Ele trabalhou na campanha pela reeleição do prefeito da cidade e havia comentado com familiares que estava sendo ameaçado.
Cultura de violência
A presidente da Fenaj, Maria José Braga, afirmou que é "com grande preocupação",que a entidade "alerta para o crescimento significativo do número de ocorrências, em relação ao ano anterior".
Esse crescimento evidencia a institucionalização do desrespeito ao princípio constitucional da liberdade de imprensa, por meio da Presidência da República, e a disseminação de uma cultura da violência para a relação cidadãos/veículos de comunicação/jornalistas.
Maria José Braga, presidente da Fenaj
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