Atiraram porque é negro e mora em comunidade, diz irmão de gari morto no RJ
A família do gari morto ontem com um tiro nas costas após sair de casa para trabalhar acredita que ele só foi baleado por ser negro e morador de comunidade.
Marcelo de Almeida da Silva, 38, morador da Vila Cruzeiro, no bairro da Penha, na zona norte do Rio, estava com o uniforme de gari dentro da mochila e saiu para o trabalho depois que o tiroteio na comunidade cessou. Ele estava de bermuda, boné e chinelo e foi atingido enquanto descia a comunidade.
"Não foi bala perdida, não. Primeiro atiram para depois ver quem é. Atiraram porque é negro, porque mora ali [em comunidade]. Pessoas assim não prestam para eles [PMs]", disse Arnaldo da Silva, irmão da vítima, ao UOL.
De acordo ainda com Arnaldo, os policiais encaminharam a vítima ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, localizado no mesmo bairro. Eles alegaram que a vítima foi encontrada em convulsão. No entanto, na unidade os parentes foram informados que Marcelo foi baleado nas costas.
"E ainda sumiram com todos os pertences dele. Abriram a mochila, viram o uniforme da Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) e sumiram com tudo: mochila, documentos, levaram até a chave do carro", relatou.
Procurada, a PM informou que houve confronto ontem na Vila Cruzeiro. Segundo a corporação, equipes da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) estavam em deslocamento para a base Merendiba quando foram atacadas por disparos de arma de fogo, o que deu início ao confronto.
"Posteriormente, a guarnição avistou um homem caído no chão ferido e em convulsão. Os policiais o socorreram ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, onde veio a óbito. No local, os policiais apreenderam 15 munições calibre 12 e uma granada de fabricação caseira", declarou a corporação.
A Delegacia de Homicídios da Polícia Civil investiga o caso.
Gari deixa dois filhos
Além da esposa, Marcelo tinha dois filhos: um homem de 20 anos e uma menina de 9. Segundo o irmão, a família está arrasada. "Tá todo mundo desolado, destruído. Tá doendo muito."
O gari trabalhava diretamente no caminhão da Comlurb. Estava na empresa havia 10 anos.
Arnaldo disse que o irmão era um bom pai, bom filho e bom marido. "Marcelo trabalhava desde os 14 anos. Ajudava a minha mãe a pagar o plano de saúde dela. Era casado, cuidadoso com a família dele", lembrou.
Em nota, a Comlurb lamentou a morte do funcionário.
"A Comlurb está dando todo o apoio à família, inclusive com a equipe de assistência social da Comlurb. A direção presta os mais sinceros sentimentos à família do estimado gari."
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