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SP: Pai é preso, e perícia tenta achar foco de incêndio que matou crianças

Perícia descartou influência de vela ou material combustível em incêndio que matou trio em residência de Poá - Polícia Civil de SP/Divulgação
Perícia descartou influência de vela ou material combustível em incêndio que matou trio em residência de Poá Imagem: Polícia Civil de SP/Divulgação

Hygino Vasconcellos

Colaboração para o UOL, em Chapecó (SC)

19/02/2021 15h24

A polícia prendeu temporariamente ontem um dos pais de três crianças que morreram em um incêndio em Poá, na Região Metropolitana de São Paulo. O fogo aconteceu na madrugada da última quarta-feira (17). Para o delegado Eliardo Jordão, responsável pela investigação, foram encontradas contradições nos depoimentos de Ricardo Reis de Faria Vieira, o que motivou a prisão dele.

Duas perícias já foram feitas na residência. Agora, os investigadores aguardam o resultado para determinar onde começou o fogo. As três crianças estavam em um quarto, que fica entre a sala e o outro cômodo onde Vieira dormia.

"Muito provavelmente o fogo começou no quarto das crianças", entende o delegado. As perícias também vão poder determinar se o incêndio foi acidental ou criminoso.

As vítimas são Fernanda Verônica, de 14 anos; Gabriel, de 9 anos; e Lorenzo Reis de Faria e Vieira, de 2 anos. Os três foram adotados entre 2014 e 2019 por Vieira e pelo companheiro dele, Leandro José Reis de Faria e Vieira. Porém, os dois se separaram há três meses e se revezavam em ficar com as crianças por uma semana. O outro pai mora na cidade vizinha de Mogi das Cruzes (SP) e não estava em Poá quando houve o incêndio.

Em depoimento, o homem preso sugeriu três possibilidades para o início das chamas: pela queda de uma vela, por ação da adolescente ou, por último, de alguém ter entrado na casa e colocado fogo. A perícia não localizou vestígios de vela ou de uso de material combustível, o que elimina a primeira e a terceira possibilidade. E o delegado não está convencido que a menina teria iniciado as chamas.

O suspeito disse que acordou com o cheiro da fumaça, mas não ouviu gritos das crianças e que tentou abrir a porta do quarto delas, sem sucesso. Ao olhar pela janela gradeada do cômodo, não as viu. Porém, uma vizinha afirmou à polícia que ouviu gritos de socorro. "Ela ouviu as crianças gritarem: 'pai, não me deixa morrer aqui'", conta o delegado.

Chamou a atenção da polícia o fato da porta do quarto das crianças estar trancada à chave — normalmente ficava aberta — e a presença do bebê, que costumava dormir em outro cômodo, junto com o pai.

Imagens de câmera de segurança mostram o pai correndo em direção à delegacia, a 200 metros de distância, para buscar socorro. Ao chegar ao local, disse que a casa estava em chamas e que os filhos estavam lá dentro — o que é considerada uma das contradições, já que antes afirmou que não tinha visto os filhos.

Ao chegar ao local, o policial arrombou a porta e encontrou as crianças mortas. Em depoimento, o servidor disse que não viu sinais de tentativa de abertura da porta.

Seguro de vida de R$ 200 mil

Durante depoimento à polícia, Vieira afirmou que tinha um seguro de vida no valor de R$ 200 mil, mas a polícia ainda não sabe quem seria os beneficiários. O delegado já oficializou pedido de informações para a seguradora e aguarda retorno.

Até o momento, pelo menos dez testemunhas já foram ouvidas — incluindo Vieira. "Ele negou e, em alguns momentos, chorava", disse o delegado. Na próxima semana, outras pessoas devem ser chamadas, inclusive o outro pai.

"Ele foi ouvido no mesmo dia, estava muito debilitado emocionalmente, fomos muito cautelosos e, por isso, vamos chamar novamente. É um trabalho que exige cautela e paciência", acrescentou.

Antes de se separar, o casal planejava morar na França e chegou a vender o buffet de festas para a mudança. Porém, com a pandemia, a ideia acabou não saindo do papel. Sem lugar para morar, a família acabou se mudando para a residência do pai de Ricardo. "Foi aí que o relacionamento começou a azedar. E o Leandro passou a ter relacionamento com um ex do Ricardo e eles terminaram", detalha o delegado.

Segundo Jordão, a cidade de pouco mais de 118 mil habitantes está em choque com a morte das crianças. "Eles eram muito quistos por aqui e todo mundo os conhecia. As crianças eram exemplos de educação", ainda segundo o delegado.