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Pastor que quebrou oferendas 'em nome de Jesus' é indiciado no Rio

Tatiana Campbell

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

24/02/2021 21h55

A Polícia Civil indiciou o pastor evangélico Gledson Lima pelo crime de intolerância religiosa. No início desse mês, ele apareceu em um vídeo que circulou pelas redes sociais quebrando oferendas religiosas do Candomblé. O caso aconteceu em Belford Roxo, na Baixada Fluminense.

Após o vandalismo, o babalorixá Natan de Oxaguiã, do terreiro Ilê Àsé Babá Min Okan Fun Fun, registrou o caso na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância. Segundo a Polícia Civil, ao ver o pastor quebrar alguidares — peça utilizada em rituais e trabalhos religiosos —, garrafas e ofender a religião, os agentes concluíram que o fato foi motivado por intolerância.

No vídeo, é possível ver que o homem usa uma pedra para quebrar as peças sagradas e diz frases como "quebrando em nome de Jesus", "quebra de maldição", "assim como essa pedra está quebrando, assim é a palavra de Deus".

Gledson Lima termina chamando pessoas para o culto de sua igreja: "Receba a tua vitória, venha amanhã para o nosso culto, venha receber sua benção, sua vitória, em nome de Jesus."

Para realizar as investigações, a delegada titular da especializada, Márcia Noeli Barreto, apreendeu vídeos para analisar as imagens, realizou perícia e colheu depoimentos tanto do autor do crime quanto da vítima.

O material religioso destruído pelo pastor havia sido posto na manhã do dia 7 em uma área descampada, no alto de uma colina. O UOL tenta contato com Gledson.

O babalorixá Natã de Oxaguiã disse que muitos ainda não entendem e não respeitam a religião. "Somos perseguidos o tempo todo. É um sentimento de impotência e medo. Isso é tão normal. Os alimentos nos alguidares são sagrados, são agradecimentos à ancestralidade", explicou.

Outros casos foram registrados

De acordo com dados do ISP (Instituto de Segurança Pública), 1.355 registros de ocorrência de crimes que podem estar relacionados à intolerância religiosa foram contabilizados apenas em 2020. De acordo com os dados, o número equivale a mais de três casos por dia em todo o estado.

Devido a estes casos recorrentes, a Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro) aprovou o projeto de lei que institui o Programa de Assistência às Vítimas de Intolerância Religiosa no Estado do Rio.

O programa, de autoria do deputado Átila Nunes (MDB), tem como finalidade a segurança do templo ou ambiente sócio-cultural-religioso que esteja sendo ameaçado; a integridade física das vítimas, seus familiares e adeptos que estejam vulneráveis, através da inclusão em programa de proteção à vítima e testemunha; a moradia às vítimas, seus familiares e adeptos que perderam suas residências ou que estejam em estado de perigo em virtude da intolerância religiosa, através de inclusão no sistema de aluguel social.

O texto seguirá para o governador em exercício, Cláudio Castro (PSC), que tem até 15 dias úteis para sancioná-lo ou vetá-lo.