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Mulher diz estar abalada após briga na BA; resort cita 'incidente pontual'

Alexandre Santos

Colaboração para o UOL, em Salvador

01/03/2021 20h09

"Eu levei dois socos no rosto e no olho, tapas, empurrões, bebi muita água da piscina. Não estou conseguindo enxergar direito, estou com muita dor no corpo, na minha mandíbula". O desabafo é da psicóloga Valentina Baldino, 30, uma das quatro pessoas que acusam um empresário do Distrito Federal de agredi-los a socos durante uma discussão no hotel Vila Galé Marés, no município de Camaçari (a 50 km de Salvador).

O caso ocorreu na tarde de sábado (27), por volta das 16h30, na piscina do resort de luxo, situado à beira-mar da praia de Guarajuba. O hotel afirmou hoje que o caso foi "pontual".

No boletim de ocorrência, o homem apontado como autor do ataque, Leonardo Bruno de Oliveira Freitas, 29, refere-se ao episódio como uma "briga generalizada", na qual sua cunhada teria sido vítima. A reportagem não conseguiu localizá-lo até a publicação desta reportagem.

Em entrevista ao UOL, Valentina conta estar muito abalada com as agressões que sofreu. Em vez de boas lembranças, ela lamenta ter que voltar para Florianópolis (SC), sua terra natal, com cicatrizes e machucados pelo corpo. Sobretudo por ver frustradas as primeiras férias que planejou com o namorado, o corretor de imóveis Augusto Amorim, 29.

"A gente só queria descansar um pouco", afirma ela, ao sustentar que o empresário partiu para a violência depois de usar o filho de 4 anos para provocar o grupo. Segundo a psicóloga, o menino brincava com uma "boia gigante" e, vez ou outra, esbarrava no casal. Uma mulher, que seria avó da criança, não teria gostado da queixa e começou a insultar a psicóloga.

"A gente pediu, com toda a educação, que ele fosse para outro canto da piscina, a piscina era gigantesca. Mas ele continuava a jogar água para todo lado", relata Valentina. Entre os impropérios proferidos pela mulher, a psicóloga diz ter ouvido que "seria uma péssima mãe" porque "não gosta de criança". "Eu me senti invadida, constrangida com a fala dessa mulher."

Em um primeiro momento, Valentina achou que a mulher havia se acalmado — não foi o que aconteceu. "Ela voltou ao grupo em que estava, havia umas cinco pessoas. Para mim, aquilo já tinha acabado. Mas eles seguiam nos provocando, e a gente começou a ignorar. Eles empurravam a boia de propósito na nossa direção. Depois, não sei o que aconteceu, foi tudo muito rápido, eu escutei alguém gritando: 'bate neles, bate neles. São eles que não gostam de criança'", relembra a psicóloga.

Valentina diz que, apesar das regras do hotel quanto à proibição de música alta e protocolos contra a covid-19, o agressor e os familiares faziam "algazarra" sem qualquer intervenção da administração. "Eram pessoas que estavam claramente alcoolizadas, embriagadas, falando próximos aos nossos rostos. Quanto mais a gente pedia distância, mais eles se aproximavam", descreve.

Valentina conta que, depois do episódio das agressões, ela e o namorado cogitaram trocar de hotel. Mas acabaram desistindo em razão das medidas restritivas em vigor na Bahia. O casal retornou na manhã de hoje para a capital catarinense. Agora, os dois esperam orientação dos advogados para adoção de providências, já que, para eles, tanto o hotel Vila Galé quanto a polícia baiana foram negligentes.

"A gente não conseguiu apoio das autoridades locais, muito menos do hotel. As pessoas não foram expulsas do hotel, o agressor continuou no resort, não foi preso. Ontem, eles passaram o dia inteiro se deliciando na piscina, com bebidas alcoólicas novamente", lamentou a psicóloga. Também alvos das agressões, o bancário Bruno Figlioli, 31, e o médico Renato Hideki, 32, disseram que, embora a estadia deles encerre na quarta-feira (3), tentarão antecipar para amanhã a ida para outro destino.

"O hotel ontem deixou um gerente de plantão à disposição da gente que foi muito atencioso conosco. De forma geral, ele nos prestou alguma assistência aqui. Trocamos de quarto, ofereceram serviço de praia para a gente não ficar indo até o bar, para evitar contato com o agressor, mesmo que seja só visual. Mas hoje a gente foi chamado pra conversar com o gerente-geral e a postura do hotel, pelo que eu pude notar, é assim: 'Se virem, a gente fez o que a gente pôde. A gente prestou a assistência que estava ao nosso alcance no momento do fato'", disse Bruno.

"Incidente pontual"

Procurada pelo UOL, a assessoria do hotel Vila Galé voltou a afirmar que não compactua com qualquer ato de violência. Disse, no entanto, que o caso foi "um incidente pontual".

"Em relação a este incidente lamentável e absolutamente pontual, nossas chefias e seguranças foram até o local e a polícia foi chamada. Em seguida, foi disponibilizado um carro para que os envolvidos fossem levados à Unidade de Pronto Atendimento mais próxima, rapidamente", diz em nota enviada à reportagem.

"A Vila Galé repudia e não compactua com qualquer ato de violência. Todas as medidas cabíveis foram tomadas e informamos, ainda, que já estão em curso medidas adicionais de segurança no hotel", prossegue o texto.

Questionada sobre o andamento da investigação, a assessoria da Polícia Civil informou ao UOL que a 33ª DT (Delegacia Territorial) de Monte Gordo, em Camaçari, apura o caso.

Errata: este conteúdo foi atualizado
A versão inicial citava que o casal voltou para a capital capixaba. Porém, eles moram em Florianópolis, na capital catarinense. A informação foi corrigida.