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Grupo protesta contra Doria e fase vermelha do Plano SP pelo 2º dia seguido

08.03.21 - Grupo protesta contra o governador João Doria (PSDB-SP) e as medidas da fase vermelha em frente ao Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo - Lucas Borges Teixeira/UOL
08.03.21 - Grupo protesta contra o governador João Doria (PSDB-SP) e as medidas da fase vermelha em frente ao Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo Imagem: Lucas Borges Teixeira/UOL

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

08/03/2021 18h07Atualizada em 08/03/2021 18h34

Com bandeiras do Brasil, um modelo do Pixuleco escrito "ditador" e um cartaz com uma simulação de Adolf Hitler, um grupo de comerciantes fez um novo protesto hoje contra o governador João Doria (PSDB) e a decisão de colocar todo o estado na fase vermelha, a mais restritiva do Plano São Paulo.

Este é o segundo dia seguido de manifestações contra o governador. Na tarde de ontem, um grupo foi até a frente da casa de Doria no Jardim Europa, zona oeste da capital. Dessa vez, cerca de 50 pessoas —muitas delas sem máscara— se reuniram na Avenida Morumbi, na zona sul, perto do Palácio dos Bandeirantes, por volta das 14h30.

Pouco antes, em coletiva no mesmo Palácio dos Bandeirantes, o governador ligou manifestantes que se postaram em frente à sua casa no domingo ao "gabinete do ódio" e ao presidente Bolsonaro.

"Todos que se posicionam contra Jair Bolsonaro [sem partido] são alvo dessas milícias digitais", declarou o governador paulista. "Não tenho medo de agressões, ameaças, fake news e daqueles que tentaram impor a mim o medo para recuar nas atitudes em defesa da vida."

"Doria comunista"

Entre os presentes havia comerciantes, donos de autoescolas, opositores do governador e até um motorista de van escolar, que contou que, embora as escolas particulares estejam liberadas para abrir, a que ele trabalha fechou. Eles cobravam a reabertura do comércio e chamavam o governador tucano de "comunista".

"São Paulo está falida! Se ele quer nos deixar em casa, que pague nossas contas! Agora coloca a Polícia Militar para acompanhar [o protesto] enquanto a Cracolândia está sendo protegida? Isso é reflexo do medo do Agripino [sobrenome do meio de Doria]", bradava um dos manifestantes, ao microfone.

Muitos dos manifestantes não usavam máscaras - Lucas Borges Teixeira/UOL - Lucas Borges Teixeira/UOL
Muitos dos manifestantes não usavam máscaras
Imagem: Lucas Borges Teixeira/UOL

Os protestos se dão no pior momento da pandemia do estado, com 80% dos leitos de UTIs (unidades de terapia intensiva) ocupadas, um recorde de internações, e pelo menos três regiões à beira do colapso.

Entre gritos de "A minha bandeira nunca será vermelha", que o próprio Doria já gritou durante a campanha presidencial de 2018, quando apoiou Jair Bolsonaro (sem partido), e pedidos de impeachment do governador, a principal acusação é que ele queria ver o comércio falir por ser "comunista".

"Aonde chegamos? Se ele está com medo do Bolsonaro, que vá enfrentar ele em Brasília. Mas se quiser enfrentar os comerciantes, vai perder! Prejudicar o pequeno empreendedor —se isso não é comunismo, é o quê?", questionou outro protestante ao microfone.

Como em muitos protestos no Brasil, havia diversas alegorias do governador. Um levava um Pixuleco de miniatura do governador ao passo que outros dois seguravam uma faixa que Doria se fantasiava de Hitler —embora a base usada não fosse nem do ditador de extrema-direita, mas o cartaz da comédia "O Grande Ditador", em que Charles Chaplin imita o austríaco.

"Queremos trabalhar"

A comerciante Margarete Gomes disse não fazer parte de nenhum grupo político. Ela ficou sabendo da manifestação por meio das redes sociais e decidiu pedir a reabertura do seu negócio.

"Eu fiquei 4 meses parada no ano passado. Não tenho como voltar a fechar, estou cheia de dívidas", afirmou a comerciante. "[A fase vermelha] só é ruim para os pequenos. Os supermercados estão lá, abertos, vendendo um monte de coisa que não é essencial."

Geraldo Augusto, dono de uma loja de móveis, disse que a proposta é que os empreendimentos continuem a funcionar, mas com restrição de circulação. "Coloca máximo de três, quatro clientes por vez. Assim, a gente tem segurança e não morremos de fome", afirmou.

Apesar de o grupo aparentemente não homogêneo se dizer apartidário, o apoio ao presidente era nítido e estampado em algumas camisetas. Muitos deles não usavam máscara e alguns vestiam trajes com utensílios militares e bandeiras do Brasil - indumentárias comuns em protestos bolsonaristas.

08.03.21 - Grupo protesta contra o governador João Doria (PSDB-SP) e as medidas da fase vermelha em frente ao Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo - Lucas Borges Teixeira/UOL - Lucas Borges Teixeira/UOL
Entre os protestantes, bonecos e cartazes com o rosto de Doria
Imagem: Lucas Borges Teixeira/UOL

Após a publicação da reportagem, a Secretaria de Comunicação enviou nota ao UOL afirmando que "trata-se de mais um ato político promovido pelo gabinete do ódio, ligado ao presidente Jair Bolsonaro, em que os seus seguidores revelam desprezo pela vida e adoração pela morte".

"Usam, inclusive, transmissões via redes sociais em canais abertamente bolsonaristas. Não se trata de uma ilação, e sim de uma constatação", diz o texto, semelhante ao posicionamento do governador e à nota enviada à redação no domingo.