SP atinge 80% de ocupação de UTI pela 1ª vez; governo teme colapso
O estado de São Paulo atingiu pela primeira vez a marca de 80% da ocupação de UTIs (unidades de tratamento intensivo) voltadas à covid-19. De acordo com dados da plataforma Seade, usada pela Secretaria Estadual da Saúde, todo o estado tem ocupação de 80,05% e três regiões já passam dos 90%. Entre os leitos de enfermaria, a taxa é de 63,4%.
A possibilidade de um colapso nas próximas semanas é algo que já é debatido e externado no Palácio dos Bandeirantes. Para tentar reverter a situação, o governo colocou todo o estado na fase vermelha, a mais restritiva do Plano São Paulo, em que todos os serviços não essenciais são fechados. A medida vale até 19 de março, com possibilidade de prorrogação.
Como em outras regiões do Brasil, o estado vem registrando uma explosão de internações. De acordo com dados da Secretaria Estadual da Saúde, na última semana foram internadas, em média, mais de 2.000 pessoas por dia, entre enfermaria e UTI, nas redes pública e privada.
Esta é a primeira vez que o índice no estado ultrapassa 80%, com crescimento progressivo nas semanas pós-Carnaval. Ao longo da última semana, os números bateram recordes seguidos. O governo diz que, hoje, mais de 8.400 pessoas estão em unidades de tratamento intensivo.
No interior, três regiões já passam 90% e estão praticamente colapsadas: Araraquara (93,9%), Bauru (96%) e Presidente Prudente (94%).
O clima no Palácio dos Bandeirantes mudou nas últimas semanas com medo da superlotação do sistema. Para segurar o crescimento, o governo João Doria (PSDB) tem apertado as restrições, cobrado os prefeitos e aumentado o número de leitos, mas o cálculo é que, se a circulação do vírus não diminuir, não será possível evitar o pior.
Nesta semana, a capital do estado, que tem 77% de ocupação das UTIs, segundo boletim divulgado hoje pela Prefeitura, ainda não registrava filas por leitos de UTI, mas os profissionais de saúde narram exaustão e desânimo.
Estamos em guerra. Diferente das guerras que costumamos ver nos filmes, que nossas gerações não viveram, que temos mortos nas ruas, temos isso nos hospitais. Essa realidade é vista por quem está na linha de frente, esperando para saber o que fazer na sua escolha de quem vai viver ou morrer, naqueles parentes do lado de fora, que choram aguardando notícias e muitos têm a triste notícia da perda de familiares.
Jean Gorinchteyn, secretário estadual da Saúde de São Paulo
Fase vermelha e possibilidade de medidas mais duras
Neste sábado (6), o estado entrou no período de duas semanas na fase vermelha para tentar conter os avanços. Médicos e especialistas questionam se essas medidas não deveriam ter sido tomadas antes, mas o governo argumenta que tem seguido as diretrizes do Plano SP.
O cenário se agravou tanto que Doria mudou seu posicionamento e passou a falar, na última semana, que não descarta o lockdown, algo até então não era cogitado pelo governo paulista.
"Estamos, de fato, na pior semana de todas as semanas da pandemia de covid-19, e isso precisa ser levado em conta. Não se descarta nenhuma medida, desde que elas sejam embasadas pela ciência e pela saúde", declarou o governador em um evento de vacinação na última terça (2).
Patrícia Ellen, secretária de Desenvolvimento Econômico de São Paulo, insiste que a população precisa respeitar as diretrizes da fase vermelha, que fecha os serviços não essenciais, com o chamado "toque de restrição" a partir das 20h, e culpa o governo federal pelo crescimento generalizado dos números.
"Muita coisa poderia ter sido evitada sem o negacionismo e a falta de coordenação [por parte do governo federal]. Infelizmente, nós chegamos a essa situação muito dura. Eu nunca imaginei que fossemos passar por isso", disse a secretária ao UOL. "O mais importante, agora, é aplicar e respeitar as medidas."
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