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Guarda armado assusta pacientes em briga por máscara em Praia Grande (SP)

Maurício Businari

Colaboração para o UOL, em Santos

15/03/2021 13h12

A noite de sábado (13) foi tumultuada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Jardim Quietude, em Praia Grande, litoral de São Paulo. Um guarda civil municipal fardado, que aguardava atendimento junto a dezenas de munícipes no saguão de espera lotado da unidade, se irritou ao exigirem que ele colocasse de forma correta a máscara facial de proteção contra a covid-19. Ele estava com a máscara no queixo.

Ao ser questionado por seu comportamento, o guarda passou a agredir e ameaçar pacientes com uma arma, obrigando enfermeiros a criarem barricadas para proteger as pessoas.

A estudante Jaqueline Bispo dos Santos, de 19 anos, estava com a mãe, que aguardava atendimento, na unidade de saúde quando o guarda chegou, acompanhado de outros dois colegas, também fardados. "Escutei eles conversando, parece que o cara com a máscara no queixo estava com pressão alta. Ele já chegou de cara feia", conta a jovem.

Num dado momento, incomodados com a postura do guarda, os munícipes que esperavam por atendimento começaram a criticar e pedir para que ele colocasse a máscara apropriadamente. Mas o servidor não parecia disposto a ouvi-los. Uma paciente, que estava na fila, pedia que ele desse o exemplo aos demais, mas foi respondida com xingamentos. Ela insistiu, até que foi agredida pelo guarda.

"A moça caiu no chão, foi horrível. Os funcionários correram para socorrer e aí teve gente que se levantou e começou a gritar para ele parar com aquilo, para ele sair", conta Jaqueline. "Eu já estava falando para minha mãe para a gente ir embora, quando ele saiu mesmo. Ficou lá na calçada com os colegas. Mas não durou muito tempo."

Minutos depois, o guarda municipal, já completamente fora de si, invadiu o saguão da unidade com a arma em punho e gritando que iria resolver a situação do jeito dele. "Daí todo mundo começou a correr e gritar. Sorte que eu e a minha mãe conseguimos sair correndo. Mas teve gente que ficou presa lá dentro".

Aterrorizados, os enfermeiros e a equipe técnica da unidade formaram barricadas para proteger os pacientes que aguardavam dentro das salas de atendimento. Móveis foram usados para bloquear portas. Algumas pessoas, desesperadas, acabaram espremendo-se por pequenas janelas no ambulatório e nos consultórios para escapar, resultando em avarias. Equipamentos também foram danificados por conta do terror que tomou conta dos pacientes.

O UOL encaminhou uma série de questionamentos à prefeita de Praia Grande, Raquel Chini, mas não obteve resposta. Por meio de nota, a prefeitura do município limitou-se a informar que "a Guarda Civil Municipal está acompanhando o caso e prestando toda assistência e atendimento psicológico necessário ao GCM. Válido destacar que um processo administrativo será instaurado para apuração oficial do ocorrido. A Secretaria de Saúde Pública de Praia Grande explica ainda que após o ocorrido, a paciente foi acolhida pela equipe da unidade. Na sequência, passou por atendimento médico e foi liberada".

"Não lembro do que fiz no UPA"

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Municipais da Estância Balneária de Praia Grande, Adriano Lopes, o Pixoxó, confirmou ao UOL que o guarda municipal esteve presente à UPA do Jardim Quietude por conta de um pico hipertensivo e informou que o servidor está sendo acompanhado de perto, tendo sido encaminhado a um médico do trabalho. Já a corregedoria da Guarda Civil Municipal (GCM) da cidade estaria instaurando inquérito administrativo para apurar o ocorrido.

O guarda municipal teria ainda enviado a Pixoxó, no dia seguinte à ocorrência, uma mensagem se desculpando: "Desculpe, meu amigo, a confusão que eu causei, não lembro do que eu fiz no UPA! Tenho até vergonha de ver as matérias!".

"Os guardas estão no limite, trabalhando já em completo esgotamento", afirmou o sindicalista. "O guarda que se envolveu nessa confusão tem 21 anos de GCM. Uma pessoa super educada, gentil. Isso aí foi uma fatalidade", acrescentou, pontuando que todo guarda municipal passa por uma série de exames, entre eles o psicotécnico aplicado por psicólogos credenciados junto à Polícia Federal.

O comando da GCM de Praia Grande e a Associação dos Guardas Civis Municipais da Baixada Santista também foram procurados, mas até a publicação da reportagem, não tinham retornado as mensagens.

O crime de ameaça é previsto no artigo 147 do Código Penal e consiste no ato de ameaçar alguém, por palavras, gestos ou outros meios, de lhe causar mal injusto e grave e, como punição, a lei determina detenção de um a seis meses ou multa.