"Essa doença não existe": turistas evitam máscara em feriado de praia cheia
Apesar de o ponto facultativo ter sido cancelado pelo governo do estado, o Carnaval atraiu milhares de turistas às praias de Santos neste domingo, mesmo em meio à pandemia. As máscaras, acessórios obrigatórios por lei, mais uma vez foram deixadas de lado por grande parte dos banhistas, que se aglomeravam sob os guarda-sóis e as tradicionais barracas de grêmios e associações, montados na faixa de areia seca.
Depois de uma sexta e um sábado chuvosos, os turistas pareciam querer aproveitar ao máximo o sol forte que despontou ao nascer do dia. Considerado cedo para os padrões do litoral paulista, por volta das 9h, os ambulantes de alimentos e bebidas, que fornecem guarda-sóis e cadeiras, disputavam entre si os clientes que chegavam aos montes.
Submetidos a uma sensação térmica de 36 graus, os banhistas escolhiam permanecer junto aos carrinhos que comercializam sucos e batidas, que acabavam levando vantagem sobre os que vendem alimentos, como pastéis.
Se a gente não aproveita agora, corre o risco de ficar sem nada. Desde que o governo cortou o auxílio emergencial, o movimento caiu demais. Parece que não, mas esse dinheiro estava ajudando o comércio a sobreviver. Mas não durou muito"
Osmar Siqueira de Oliveira, 27 anos, há 10 trabalhando nas praias com a esposa, Letícia Bezerra, 29.
Se, na faixa de areia, os ambulantes disputavam os turistas no grito, nos quiosques isso não era necessário. O difícil era manter o isolamento e garantir a utilização de apenas 40% das mesas. Uma das razões era a quantidade de idosos aposentados ocupando as mesas e banquinhos reservados para clientes. A aglomeração tinha uma razão: o tradicional jogo de dominó aos domingos.
"Só sobrou pra gente isso. Jogar dominó ou cartas com os amigos aqui na praia", comentou o servidor aposentado José Dimas de Souza, 78 anos. Em pé, ao lado de três amigos "das antigas", ele vibrava, sem máscara, a cada reviravolta do jogo de dominó disputado na mesa por colegas de jogo. Esses, sim, usando máscaras.
"Se eu tivesse medo de pegar essa doença não estaria aqui, não é, meu filho?", respondeu o contador aposentado Paulo Rocha, 85 anos, ao ser indagado se não tinha receio de estar sem máscara na praia. "E também essa semana que entra vou tomar a vacina. Então mesmo se eu estiver doente, vai passar tudo", acredita.
Essa doença aí não existe, é uma mentira criada pelo governador e pelos chineses para tirar a liberdade da gente. Meu médico já tinha me falado que isso aí era uma gripe fraquinha, que se tomar o kit covid do Bolsonaro, o vírus morre na hora. Então não estou nem aí"
João Carlos de Andrade, 75 anos, advogado aposentado e sem proteção, aos risos
Restrições, mas regras não cumpridas
Por estar na fase amarela do Plano São Paulo, a cidade de Santos liberou o acesso às praias com algumas condições. Como a proibição do uso de guarda-sóis, esteiras, tendas e barracas por banhistas. Quanto aos esportes, somente receberam permissão as práticas esportivas individuais, com uso da máscara facial. Para os carrinhos de alimentação da faixa de areia, o limite é de dez guarda-sóis para cada um com duas cadeiras cada, atendendo por até 12 horas diárias.
O que se viu, porém, foi o total descumprimento das regras. Nem tanto por parte dos comerciantes dos carrinhos, que pareciam estar seguindo à risca as recomendações da prefeitura. Fita de isolamento à volta do carrinho, para evitar aglomerações, duas cadeiras sob cada guarda-sol, uso de máscaras no atendimento aos clientes.
"Porém, veja só como o pessoal abusa. A gente pede, mas não tem jeito", afirmou a atendente de um carrinho na praia do Embaré, apontando para a aglomeração de várias pessoas sob um único guarda-sol.
Turista exige o direito de respirar
Moradora de Barretos, no interior paulista, Selma Gonçalves trabalha todos os dias como recepcionista em um consultório médico. Ela já estava se programando há alguns meses para vir passar os dias de folia no litoral com os dois filhos pequenos. Acabou presenteada pelo patrão com uma semana inteira de folga, mesmo sem o feriado.
"Era a chance que eu tinha para descansar. E tirar meus filhos um pouco de dentro de casa, para tomar um sol, respirar um ar puro. Aliás, essa coisa de usar máscara não deveria ser obrigatório, ainda mais ao ar livre. A gente tinha que ter o direito de respirar. A minha e as das crianças estão aqui na bolsa", revelou, apontando com o dedo para uma bolsa de palha, colocada sobre uma esteira. "Se precisar, a gente coloca".
Recém-chegados de Israel, o casal David e Ayla Amiel estão hospedados desde quinta-feira em um hotel de luxo, no bairro do Gonzaga, com o filho de apenas 8 meses. Ao avistarem pela janela do quarto o sol logo no início da manhã, correram para a praia, para aproveitar ao máximo a parada no litoral paulista, uma parte do roteiro nesta segunda vinda da família ao Brasil. E sem máscaras.
"Aqui é uma delícia, tem muito sol, muita praia, muita liberdade ao redor", comentou Davi, 34 anos, que trabalha com comércio de roupas na cidade de Haifa. "No nosso país, a gente fica sendo vigiado o tempo todo. Se um policial te para na rua e você está sem máscara, a coisa não é boa, fica séria, não é como aqui. A gente ama o Brasil."
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