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Igreja é interditada por culto com aglomeração e fiéis sem máscara em SP

Maurício Businari

Colaboração para o UOL, em Santos

22/03/2021 14h50

A sede da Igreja Pentecostal União Cristã, a Ipuc, em Peruíbe, litoral de São Paulo, foi interditada na noite de sábado (20) durante um culto que reunia cerca de 50 pessoas, muitas com máscaras no queixo e outras sem qualquer tipo de proteção, em um espaço de cerca de 40 metros quadrados.

A cena foi registrada em uma live postada nas redes sociais pelo apóstolo Luiz Augusto Ferraz, dirigente da Ipuc. A interdição resultou em um protesto com novas aglomerações de fiéis na manhã de hoje, em frente à Prefeitura de Praia Grande, onde fica a matriz da igreja. Ferraz chegou a questionar que, se o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), é visto sem máscara, eles também poderiam fazer o mesmo.

"Já havíamos recebido denúncias dias antes a respeito dessa igreja, que funciona no bairro Jardim Brasil", contou ao UOL Christian Rodrigues, diretor do Departamento Municipal de Fiscalização de Posturas. "No sábado, montamos uma força-tarefa com equipes da GCM (Guarda Civil Municipal), Polícia Militar e Vigilância Sanitária e partimos para o local".

Ao chegarem à sede da igreja, os agentes encontraram os fiéis aglomerados, em pleno culto, sob o comando do apóstolo Luiz Augusto Ferraz. "Era muita gente apinhada em um espaço tão pequeno. Foi impressionante. A pedido do pastor, aguardamos o final do culto e depois multamos e interditamos a igreja. Segundo o decreto estadual que versa sobre a Fase Emergencial, os cultos deveriam ter sido suspensos".

Rodrigues conta que os fiéis se revoltaram com a interdição e que o próprio dirigente da Ipuc, o apóstolo Ferraz, justificou a atitude de manter a aglomeração com uma indagação que o deixou surpreso: "Se o presidente Jair Bolsonaro não usa máscara, por que a gente tem que usar?".

A igreja foi multada por aglomeração durante a Fase Emergencial do Plano SP e também por estar realizando evento religioso sem a devida permissão dos órgãos públicos. As multas, somadas, chegam a R$ 5.950,00. Ao assinar a intimação, o pastor reclamou do decreto estadual. "Tem que pensar bem antes de colocar uma lei, um decreto para fechar tudo... Ninguém pode sair na rua... Eles querem matar o povo psicologicamente? Nós vamos entrar com uma liminar para abrir a igreja novamente".

Christian Rodrigues, que também é evangélico, afirmou que é a primeira vez que a força-tarefa se vê obrigada a fechar uma igreja na cidade. E disse que usou de seu conhecimento bíblico para explicar ao apóstolo Ferraz sobre a importância de impedir aglomerações neste momento.

"Eu queria deixar muito claro para ele que não se trata de perseguição religiosa. Eu mesmo sou batista, mas nossa congregação está de portas fechadas desde março do ano passado. Respeitar e zelar pelo próximo, para nós, é mais importante que realizar cultos e cobrar dízimos. Não toleramos discurso negacionista. Essa doença (covid-19) não é brincadeira, a saúde da cidade está entrando em colapso", afirmou ele.

Protesto e aglomeração em Praia Grande

A proibição de realizar cultos durante a Fase Emergencial do Plano SP e a consequente interdição de templos, como a sede da União Cristã, em Peruíbe, levou líderes religiosos e fiéis a protestarem em frente à Prefeitura de Praia Grande, onde fica localizada a matriz da Ipuc. Hoje, dezenas de evangélicos chegaram a bloquear a Avenida Presidente Kennedy para reclamar contra a proibição dos cultos presenciais.

Com o apoio da Frente Evangélica dos Pastores de Praia Grande, os fiéis exibiam faixas pedindo o retorno consciente dos cultos nas igrejas e a abertura do comércio, alguns sem máscara

"Estamos na luta. A gente, que está na presença de Deus, tem outra visão do que está acontecendo", afirmou o apóstolo Ferraz, da Ipuc, que esteve presente hoje ao protesto e gravou tudo em live postada nas redes sociais.

"É covardia, é crime, fecharem as igrejas, tirarem o nosso direito de ir e vir. Lá em Peruíbe, mandaram oito viaturas para lacrar nossa igreja. Isso não está de acordo com o artigo 5º da Constituição Brasileira", disse ele, durante a live.

Por meio de nota, a prefeitura de Praia Grande informou que segue tomando medidas para reduzir o impacto para os setores da economia local que estão sendo afetados devido os desdobramentos da pandemia da covid-19. "Com a atual escalada de casos e internações no Município se faz necessário atender a 'fase emergencial' do Plano SP, com a liberação momentânea apenas do funcionamento de serviços essenciais".