Mãe de Henry diz que era agredida por Dr. Jairinho e muda versão
Presa desde 8 de abril sob a acusação de acobertar a morte do próprio filho —o menino Henry Borel, de 4 anos—, a professora Monique Medeiros mudou a versão anterior e relatou a seus advogados o que seria seu relacionamento com o vereador Dr. Jairinho, apontado pela Polícia Civil do Rio como o responsável por espancar até a morte a criança. A carta, que teve trechos obtidos pelo UOL e outros fragmentos exibidos pelo "Fantástico", narra uma rotina de agressões e crises de ciúme.
As declarações foram compiladas pela defesa de Monique, que tentou convencer sem sucesso a polícia a ouvi-la novamente nas investigações do caso. Diferentemente do depoimento prestado na 16ª DP, Barra da Tijuca, há mais de 30 dias, a professora contou agora que foi enforcada e obrigada a tomar medicamentos. A expectativa é que o inquérito seja fechado ainda nesta semana.
Henry Borel foi morto no dia 8 de março no apartamento em que morava com a mãe e Jairinho na Barra da Tijuca. De acordo com a reprodução simulada, o menino sofreu 23 lesões pelo corpo. As agressões causaram laceração hepática, hemorragia interna.
Enforcamento por ciúmes
Embora as investigações tenham constatado que Monique tinha conhecimento das agressões de Jairinho a Henry desde fevereiro através de uma troca de mensagens com a babá Thayná de Oliveira, a mãe do menino revela no relato que as agressões começaram meses antes.
Segundo a professora, em dezembro de 2020 o vereador chegou a enforcá-la durante uma crise de ciúmes. Os dois estavam na casa dos pais de Monique, em Bangu, zona oeste do Rio.
Ela conta que Jairinho invadiu o quarto onde dormia com Henry e a enforcou no meio da noite. O caso de violência teria sido motivado, segundo ela, por ciúmes em relação ao seu ex-marido, Leniel Borel, pai do menino assassinado.
"Lembro de ser acordada no meio da madrugada, sendo enforcada, enquanto eu dormia na cama ao lado do meu filho. Quase sem ar, ele jogou o telefone em cima de mim, me xingando, me ofendendo e perguntando por que eu não estava o atendendo e por qual motivo eu tinha respondido uma mensagem do Leniel onde eu o chamava de Lê e ele me chamava de Nique. Eu pedia desculpas, disse que não chamaria mais o Leniel de Le e que conversaríamos depois. No dia seguinte ele se desculpou, disse que me amava muito, que eu era muito bonita para ele e que tinha muito ciúmes", diz um dos trechos do relato de Monique.
No depoimento prestado à polícia em 17 de março, 9 dias após a morte de Henry, Monique havia falado que era seu ex-marido que tinha ciúmes de Jairinho, já que estava insatisfeito com a separação. Em nenhum momento ela relatou o contrário ou algum tipo de queixa do atual namorado em relação a Leniel.
Obrigada a tomar remédio
A carta feita pela professora relata um outro episódio de agressão, dessa vez, no apartamento que morava com o Jairinho na Barra da Tijuca. O vereador tinha acabado de chegar do trabalho quando Monique decidiu contar com alegria sobre a sessão que teve com a psicóloga.
Segundo a professora, ela disse ao namorado como a terapia tinha sido reconfortante e que o Henry teria alta antes dela, já que ele verbalizava bem e seria muito tranquilo o trabalho com o menino. No episódio, ela diz que foi obrigada a tomar um medicamento para dormir por Jairinho.
"Ele focou em uma única coisa: que Leniel tinha ido junto e tinha ficado na casa dos meus pais com meu filho. Ele começou a discutir comigo por ciúmes, dizendo que eu gostava. Me humilhava como se eu fosse uma pessoa ruim e se eu quisesse era pra sacanear outro. Quanto mais eu explicava, pior ficava. Eu falei que iria embora de novo, que não aguentava mais tanta humilhação. Quando fui pegar minhas coisas, ele teve uma crise e começou a chutar minhas malas na sala, tomou minha bolsa e escondeu. Eu corri para o quarto de hóspedes e me tranquei lá. Tranquei a janela e disse que já que eu não poderia sair eu não iria dormir com ele. Jairinho começou a bater na porta, a gritar, xingar, até que ele arrombou a fechadura e conseguiu entrar no quarto e começou a gritar comigo. Ele disse que só ia parar se eu tomasse um remédio e fosse dormir no nosso quarto. Já era madrugada, eu estava muito triste, não sabia o que fazer. Então tomei o remédio que ele me deu e fui dormir."
Noite do crime
Ainda na carta, de acordo com trecho divulgado pelo "Fantástico", Monique muda a versão e diz que tomou dois remédios indicados por Jairinho no dia em que o filho morreu, para dormir melhor. Ao acordar, viu a criança no chão.
"De madrugada, ele me acordou dizendo que encontrou Henry no chão e que meu filho estava respirando mal. Meu filho estava de barriga para cima, com a boca aberta e olhando para o nada. Ele estava mãos e pés gelados. Jairinho disse que ouviu um barulho e encontrou o menino no chão. Enrolei o Henry em uma manta e corri para a emergência, mas em nenhum momento achei que estava carregando meu filho morto", escreveu.
Questionado pelo UOL sobre as agressões relatadas na carta de Monique Medeiros, o novo advogado do vereador, Braz Sant'Anna, não quis comentar as acusações.
Ainda em vida, Henry contou para o pai que o tio "abraçava forte". A carta também relata que em um final de semana em que ele foi entregar o menino para a mãe, Leniel pediu para Monique chamar Jairinho para os dois conversarem. Ele pediu para que o vereador não desse mais abraços no filho, pois a criança havia se queixado que esses abraços fortes tinham o apertado demais. Jairinho concordou e não houve nenhum tipo atrito depois disso.
Monique Medeiros, mãe de Henry, foi diagnosticada com covid-19 na última segunda-feira (19) e está internada no Hospital Penal Hamilton Agostinho, com 5% do pulmão comprometido. Dr. Jairinho (sem partido) está no presídio Pedrolino Werling de Oliveira, no Complexo de Gericinó, em Bangu 8.
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