Perita detalha Caso Henry: 'Maior dificuldade foi indiciar uma mãe'
A perita Denise Rivera, assessora-especial da Polícia Civil, detalhou o trabalho científico que embasou o indiciamento do vereador Dr. Jairinho (sem partido) e da professora Monique Medeiros pela morte do menino Henry, assassinado na madrugada de 8 de março no apartamento da família na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.
A dúvida sobre a versão de acidente doméstico contada por padrasto e mãe da criança no Hospital Barra D'Or deu início a um trabalho desenvolvido por peritos que envolveu exame do corpo no IML (Instituto Médico Legal), captura de vídeos, reprodução simulada no local do crime e extração de dados de 14 celulares com o auxílio de uma ferramenta israelense adquirida por cerca de R$ 5 milhões pelo governo estadual.
Com base no trabalho em conjunto entre a perícia e os investigadores da 16ª DP (Barra), a Polícia Civil desmentiu a tese de acidente doméstico e solicitou a prisão preventiva dos suspeitos por homicídio duplamente qualificado —por tortura e recursos que dificultaram a defesa da vítima. O pedido foi encaminhado à Justiça pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio).
Foi um caso que trouxe muita comoção. O crime envolvia um político. Mas a maior dificuldade foi indiciar uma mãe. Sem os prints dos celulares, haveria uma dúvida sobre o que aconteceu
Denise Rivera, perita e assessora-especial da Polícia Civil
A equipe médica do Hospital Barra D'Or, que constatou o óbito do menino, encaminhou o corpo ao IML, já que havia indícios que apontavam para uma morte suspeita, apesar da versão contada por padrasto e mãe de acidente doméstico causado após a queda de uma cama.
No dia seguinte, peritos foram ao apartamento da família para fazer o exame de local. Mas uma limpeza no imóvel impediu que a cena do crime fosse preservada. A Polícia Civil então apreendeu os celulares do casal e de testemunhas.
"Só tinha depoimento do casal e da babá, que passavam informações sobre uma família harmoniosa. As primeiras perícias nos celulares permitiram que o delegado [Henrique Damasceno, da 16ª DP] pudesse ter a convicção de que o casal havia mentido e pedisse a prisão temporária deles", analisou Denise Rivera.
Jairinho e Monique foram presos no dia 8 de abril por suspeita de atrapalhar as investigações e ameaçar testemunhas com base em prints de diálogos pelo WhatsApp entre a mãe de Henry e a babá Thayná Ferreira de Oliveira, que relatou agressões cometidas por Jairinho em tempo real na tarde de 12 de fevereiro. Leia a íntegra da troca de mensagens.
Laudo apontou 23 lesões no corpo da criança
As 23 lesões encontradas no corpo da criança e a altura da cama fizeram com que os legistas chegassem à conclusão de que houve uma ação violenta, confrontando a versão apresentada pelo casal.
Henry morreu em decorrência de hemorragia interna e laceração hepática causada por uma ação contundente, informou o laudo produzido pela perícia.
Investigação em sala de aula
Com 14 celulares apreendidos e o auxílio de um equipamento israelense que permitia a quebra dos dados dos aparelhos, os peritos então deram início a uma corrida contra o tempo para selecionar dados relevantes para a investigação, incluídos no relatório final elaborado pela Polícia Civil.
"Houve uma integração da investigação com a perícia. E isso deu a celeridade necessária para resolver o caso. O desafio foi conseguir analisar todos os celulares. Tivemos que filtrar o que era importante em relação ao crime porque a delegacia precisava de informações rapidamente", lembrou Denise Rivera. "Sem a perícia, esse crime não teria sido solucionado", concluiu.
A partir do próximo ano, a investigação envolvendo a morte do menino Henry passará a ser um estudo de caso para os alunos da Acadepol (Academia Estadual de Polícia), órgão responsável pelos processos seletivos para a admissão de novos policiais. "Nós vamos ensinar aos alunos que vão entrar no próximo concurso com casos reais e como foram solucionados", disse Rivera.
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