Após ação violenta da PM durante protesto, secretário entrega cargo em PE
Seis dias após ação violenta da Polícia Militar durante um ato antiBolsonaro, que terminou com homens baleados nos olhos, o secretário de Defesa Social de Pernambuco entregou o cargo ontem. Antônio de Pádua passou quatro anos à frente da pasta estadual, mas sua gestão não resistiu à repercussão negativa da intervenção truculenta dos militares contra manifestantes, no último sábado (29).
Após ter o pedido de exoneração aceito pelo governador Paulo Câmara (PSB), Antônio de Pádua divulgou comunicado à imprensa. Em nota, o agora ex-secretário ressaltou que os fatos ocorridos durante a manifestação de sábado "foram graves e precisam ser investigados de forma ampla e irrestrita".
Antônio de Pádua destacou que deixa a SDS após a troca do comando da PM e com todos os procedimentos investigatórios sobre o incidente instaurados. "Minha formação profissional e humanística repudia, de forma veemente, a maneira como aquela ação foi executada", disse no comunicado.
O governador também emitiu nota e já anunciou o novo gestor da SDS. Responderá interinamente pela pasta o secretário-executivo, Humberto Freire.
Paulo Câmara agredeceu a Antônio de Pádua pelos serviços prestados ao longo de quatro anos, mas alertou ao atual secretário e ao novo comandante da PM, coronel Roberto Santana, que os fatos do último sábado não podem ser esquecidos.
"Os protocolos precisam ser revistos para que um comando de tropa na rua não possa se sentir autônomo a ponto de agir da maneira que agiu", disse o governador em nota.
Ajuda ao feridos
As famílias de Daniel Campelo e Jonas Correia, os dois homens que perderam a visão após serem atingidos por balas de borracha, negociaram com o governo de Pernambuco uma ajuda financeira para ambos. Eles já tiveram alta médica e, inicialmente, receberão R$ 2.200 por três meses. O valor foi definido em reunião que ocorreu ontem.
Segundo familiares das vítimas, ainda estão sendo negociados os valores de uma indenização e de uma pensão que Daniel e Jonas receberão até completarem 75 anos.
"A gente não viu um valor certo. Nada paga o que fizeram com meu marido. Mas a gente espera um valor digno, que possa ajudar ele e nossa família daqui para a frente", falou Daniela Barreto, mulher de Jonas Correia, ao UOL.
Entenda o caso
No sábado, manifestantes se reuniram no centro do Recife em um ato contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em repúdio aos números da covid-19 no país.
Ao término do ato, equipes da Polícia Militar avançaram contra as pessoas, disparando armamentos de dispersão de massas. O protesto até ali tinha sido pacífico.
Bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha foram usadas contra os manifestantes. Dois homens que não estavam na manifestação foram atingidos nos olhos e perderam a visão.
Daniel Campelo, 51 anos, e Jonas Correia, 29 anos, foram alvejados quase que à queima-roupa. Daniel havia ido buscar material de trabalho no centro e Jonas tinha acabado de sair do serviço e seguia para casa.
Os dois ficaram internados no Hospital da Restauração e foram avaliados pelo Hospital Altino Ventura, referência em oftalmologia.
Daniel passou por cirurgia e teve o globo ocular esquerdo retirado. Já Jonas não precisou passar por cirurgia. O Altino Ventura informou que o globo ocular estava íntegro, mas que o dano à visão dele é irreversível.
Contra-ataque do governo
Após observar as imagens e os flagrantes do comportamento violento da PM, o governador Paulo Câmara determinou o afastamento imediato do comandante da corporação e dos militares que estiveram à frente das agressões.
A Corregedoria da SDS instaurou inquérito para apurar os abusos e apontar responsabilidades. No entanto, quase uma semana se passou e ainda não há informação sobre quem deu a ordem ao efetivo para agir com tamanha violência.
Antes de entregar o cargo, Antônio de Pádua havia dito que a ordem partiu da própria equipe de campo, mas sem ter a identificação exata do oficial.
A ação seria uma resposta a uma suposta agressão por parte dos manifestantes a militares. Essa suposta agressão, no entanto, não aparece em nenhum dos inúmeros registros em vídeo que flagraram a postura repressiva e a violência por parte dos PMs.
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