'Estado está agonizando e a gente está pagando a conta', diz mãe de Kathlen
Jackeline de Oliveira Lopes, mãe da designer de interiores Kathlen Romeu, de 24 anos, que morreu vítima de uma bala perdida durante um tiroteio no Complexo do Lins, na zona norte do Rio, durante uma ação da Polícia Militar na última terça-feira (8), fez um desabafo sobre a morte da filha e sobre a violência policial na cidade. Ela e o pai da jovem participaram hoje do programa "Encontro com Fátima Bernardes", da TV Globo.
"Esse problema não é nosso, é do estado. O estado está agonizando e a gente está pagando a conta. Tem alguma maneira, eles estudam para isso. Na guerra também tem tática, tem hora de saber recuar. Se eles estavam ali e viram, deixavam os bandidos correr e perdessem aquela batalha, não baleassem minha filha. Poderiam ser três vidas, duas foram embora, e eu poderia ter perdido minha mãe junto. E eu? E meu marido, minha família? E agora?", disse Jackeline.
Ela relatou ainda que a tragédia devastou toda a família. "E por mais que falem que minha filha está com Deus, eu não consigo acreditar que ela esteja bem, porque ela não morreu na hora. Qualquer pessoa que morra desse jeito, ela foi ceifada", afirmou.
A perícia feita pelo IML (Instituto Médico-Legal) apontou que um tiro de fuzil atravessou o corpo de Kathlen. Jackeline contou que estava no trabalho quando recebeu a notícia. Uma amiga da filha contou que ela havia sido atingida por um tiro.
"Como moradora de comunidade, eu sei toda a covardia. Eu pensei em tiro de fuzil e pensei meu Deus o braço da minha filha deve estar pendurado. Eu só pensei em socorrer minha filha. Eu jamais imaginaria que ela morreu", disse.
"A única coisa que eu perguntei foi, como um tiro no braço mata alguém? Isso é mentira, tem coisa errada. Ela não me ligou nesse dia, não se despediu de mim de nenhuma forma. Todos os dias eu vejo o Instagram dela. A última vez que vi minha filha foi no sábado (5), e eu já não lembro mais", continuou ela, emocionada.
Jackeline questionou a forma como a polícia entra nas comunidades. "Porque do (túnel) Rebouças para cá, não tem vidas. As vidas só importam na zona sul. As operações são diferentes, existe um respeito". O caso é investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC).
Em nota, a Polícia Militar informou que não havia operação no momento e que os tiros começaram após bandidos atirarem contra agentes da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) do Lins.
Os moradores contam outra versão. Segundo eles, os agentes estavam escondidos em uma casa para surpreender traficantes no chamado Beco da 14. A jovem foi atingida exatamente no momento em que os policiais saíram do imóvel disparando em direção a um ponto de venda de drogas. Ela estava caminhando com a avó quando foi atingida.
Kathlen foi nascida e criada no Complexo do Lins. Mas, por causa da violência na comunidade, ela e os pais haviam se mudado havia um mês. Segundo o pai dela, Luciano, a filha "viva o melhor momento da vida".
"Eu tirei ela de lá (do Lins) por causa da violência", afirmou o pai. "Noventa e nove por cento da comunidade são pessoas de bem. A mesma operação que tem constantemente lá, esse tiro ao alvo na nossa área, na zona sul não tem."
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