Fogo em Borba Gato foi bancado por vaquinha de R$ 500, diz ativista preso
Preso na última quarta-feira, o ativista Paulo Roberto da Silva Lima, conhecido como Galo, afirmou à polícia que o incêndio à estátua de Borba Gato, em Santo Amaro, zona sul de São Paulo, foi bancado com recursos obtidos em uma vaquinha.
Galo, que se apresentou ao 11º Distrito Policial e afirmou ter sido um dos autores do ataque, negou ter tido outro tipo de financiamento e disse que usou os R$ 500 obtidos no rateio para pagar o frete de transporte dos pneus arrecadados em borracharias e comprar dois galões de gasolina.
Em depoimento à Polícia Civil, obtido pelo UOL, ele afirmou que a ideia do manifesto surgiu após distribuição de panfletos sobre Borba Gato não ter surtido o efeito desejado pelos integrantes do grupo Revolução Periférica, criado dias antes para discutir "figuras controversas", justificou.
Galo disse ter participado da distribuição de panfletos na madrugada de 22 de julho com a pergunta: "Você sabe quem foi Borba Gato?". No dia seguinte, disse ter começado a arquitetar o ato, que ocorreu no último sábado (24) —mesma data da manifestação na avenida Paulista contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Segundo ele, cerca de 30 ativistas participaram da ação de maneira direta ou indireta.
Galo e Danilo Silva de Oliveira, que também prestou depoimento, negaram a intenção de participar em outros atos do tipo, repetindo a mesma versão apresentada na entrada do distrito policial de que o objetivo era "abrir o debate" sobre o monumento.
O ativista, que se define como entregador antifascista e ganhou visibilidade ao relatar o trabalho de motoboys de aplicativos durante a pandemia, disse que o objetivo era abrir um debate sobre o monumento a um "genocida e abusador de mulheres".
Ele informou ter arrecadado pneus doados em borracharias e, em seguida, ter combinado o transporte com um frete pela internet usando o celular da esposa Géssica de Paula Silva Barbosa, que chegou a ser sob a acusação de participar do incêndio ao monumento e teve a prisão revogada ontem. Ele justificou o uso do aparelho da esposa nos últimos dois anos por ter "CPF restrito" e negou a participação de Géssica no episódio.
Em vídeo obtido com exclusividade pelo UOL, a esposa de Galo também negou participação no ato. "Estava cuidando da minha filha", disse.
A Justiça concedeu a liberdade de Géssica após os dados do celular dela confirmarem que ela estava em casa no momento do incêndio.
O advogado Jacob Filho, que defende o casal, disse que há racismo na forma como o caso vem sendo tratado pelas autoridades. "A Géssica é uma mulher negra e periférica que foi presa sem sequer estar presente no ato", disse.
O Estado prende muito mais pessoas negras e periféricas do que pessoas brancas. O Estado é racista"
Jacob Filho, advogado
Procurada, a Secretaria de Segurança de São Paulo não se posicionou sobre a declaração do advogado do casal.
Fogo no monumento e fuga pelo metrô
Galo então confirmou ter marcado um ponto de encontro com o responsável pelo frete na avenida Cupecê, na zona sul de São Paulo. Segundo ele, o condutor do veículo aceitou alterar o emplacamento e o número do celular que constava na lataria do veículo durante o trajeto até a estátua, marcado para as 13h30 do último sábado. Contudo, não informou onde foi feita a adulteração e negou a participação do responsável pelo frete no ato.
Segundo Galo, ao chegar, o motorista aguardou a retirada dos pneus e deixou o local. Os manifestantes, então, usaram dois galões de gasolina adquiridos com dinheiro em espécie em um posto de combustível para atear foto aos pés do monumento, disse, em depoimento. Os pneus também foram espalhados pela via pública, de acordo com o ativista.
Após participar do incêndio à estátua, Galo disse ter embarcado no metrô para deixar o local.
'Foi tudo muito rápido', diz ativista
Danilo Silva de Oliveira, conhecido como Biu, que também se apresentou espontaneamente ontem à Polícia Civil para confirmar sua participação no ato, confirmou a presença na entrega de panfletos dias antes do incêndio. Contudo, apresentou outra versão do caso ao dizer que a ideia inicial era apenas atear fogo em pneus na rua.
Algumas pessoas se empolgaram e resolveram colocar fogo na estátua"
Danilo Silva de Oliveira, em depoimento
Ele negou ter jogado combustível ou ter ateado fogo nos pneus. Questionado, disse não saber se o motorista contratado para transportar os pneus participou do ato. "Foi tudo muito rápido", afimou.
Borba Gato
Inaugurada nos anos 1960 a estátua de Borba Gato gera polêmicas desde que foi instalada na Praça Augusto Tortorelo de Araújo, no bairro de Santo Amaro. O monumento homenageia Borba Gato, do grupo de bandeirantes paulistas que exploraram territórios no interior do país, escravizando indígenas e negros entre os séculos 16 e 17, segundo obras como "Vida e Morte do Bandeirante", de Alcântara Machado, de 1929.
Em 2016, a estátua foi atacada com um banho de tinta. No ano passado, o debate ganhou força nas redes sociais brasileiras pelo histórico do bandeirante.
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