Ato contra Bolsonaro e pró-vacina fecha Paulista e acaba em confusão em SP
Manifestantes fecharam a avenida Paulista, em São Paulo, na tarde de hoje para protestar contra o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e a favor da vacina contra covid-19.
Com menor adesão que a última manifestação contra o governo, há três semanas, o ato deste sábado na capital paulista foi marcado por forte presença de partidos de esquerda, centrais sindicais e movimentos sociais. Perto do fim do percurso, já na rua da Consolação, a Polícia Militar bloqueou a passagem e lançou bombas de gás contra os participantes. Vidraças de uma agência bancária e um ponto de ônibus foram quebrados. Apesar da confusão, não houve confronto direto entre manifestantes e policiais.
Segundo a Secretaria de Segurança, seis pessoas que estariam portando objetos como soco inglês e fogos de artifício foram encaminhadas à delegacia.
"Na rua da Consolação, durante a passagem dos manifestantes, foram registradas depredações em uma agência bancária, em um ponto de ônibus, e tentativas de vandalizar outros estabelecimentos, além do lançamento de objetos contra a tropa, que utilizou técnicas de controle de multidão para restabelecer a ordem no local. Não há registro de feridos", disse o órgão por meio de nota.
Os organizadores da manifestação estimaram em 70 mil os participantes do ato neste sábado — em 3 de julho, a estimativa dos organizadores foi de 100 mil pessoas reunidas na avenida Paulista (para a Secretaria de Segurança Pública, o ato reuniu cerca de 5.500 participantes). Hoje o governo paulista ainda não divulgou estimativa de público.
Houve registro de manifestações pedindo o impeachment de Bolsonaro em todos os estados (incluindo as capitais), além do Distrito Federal.
Aglomeração e políticos de oposição
Em São Paulo, embora os manifestantes tenham usado máscaras, houve muita aglomeração e os carros de som tiveram dificuldade de passar pela Paulista. A cor vermelha das bandeiras dos partidos políticos e os gritos "fora Bolsonaro" dominaram o protesto, com bandeiras e balões de partidos como PT, PCO, PSOL, PC do B e PSTU, e de entidades como CUT e UNE.
Os ex-candidatos à Presidência Fernando Haddad (PT) e Guilherme Boulos (PSOL) discursaram para os participantes do ato em carros de som. O vereador Eduardo Suplicy (PT-SP), de 80 anos, também esteve no local, em seu primeiro protesto desde o início da pandemia.
Suplicy criticou o comportamento de Bolsonaro que tem atacado e xingado senadores que integram a CPI da Covid.
A CPI cumpre uma função constitucional muito importante de desvendar fatos gravíssimos descobertos. É dever dos parlamentares irem a fundo para descobrir as coisas. Mas o Bolsonaro não tem a menor educação para tratar as pessoas que discordam dele e usa palavrões para menosprezar as pessoas
Eduardo Suplicy
A reportagem percorreu a avenida de lado a lado antes do começo da caminhada dos manifestantes e não encontrou bandeiras ou camisetas do PSDB, que prometeu participar apesar do confronto com manifestantes do PCO registrado na manifestação passada, que terminou com confusão e depredação como neste sábado.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública, foi montado um "esquema especial de policiamento", com efetivo reforçado de 800 policiais, além de monitoramento por câmeras fixas, móveis e corporais acopladas aos uniformes.
Em meio aos cartazes, havia uma reprodução dos "emails da Pfizer" endereçados ao presidente, em referência ao vídeo do humorista Rafael Chalub, que ironizou as ofertas de vacina que o laboratório afirmou terem sido ignoradas pelo governo Bolsonaro.
É uma tentativa de tornar lúdico algo que a gente vê no cenário político. Isso serve lembrar as pessoas que a gente já estaria vacinada se Bolsonaro tivesse feito o trabalho dele"
Patrick Aguiar, 20, estudante de gestão pública da USP.
Com um cartaz onde se lia a mensagem "Ele não", o pastor evangélico Márcio Pereira, 61, ostentava uma camisa com mensagem de apoio ao SUS e pedindo pela saída de Bolsonaro.
"O evangélico prega amor, justiça social e respeito à diversidade. Bolsonaro é o contrário disso. E representa um governo irresponsável, que não investiu na prevenção", disse.
Josué Rocha, da Frente Povo Sem Medo, comemorou a mobilização de hoje em todo o país. "O povo não aceita mais Bolsonaro", disse. Para ele, o impeachment é "urgente". "O número de atos vem crescendo".
Rocha disse que entre as medidas de segurança contra a covid-19, as entidades organizaram brigadas de saúde, espalhadas pela avenida Paulista, distribuindo álcool em gel e máscaras para quem participa da manifestação. O número de pessoas sem máscaras, entretanto, é irrisório. Percorrendo a avenida de lado a lado, a reportagem só viu pessoas sem o acessório quando estavam consumindo alimentos ou bebidas.
O produtor de eventos Rafael Macedo, 35, foi para a avenida Paulista vestido de jacaré e exibindo uma placa: "Jacarés contra Bolsonaro".
"Já é a segunda vez que participo do ato vestido assim. É uma forma de fazer uma crítica bem-humorada. Tô aqui pra brigar para que todo mundo seja vacinado contra a covid no país", disse.
O protesto reuniu ainda torcedores de clubes de futebol, como um coletivo de torcedores do Palmeiras contra Bolsonaro, que usavam camisas do clube com a frase "Ditadura nunca mais".
Com a frase "democracia corintiana", o metalúrgico Fábio Evangelista de Souza, 45, relembrou do movimento liderado pelos então jogadores Sócrates, Casagrande, Wladimir e Zenon na década de 1980.
"Eu era moleque na época. Mas nunca esqueci da mensagem deixada por eles. Sempre que a democracia estiver ameaçada, a gente tem que levantar essa bandeira. De vencer ou perder. Mas sempre pela democracia", disse.
Capitais registram novos protestos contra Bolsonaro
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