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"Chegaram impressionando", diz vítima de paulistas que viviam no luxo no RJ

Grupo paulista que aplicava golpes no Rio vivia vida de luxo e ostentação - Redes sociais/reprodução
Grupo paulista que aplicava golpes no Rio vivia vida de luxo e ostentação Imagem: Redes sociais/reprodução

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

13/08/2021 18h47Atualizada em 14/08/2021 12h22

O quarteto paulista preso por aplicar golpes no Rio de Janeiro, depois de chamar a atenção pelo estilo luxuoso de vida que levava, teve a prisão em flagrante convertida em preventiva na tarde de hoje. Eles foram indiciados por formar organização criminosa e dois já eram investigados por estelionato. Segundo a polícia civil, eles realizavam compras de artigos diversos, incluindo eletrônicos, e pediam estorno dos cartões de crédito alegando não reconhecerem as compras, vendendo os objetos por preços mais baixos que o mercado.

Uma das vítimas, dono de uma empresa familiar, resolveu falar com o UOL e deu detalhes de como o grupo agia. Ele diz que dois dos quatro presos fizeram as compras pessoalmente na loja. O valor dos produtos somou R$ 22 mil e foi pago em seis cartões de débito diferentes. Richard Costa e Gabriel Fernando Costa levaram um notebook, uma caixa de som, três iPhones e um apple watch. Segundo o empresário, que não terá o nome dele nem da loja divulgados, o estudante de direito Richard Bruno Costa se apresentou como dono de uma transportadora.

"Quando vi no sistema as compras, questionei o meu gerente, pois é difícil alguém comprar tudo de uma vez ou sem pedir um desconto. Perguntei: 'Que venda estranha é essa?' Ele [Richard] disse aqui que era dono de transportadora, estava comprando equipamentos, chegou impressionando. Passou vendas por aproximação [com o cartão]. Conseguiu impressionar meu gerente e vendedor", lembra o empresário.

Ao ficar desconfiado das transações, o gestor acessou o portal da Stone, empresa de serviço financeiro e responsável pelas máquinas de cartão, e viu as vendas serem canceladas. O empresário revelou ainda um esquema mais sofisticado de atuação. No caso dele, o grupo teria conseguido aproveitar uma falha no esquema de segurança da fintech, acessar os dados da loja e cadastrar uma segunda pessoa como responsável financeiro. Com acesso a todo o sistema, os golpistas cancelaram as compras logo após o pagamento. Por isso, a vítima acredita que há outras pessoas envolvidas no esquema.

"Eles conseguiram ativar o meu número de celular em outro aparelho um dia antes. Recebi essa mensagem dizendo que meu número foi cadastrado em outro aparelho e achei que era o golpe do WhatsApp, mas na verdade eles conseguiram o número para inserir outro usuário na conta da minha empresa". Foi a primeira vez que a loja de eletrônicos sofreu um golpe. Os produtos foram recuperados pela polícia.

Procurada, a Stone disse que não foi oficialmente intimada sobre o caso. "A companhia dispõe de forte e atualizado processo de segurança para todas suas operações", resumiu, por meio de nota oficial.

De acordo com a delegacia de Ipanema, responsável pelas investigações, o grupo movimentou em uma semana cerca de R$ 50 mil reais. Um segundo empresário chegou a vender para o grupo três Playstations 5. Cada videogame custa cerca de R$ 5 mil.

O UOL conseguiu identificar os advogados dos suspeitos. No processo, Luís Felipe Araújo Soares Andrada e Diogo Sanches Prado foram apontados como defensores legais do grupo, mas não há informação de escritórios associados aos dois. Mesmo com a ajuda do Cadastro Nacional da OAB, a reportagem ainda não conseguiu contato com as partes. O espaço segue aberto para atualizações tão logo recebermos esclarecimentos.

Mulher de negócios

Durante as investigações, a Polícia Civil do Rio localizou, nas redes sociais, duas lojas no nome de Thais Thayana Gama, namorada de Richard. Uma das lojas é de roupas comuns e outra, de biquínis. A última postagem das peças de moda praia nas redes sociais está com data de 24 abril. Na conta de roupas, a movimentação mais recente foi feita em julho deste ano. Juntos, os dois perfis somam mais de 5,5 mil seguidores.

A página de roupas - basicamente vestidos e conjuntos de short e blusa - aparenta ter sido criada recentemente. A primeira publicação foi feita em 30 de julho. Thais é quem aparece nas fotos divulgando as coleções junto com outras modelos.

Entenda o caso

Richard Bruno Costa, a namorada dele, Thais Thayana Gama, o irmão dele Gabriel Fernando Costa e um amigo identificado como Jorge Felipe Ferreira, foram presos em flagrante na tarde da última quarta-feira (11). Os quatro envolvidos foram surpreendidos em Onix, de cor prata, em Copacabana, na zona sul do Rio. Eles estavam avançando sinais e invadindo a faixa exclusiva de ônibus. Ao abordarem o veículo, os policiais encontraram máquinas de cartões de débito e crédito que eram usadas para revender os produtos por valores inferiores ao praticado no mercado.

O delegado Felipe Santoro, responsável pelo caso, destacou que o grupo ostentava uma vida luxuosa. "Nas redes sociais os presos ostentavam uma vida de luxo, com hospedagens em hotéis cinco estrelas, viagens e carros importados. Na verdade, era tudo dinheiro conseguido com golpes. Richard, inclusive, se apresentava como microempresário, que agora sabemos, é do crime".

Segundo Santoro, Thais e Richard já eram investigados pelas Delegacias de São Sebastião e de Campinas, em São Paulo, pelo crime de estelionato. O primeiro registro de ocorrência contra o suspeito foi realizado em março deste ano.