Prefeito demite professor por exibir clipe de Criolo sobre diversidade
"Não permitiremos viadagem em sala de aula". Com essas palavras, o prefeito Clésio Salvaro (PSDB), anunciou (em vídeo) a demissão de um professor da Rede Municipal de Ensino de Criciúma (SC). O motivo alegado para o desligamento do profissional foi a exibição do clipe da música "Etérea", do cantor Criolo, que, segundo o prefeito, é erotizada e "inapropriada".
Na manhã de hoje, a cidade passou por uma série de protestos, amanheceu com prédios públicos pichados, além de ter a administração criticada nas redes sociais. Uma edição extraordinária da parada LGBTQIA+ foi convocada para este sábado (28). A canção "Etérea", que aborda uma mensagem social e de diversidade, chegou a concorrer ao Grammy Latino de melhor canção em Língua Portuguesa em 2019.
O fato se tornou público depois que os pais de alguns alunos teriam denunciado a exibição do vídeo a seus filhos durante uma aula de artes na Escola Municipal Pascoal Meller, na manhã de terça-feira (24). Ao tomar conhecimento do caso, ontem, o prefeito da cidade gravou um vídeo determinando a imediata exoneração do educador (que não teve a identificação divulgada). "Nós não permitimos, nós não toleramos. Está demitido este "profissional", disse.
O prefeito completou afirmando que nas escolas de Criciúma, enquanto ele estiver na cadeira de prefeito, fatos como este não serão tolerados. "Essa viadagem na sala de aula, nós não concordamos. E se os pais souberem de algo parecido, que foi exposto para os seus filhos, por favor, entrem em contato com o Município de Criciúma, que o professor que apresentou esse tipo de vídeo ou comportamento inapropriado, será exonerado, sem chance de continuar sendo funcionário da prefeitura", completou.
O UOL entrou em contato com Clésio Salvaro na manhã de hoje e o prefeito manteve o discurso feito no dia anterior, mesmo questionado quanto ao vídeo em questão ser reconhecido no Brasil e no exterior. "Eu mantenho o que eu disse no vídeo. E mais, se alguém tem que se retratar (pelo que fez) é o professor, que de forma inadequada está apresentando aquele material aos alunos. Em Criciúma, isso não vai acontecer, pronto e ponto".
Em nota conjunta, a Prefeitura e a Secretaria de Educação afirmaram que a prática pedagógica de professores da rede de ensino, é orientada a partir das Diretrizes Curriculares, por meio do Plano de Ensino Unificado e esse plano reúne os conteúdos que deverão ser ministrados junto aos estudantes em cada ano letivo. O que, na avaliação da pasta, não foi seguida pelo professor e motivou a demissão.
"Ressaltamos que o episódio recente, envolvendo conteúdo inapropriado em vídeo apresentado por um dos professores, além de não constar no Plano de Ensino da Rede, estando, portanto, em desacordo com a proposta do Conselho Nacional de Educação, não será tolerado pela Administração Municipal de Criciúma", justificou.
Reações
Na manhã de hoje, protestos foram feitos na cidade contra as falas do prefeito, tidas como homofóbicas, e uma "Parada LGBTQIA+" foi marcada para sábado (28), às 14 horas, no Parque da Prefeitura. Também houve pichações em igrejas com frases contra a homofobia, contra o prefeito e contra o presidente Bolsonaro.
Sobre as pichações, Clésio Salvaro disse à reportagem do UOL que a prefeitura fez um boletim de ocorrência na Polícia Militar (PM) e está tomando providências. Ele também declarou que a atitude "retrata o nível dessas pessoas".
Em publicação nas redes sociais, a vereadora Giovana Mondardo (PCdoB) destacou que existem muitas coisas que não podem ser toleradas, uma delas é a violência contra a população LGBT. "Em busca de atenção e oportunismo eleitoral para agradar o conservadorismo, o Prefeito de Criciúma Clésio Salvaro (PSDB) se declarou intolerante, preconceituoso, baixo e infeliz ao externalizar, sem nenhuma vergonha, falas homofóbicas".
A vereadora afirmou ainda que grupos da cidade vão apresentar denúncia no Ministério Público contra o Prefeito Clésio Salvaro. Em nota oficial, o PT de Criciúma, também condenou o que chamou de ataque à liberdade de cátedra do educador, agressividade e homofobia.
"É de se lamentar a atitude do prefeito ao se debater temas tão importantes para a sociedade, como os levantados na música do Criolo e de fomentar ainda mais o preconceito num país em que mais se mata a população LGBTQIA+. Infelizmente vivemos em um Estado em que parlamentares e políticos se sentem à vontade para perseguir professores e intervir em sua liberdade de cátedra. Isso é inadmissível", justificou.
"Espaço para debate"
O cantor Criolo usou as redes sociais para lamentar a demissão do professor, publicando o documentário novamente. "Mais uma vez, desde seu lançamento, o clipe e o documentário da música Etérea [com a participação de representantes de coletivos LGBTQIA+ nacionais] abrem espaço para o debate na sociedade brasileira, após a lamentável demissão de um professor depois de exibir o projeto em sala. Tanto o clipe como o doc, ambos sem nenhum tipo de restrição pelas diretrizes do YouTube, já foram exibidos em diversos festivais de cinema e instituições de arte, música e dança, ao longo dos quase dois anos de suas trajetórias internacionais", escreveu.
A publicação do documentário foi feita, segundo o cantor, na esperança de que ele possa chegar mais longe, com mais pessoas entendendo e refletindo sobre o que acontece em nosso território e como o Brasil se tornou o país que mais mata sua população LGBTQIA+ em todo o planeta.
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