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Vídeos mostram agressões de PMs a passageiros de ônibus no Rio de Janeiro

Vídeos mostram policiais retirando pessoas de forma truculenta no Rio de Janeiro - Redes sociais/reproduçaõ
Vídeos mostram policiais retirando pessoas de forma truculenta no Rio de Janeiro Imagem: Redes sociais/reproduçaõ

Daniele Dutra

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

27/08/2021 14h26

Um grupo de pessoas relatou agressões ao ser retirado do ônibus 474, que faz a linha Jacaré - Copacabana, durante ação de policiais militares para conter um suposto princípio de tumulto na noite de ontem (26) em Copacabana, zona sul do Rio.

Vídeos que circulam nas redes sociais mostram agentes agredindo com cassetetes uma mulher e alguns homens numa calçada. Mulheres, crianças e uma grávida foram atingidas com gás de pimenta. A Polícia Militar informou que não houve ilícito constatado e que as imagens serão analisadas.

Nos vídeos, é possível observar pessoas correndo para pegar o coletivo que seguiria para o Jacaré, na zona norte do Rio. Um garoto tenta entrar pela porta de trás, sem pagar passagem, mas é acertado pelo cassetete de um policial. Também foi registrado o momento em que homens são atingidos por pontapés e golpes de cassetetes e contidos, sentados, numa calçada.

Em outra cena, duas mulheres assustadas com a situação, uma delas, grávida, falam que os agentes jogaram gás de pimenta no rosto dos passageiros e que o ônibus estava cheio de crianças.

No último domingo (22), as praias da zona sul do Rio ficaram lotadas e houve confusão na volta para casa, em especial nos coletivos, o que pode ter motivado a intervenção "preventiva" da PM diante da lotação no ônibus 474. No final de semana, inclusive, alguns ônibus foram depredados, houve relatos de passageiros que invadiram os veículos e foi possível ver pessoas viajando penduradas nas janelas ou no teto dos veículos.

Nas redes sociais, moradores que acompanhavam e registravam a ação se dividiram. Muitos elogiaram a ação no bairro, uma consequência de incômodo antigo na região sobre a lotação dos bairros com praia da zona sul por moradores da periferia das regiões periféricas.

Outros, demonstraram preocupação e sentiram o efeito da abordagem chegar "dentro de casa", como é o caso de uma das residentes, identificada como Tânia Gomes, cujos filhos estavam no ônibus e, segundo ela, ficaram traumatizados.

"Prenderam alguém? Que eu saiba eles só agiram como psicopatas agredindo, passando spray de pimenta no rosto de todos. Meu filho de 17 anos foi tratado como marginal. Ele estuda, tem formação e foi humilhado. Eles usaram abuso de poder com adolescentes, mulher grávida e só pararam porque uma das adolescentes tinha um pai advogado. Nem sempre policial tem razão, meus filhos estão traumatizados", opinou.

Morador de Copacabana, Ramon Valença foi um dos que foram para a rua registrar a abordagem policial de perto. "Os policiais cercaram o ônibus e começaram a pedir pra sair, gritando, batendo em pessoas, em crianças, mulheres e jogaram gás de pimenta dentro do coletivo. A gente gritava pedindo para eles pararem de bater, que era mulher. Eles tiraram gente que tinha pagado passagem e quem não tinha tratando todos como iguais. Foi muito triste de perceber como existe uma sensação de impunidade em relação a corpos pretos e pobres. Eles batiam com a certeza de que nada ia acontecer" disse.

Enquanto registrava as cenas, o morador disse que foi ameaçado por policiais: "O policial falou para mim e outro rapaz que estava filmando "para de filmar, para de filmar, quem tiver filmando eu vou levar pra a delegacia". Eu fiquei com medo, me afastei um pouco, mas continuei filmando porque as pessoas estavam pedindo.

Uma passageira desabafou sobre a abordagem: "ontem eu passei um sufoco saindo de Copacabana. Fiquei desesperada dentro do ônibus porque os vândalos do 474 simplesmente decidiram parar Copacabana! Parecia até filme de terror", disse Barbara, em relato no Facebook.

O UOL procurou a Polícia Militar, que, em nota, afirma que, na noite de ontem (26), policiais militares do 19º BPM faziam patrulhamento quando foram acionados devido a um princípio de tumulto envolvendo um ônibus entre as avenidas Nossa Senhora de Copacabana e Prado Júnior, em Copacabana.

"As equipes fizeram abordagem aos passageiros e não houve ilícito constatado. Os policiais militares fizeram um ordenamento da situação de forma que o embarque foi fracionado. As imagens citadas serão encaminhadas para análise", informa.

Já a SEOP (Secretaria de Ordem Pública) disse apenas que equipes do Grupamento de Guardas Motociclistas atuaram com a Polícia Militar para conter um tumulto em um ponto de ônibus na Avenida Prado Júnior.