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SC: Em ato contra prefeito, Parada LGBTQIA + reúne centenas de pessoas

Parada em Criciúma (SC) em resposta à demissão de professor  - Giorgio Guedin/Colab UOL
Parada em Criciúma (SC) em resposta à demissão de professor Imagem: Giorgio Guedin/Colab UOL

Luan Martendal e Giorgio Guedin

Colaboração para o UOL, em Florianópolis e Criciúma (SC)

28/08/2021 20h18

Centenas de pessoas participaram da Parada LGBTQIA + de Criciúma, em Santa Catarina, na tarde deste sábado, para celebrar a diversidade e em repúdio às falas do prefeito Clésio Salvaro (PSDB), que afirmou não aceitar "viadagem nas salas de aula".

O posicionamento do prefeito foi publicado nas redes sociais, na quarta-feira (25), ao anunciar a exoneração de um professor que exibiu o clipe da música "Etérea", do cantor Criolo, para alunos do 9º ano de uma escola pública municipal. O vídeo — que chegou a concorrer ao Grammy Latino em 2019 — foi o estopim para a demissão do professor, por ser considerado pelo político como "erotizado" e "inapropriado", gerando forte reação de movimentos sociais, políticos, e até artistas nacionais.

A manifestação pacífica teve início por volta das 14 horas, no Parque Municipal Prefeito Altair Guidi, e seguiu até o fim da tarde sem tumulto, e com acompanhamento policial. A maioria dos presentes respeitou o uso de máscaras. De acordo com os organizadores, cerca de 1.000 pessoas passaram pelo evento, incluindo colegas de trabalho, alunos e familiares do professor exonerado. Na ocasião foi arrecadada meia tonelada de alimentos.

"Decidimos nos reunir, em protesto, como forma de reação às últimas falas do prefeito (Clésio Salvaro), que se manifestou não só com autoritarismo, mas com LGBTfobia", afirmou a vereadora Giovana Mondardo (PCdoB), idealizadora da Parada LGBTQIA + de Criciúma.

Participantes também se manifestaram contra Bolsonaro

Durante o encontro, marcado por atrações de artistas locais, movimentos organizados, teatro e performances, foram ouvidos protestos contra o prefeito da cidade e também contra o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), conhecido por frases polêmicas relacionadas à comunidade LGBTQIA +.

Lucas Gonçalves, presidente da União Nacional do Movimento LGBTQIA +, em Criciúma, afirmou que a parada é também um ato de resistência e resposta àqueles que não aceitam a diversidade.

"Essa Parada LGBTQIA + é um reflexo e a resposta de um povo que não vai mais aceitar o desrespeito e a intolerância", afirmou.

Familiares de alguns dos estudantes, com idades entre 14 e 15 anos, que estavam na aula em que o vídeo de "Etérea" foi exibido junto a outros conteúdos que contemplavam artes integradas e visuais, também subiram ao palco para oferecer apoio ao profissional da educação.

"Quanto à exoneração deste professor, teve os que foram a favor e muitos que não concordaram e eu estou aqui pelos que não concordaram", discursou Solana Vaz Franco, mãe de uma aluna.

O UOL entrou em contato com o professor exonerado pelo prefeito de Criciúma, mas ele preferiu não ser identificado e informou que está avaliando se irá se manifestar à imprensa.

Amigos do professor de artes participaram do protesto e informaram à reportagem que, por questão de segurança, o colega preferiu se resguardar e não participar do ato presencialmente.

Cidade também registra evento em defesa da família

A poucos quilômetros da Parada LGBTQIA +, no Parque das Nações, um grupo de pessoas também se reuniu no chamado "Piquenique da Família".

O evento teve início por volta das 15 horas e foi organizado pela advogada bolsonarista e ex-candidata à prefeitura de Criciúma, Júlia Zanatta (PL), que levou ao conhecimento da prefeitura de Criciúma a exibição do videoclipe durante a aula.

Em comentário sobre o episódio ao UOL, Júlia diz que em nenhum momento fez juízo de valor sobre ninguém e apenas emitiu sua opinião sobre o assunto. "Apenas disse minha opinião, como mãe, que aquilo não é material para ser trabalhado em sala de aula. Inclusive, a Secretaria de Educação de Criciúma, em nota, revelou que aquilo não consta no plano de ensino contemplado pelo município, o que acabou levando à demissão do professor", afirma.

Segundo Júlia Zanatta, o ato da família estava marcado para ocorrer no mesmo parque em que houve a Parada LGBTQIA +, mas a pedido da Polícia Militar (PM), o evento foi transferido de local. O objetivo do encontro, segundo ela, foi a defesa da família e da fé cristã.

"Depois da demissão deste professor houveram atos de vandalismo na Catedral, na Igreja Batista e em outros locais. Houve um ataque às fés cristãs, então o que as igrejas têm a ver com a declaração do prefeito? Nada. O que queremos é que deixem as igrejas em paz, deixem as nossas crianças em paz, sala de aula é lugar de aprender e não de militância e de lacração", diz.

A advogada também evitou se posicionar sobre as declarações do prefeito Clésio Salvaro (PSDB), limitando-se a dizer que cada um deve responder por suas atitudes e que acredita que todos devem ser respeitados.

MP de SC investiga o caso

Por conta do uso do termo "viadagem" e outras frases ditas por Salvaro na exoneração do profissional, o prefeito é alvo de apuração do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC). Procurados pela reportagem, tanto o prefeito quanto a assessoria da prefeitura de Criciúma informaram que não irão mais se posicionar sobre o assunto.

Na quarta-feira, ao UOL, o prefeito afirmou que mantinha o que havia dito em vídeo. Uma nota oficial conjunta da Secretaria de Educação e da prefeitura de Criciúma afirma que a prática pedagógica de professores da rede de ensino é orientada a partir das Diretrizes Curriculares, por meio do Plano de Ensino Unificado e esse plano reúne os conteúdos que deverão ser ministrados junto aos estudantes em cada ano letivo. O que, na avaliação da pasta, não foi seguida pelo professor e motivou a demissão.