Jovem cujo pai tem mesmo nome de traficante completa uma semana preso no RJ
O assistente de logística Vinícius Matheus Barreto Teixeira, 21, completou ontem uma semana preso após ser detido dentro da empresa onde trabalha há dois anos na cidade de Macaé, no Norte Fluminense.
O jovem foi apontado como filho do traficante Messias Gomes Teixeira, conhecido como "Feio" e responsável pelo transporte de armas e munições para o morro do Palácio, no bairro do Ingá, em Niterói. No entanto, a família nega as acusações e afirma que se trata de um caso de homônimos. O pai de Vinícius tem o mesmo nome do traficante.
A seccional fluminense da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), que acompanha o caso de perto, emitiu uma nota e classificou a prisão de Vinícius como "inconcebível". Em entrevista ao UOL, o secretário-geral da ordem, Álvaro Quintão, criticou o inquérito da Polícia Civil que levou o jovem para a cadeia.
"Isso está acontecendo com muita frequência. O Vinícius nem foi chamado para ser ouvido nem prestar depoimento. Foi simplesmente preso. A polícia faz a identificação de forma incorreta e os mandados acabam saindo no nome de inocentes e o Judiciário tem sempre que atuar de forma protocolar."
Amanhã o presidente da OAB vai se reunir com os advogados do rapaz para entender as estratégias adotadas em defesa de Vinícius. Um pedido de habeas corpus já foi impetrado no Tribunal de Justiça do Rio, mas ainda não foi julgado. Vinícius está detido no presídio de Benfica, na zona norte da cidade.
Ele foi denunciado pelo Ministério Público por associação para o tráfico e teve a prisão decretada em 2018. O rapaz foi detido no último dia 4, na frente dos amigos.
O pai dele, Messias Teixeira, morador de Macaé, que fica a 190 km da capital fluminense, disse que ele e a mãe de Vinícius estão há uma semana indo e voltando ou ficando na casa de amigos no Rio, na expectativa de o rapaz ser solto.
"Temos certeza que ele não fez nada, é um menino puro, toda minha família não tem envolvimento com nada. Estamos vivendo essa agonia na expectativa de ele ser solto. Tudo não passa de erro", disse ao UOL.
O amigo e pastor de Vinícius, Wanderson Vieira da Silva, acrescentou que o jovem e os pais nunca moraram em um endereço diferente de Macaé e que o rapaz não tem nenhuma ligação com Niterói.
"Ele nunca saiu de Macaé para morar em qualquer lugar. Nunca morou em outro endereço, nunca mudou de casa. Na cela, pediram para ele cantar e, mesmo em meio a dor, Vinícius mantém os princípios passados pelos pais, os princípios evangélicos."
Defesa espera que soltura ocorra amanhã
O advogado da família, Daniel Augusto, diz acreditar que o cliente deverá ser solto amanhã.
O advogado vai despachar nesta quarta-feira (13) um novo pedido de liberdade diretamente com a juíza da 4ª Vara Criminal. Um pedido de habeas corpus ainda aguarda para ser analisado pela desembargadora Kátia Maria na Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio que foi solicitado na última sexta (8).
"Não tem justificativa para não soltarem ele. Tá tudo comprovado dentro do pedido de habeas corpus", diz o defensor.
O que diz a Justiça
A juíza Juliana Ferraz Kryjthine, em exercício na 4ª Vara Criminal de Niterói, esclareceu, através de nota, "não ser responsabilidade do Judiciário o possível erro na identificação de Vinícius Matheus Barreto Teixeira no ato de sua prisão" e que "a identificação não está restrita apenas na coincidência dos nomes de Messias Gomes Teixeira, uma vez que o nome de Vinícius Teixeira consta na denúncia do MP".
O advogado contesta a informação.
"Realmente o erro de identificação foi da delegacia na época, mas dentro do processo criminal, depois de oferecida a denúncia, o juiz solicitou para que fosse juntada a certidão de nascimento do Vinícius para ver se realmente ele era filho do traficante e foi constatado que não era. Existe uma certidão do cartório informando isso. Eles tiveram a possibilidade de consertar esse erro, mas não foi isso que aconteceu. O mandado de prisão não foi suspenso nem a denúncia foi rejeitada", ponderou o advogado.
O traficante que teria o mesmo nome do pai de Vinícius foi condenado com outros réus em um processo de associação para o tráfico de drogas.
Procurada, a Polícia Civil do Rio ainda não respondeu aos questionamentos do UOL. As investigações que resultaram no pedido de prisão de Vinícius foram conduzidas pela 76ª DP (Niterói) em 2017.
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