'Ele saiu atirando sem alvo', diz sobrevivente de chacina no ES
Um pedreiro que ficou ferido, mas sobreviveu à chacina que matou cinco pessoas e feriu outras três, além dele, no sábado (16), no bairro Darly Santos, em Vila Velha, detalhou a cena em depoimento prestado ontem na Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Em entrevista ao UOL, a testemunha, que prefere não ser identificada, contou que o episódio foi rápido e que ainda não entende ao certo a motivação do ataque. O pedreiro foi baleado três vezes, no peito, em uma das pernas e um dos braços.
Só lembro que o homem chegou, ficou na entrada do terreno e saiu atirando. Sem alvo, sem objetivo algum
O pedreiro, que estava trabalhando no terreno enquanto acontecia o churrasco, disse que conseguiu fugir e ficou escondido em um terreno baldio próximo do local da chacina. Ele foi encontrado lá pelos policiais militares e levado para o Hospital Estadual Antônio Bezerra de Farias, em Vila Velha.
O trabalhador relatou que antes dos tiros, quando começava a trabalhar, ouviu um homem e uma mulher discutindo sobre a posse do terreno onde ocorreu a chacina. O homem é um dos feridos do ataque e está internado. A mulher já havia deixado o local na hora do crime.
A Polícia Civil não informou se ela é uma das possíveis envolvidas no ataque - um suspeito foi preso ontem (leia mais abaixo). Em nota, a corporação informou que "não passará informações para não atrapalhar as investigações".
De acordo com o pedreiro, os pivôs da briga são vizinhos. "Eles brigaram porque cada um disse ser dono do terreno. Só que eles são vizinhos, sabiam da construção que estava tendo", relatou.
A chacina deixou cinco pessoas mortas: a professora Elaine Cristina Machado, de 49 anos; o vendedor ambulante Felipe dos Santos, de 31; o líder comunitário José Quintino Filho, de 59; o aposentado Claudionor Liberato, de 59, e José Roberto, que não teve a idade revelada.
"A vida do ser humano não vale nada. A gente trabalha a vida toda para nada. Igual o senhor de 59 anos [Claudionor Liberato]. Trabalhou a vida toda, se aposentou e chega alguém e faz essa brutalidade", desabafou o pedreiro, que se recupera bem do atentado.
Dinâmica do crime
O suspeito de ter cometido a chacina foi preso pela Polícia Militar na noite de ontem. Saulo da Silva Abner, de 25 anos, foi preso dentro de um guarda-roupa no bairro Primeiro de Maio, um dos mais violentos de Vila Velha.
De acordo com a Sesp (Secretaria Estadual de Segurança Pública), a chacina está relacionada com a disputa de terrenos na região. Saulo, segundo a Sesp, invadiu um terreno no bairro Darly Santos. Tempos depois, outras pessoas teriam invadido este terreno que estava em sua posse e, a partir disso, ele começou a premeditar o crime.
"Esse indivíduo invade um terreno da região, sem nem saber de quem era o terreno. Mas outras pessoas também ligadas a essa questão de posse de terreno invadem três outros, inclusive o dele. Quando invadiram o terreno dele, foi o estopim para ele planejar a arquitetar esses crimes", afirmou o secretário estadual de Segurança Pública, Alexandre Ramalho.
No dia do crime, Saulo recebeu a informação de que um churrasco estava acontecendo no terreno que achava ser dono. Ele pegou o carro e foi até o local. De acordo com o delegado Tarik Souza, titular da DHPP, a intenção de Saulo era matar três pessoas, entre elas José Quirino, líder comunitário.
"Ele já sabia que três indivíduos estavam invadindo o seu lote. Quando passou na frente do churrasco, percebeu que os três estavam lá. Então ele resolveu executar as pessoas. Praticou aquela atitude insana, abrindo fogo", explicou Tarik.
O delegado explicou também que a casa em que as pessoas estavam era pequena. E como elas começaram a correr na hora do tiroteio, outras, que não tinham nada a ver com a história, foram atingidas.
"Dois sobreviveram e um deles era o Jose Quirino. Esses indivíduos [que estavam no churrasco] corriam de um lado para o outro. E, por isso, Saulo acabou acertando algumas pessoas. A intenção dele, que foi dita no depoimento, era de acertar três indivíduos. Os demais, acertou por acidente", disse o delegado.
Após a chacina, Saulo foi embora de carro do local. Câmeras do sistema de videmonitoramento espalhadas por Vila Velha flagraram o veículo, e isso ajudou a chegar ao suspeito, encontrado escondido dentro de um guarda-roupa.
O Secretário de Segurança Pública também disse que, após o crime, Saulo chegou a fazer um boletim de ocorrência online, relatando que havia sido sequestrado, em uma tentativa era enganar a Polícia. Na conversa com os agentes da Polícia Civil, Saulo admitiu ter usado cocaína minutos antes do crime.
"Ele invade a casa de posse de uma pistola calibre 380, era um local estreito, apertado e já entrou atirando. É uma motivação torpe para um crime tão brutal", finalizou Ramalho.
Até o momento, nenhum advogado se apresentou como defesa do suspeito. A reportagem procurou a Defensoria Pública do Estado para saber se algum advogado do órgão irá defender Saulo, mas não houve retorno.
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