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Advogado é preso por matar namorada e aguarda processo em apê de luxo na BA

Kezia Stefany da Silva Ribeiro, de 21 anos, foi enterrada nesta segunda, em Feira de Santana (BA) - Instagram/reprodução
Kezia Stefany da Silva Ribeiro, de 21 anos, foi enterrada nesta segunda, em Feira de Santana (BA) Imagem: Instagram/reprodução

Alexandre Santos

Colaboração para o UOL, em Salvador

18/10/2021 23h57Atualizada em 19/10/2021 09h31

O advogado criminalista José Luiz de Britto Meira Júnior, preso em flagrante pela morte da namorada, Kezia Stefany da Silva Ribeiro, de 21 anos, alvejada com um tiro na boca ontem, teve a prisão preventiva decretada pela Justiça e recebeu autorização para cumprir regime domiciliar. Ele aguarda o processo em seu apartamento, num condomínio de luxo no bairro do Rio Vermelho, em Salvador. A vítima foi enterrada hoje, em Feira de Santana (BA). A defesa do suspeito alega que o tiro foi acidental.

Meira Júnior foi preso ainda ontem, na casa de um familiar no bairro vizinho da Pituba e autuado por feminicídio, horas depois de levar a namorada até HGE (Hospital Geral do Estado) e deixar o local. Ela já chegou à unidade de saúde sem vida. Kezia foi atingida na madrugada do domingo, dentro da residência dele, no Terrazzo Rio Vermelho, um condomínio de alto padrão na orla da capital.

O advogado Domingos Arjones, que representa José Luiz de Britto Meira Júnior, afirmou ao UOL que o suspeito não teve intenção de atirar na namorada. Ele também nega que o cliente tivesse intenção de fugir, uma vez que a socorreu. Segundo Arjones, o criminalista alega que o tiro que acertou Kezia foi acidental e teria sido efetuado quando ele tentou tirar a arma das mãos dela, durante uma discussão do casal. Segundo a defesa, ele possuía porte legal da arma de fogo.

O que aconteceu foi uma tragédia, uma situação muito grave do ponto de vista emocional pra ele. Ele não esperava que isso acontecesse. [...] Ele está bastante abalado, e isso demonstra que foi uma tragédia na vida dele.
Domingos Arjones, advogado

A Justiça da Bahia converteu de flagrante para preventiva a prisão de Meira Júnior hoje. Em sua decisão, o juiz Horácio Moraes Pinheiro, da Vara de audiência de custódia de Salvador, refutou a versão de tiro acidental.

Entendemos que a tese sustentada pelo flagranteado, acerca da atipicidade da conduta ante a ausência de dolo, não se sustenta, haja vista as circunstâncias fáticas do crime, tendo sido a vítima deixada no hospital pelo autor do disparo, que evadiu em seguida.
Horácio Moraes Pinheiro, juiz

Ao converter a prisão em flagrante para preventiva, o juiz autorizou também que o suspeito fosse transferido para o regime domiciliar, diante da ausência de uma sala de Estado-Maior para abrigá-lo — como prevê a lei quando há o recolhimento de advogados. As saídas do suspeito estarão restritas a motivos de saúde ou para atender aos chamados judiciais do processo.

O advogado criminalista fazia parte da Comissão de Prerrogativas da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) na Bahia, entidade que, em março passado, encampou uma campanha contra o feminicídio. Depois da repercussão do caso envolvendo o seu membro, o colegiado decidiu afastá-lo temporariamente.

Muito a esclarecer

Na última foto publicada nas redes sociais, Kezia Stefany aparece sorridente à beira da piscina do residencial, com vista para a praia do Buracão, uma das mais famosas da cidade. Ela começou a se relacionar com Meira Júnior há dois anos.

Em janeiro de 2020, a jovem estrelou o videoclipe "Na Cocheira", do cantor e compositor Dong Boy. O clipe soma 1,7 milhão de visualizações.

O sepultamento de Kezia foi realizado em Feira de Santana (BA), a 100 km da capital baiana. Procurada pelo UOL, a família da vítima preferiu não se pronunciar sobre o caso.

Moradores do condomínio Terrazzo Rio Vermelho relataram à polícia terem ouvido gritos vindos do apartamento do advogado criminalista por volta das 4h de domingo. Em seguida, escutaram som de tiro e ligaram para o 190 da Polícia Militar. Eles disseram ainda ter visto o suspeito arrastando uma mulher desacordada pelos corredores do residencial, o que deixou um rastro de sangue no local.

Os delegados Zaira Pimentel e André Garcia informaram que a análise das imagens das câmeras de monitoramento do condomínio palco do crime e depoimentos de testemunhas auxiliarão em sua elucidação. "Não vamos dar nenhuma informação para não atrapalhar as investigações. A perícia já analisou a cena do crime, mas ainda nada pode ser divulgado", declararam em coletiva de imprensa.