Topo

Esse conteúdo é antigo

Varginha: quem são os mortos pela polícia na ação contra o 'novo cangaço'

Herculano Barreto Filho

Do UOL, em São Paulo

01/11/2021 22h00Atualizada em 05/11/2021 16h57

Relatório de inteligência da polícia de Minas Gerais, ao qual o UOL teve acesso, identificou os 26 suspeitos mortos na ação na madrugada deste domingo em Varginha (MG). Segundo a investigação, os suspeitos integravam uma quadrilha especializada em assaltos a banco aos moldes do "novo cangaço", tática também conhecida como "domínio de cidades".

De acordo com o documento, havia quatro núcleos de origem do grupo, identificados com base nos endereços dos suspeitos. Dois deles no interior de Minas Gerais, um em Goiânia (GO) e outro em Porto Velho (RO). Ao menos 14 dos mortos já responderam a processo criminal e quatro estavam foragidos, de acordo com levantamento junto ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça).

Segundo a Polícia Civil de Minas Gerais, os corpos foram identificados e liberados para as famílias. Sem sobreviventes e sem agentes feridos, a ação policial de Varginha foi a mais letal do país em casos apontados como "novo cangaço", segundo levantamento do UOL com base em dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Especialistas apontam semelhanças com a chacina da favela do Jacarezinho, zona norte do Rio, que deixou 28 mortos em maio deste ano —incluindo um policial civil.

A polícia afirma que os suspeitos estavam escondidos em duas chácaras na área rural de Varginha, onde planejavam um mega-assalto para roubar cerca de R$ 65 milhões de uma central de valores do Banco do Brasil na cidade.

Segundo a PM, "olheiros" do grupo abriram fogo contra os agentes, que revidaram. No local, os policiais afirmaram ter encontrado cerca de 40 kg em explosivos e armas de grosso calibre —entre elas, um fuzil ponto 50, com capacidade para abater um helicóptero.

Núcleo de Goiânia (GO) e Distrito Federal

nucleo goiania -  -
Eduardo Pereira Alves, Isaque Xavier Ribeiro e Zaqueu Xavier Ribeiro

  • Isaque Xavier Ribeiro - 27 anos. Tinha passagem pelo sistema prisional. De Goiânia (GO). Preso após ser acusado de ligação com uma quadrilha especializada em roubo de carros em 2011, é apontado pelas autoridades como suspeito de participar de outras ações de "domínio de cidades" e morava nos últimos anos em Uberlândia (MG)
  • Zaqueu Xavier Ribeiro, 40 anos. De Goiânia (GO). Irmão mais velho e comparsa de Isaque nos crimes, também foi preso em 2011 e é suspeito de participar de ações de "domínio de cidades. Assim como Isaque, morava em Uberlândia (MG) nos últimos anos
  • Darlan Ribeiro dos Santos - 41 anos. Em julho de 2018, foi preso por suspeita de integrar uma quadrilha especializada em roubo, receptação e adulteração de caminhões no Distrito Federal e em Goiás. Morava em Goiânia (GO)
  • Romerito Araújo Martins - 25 anos. Apontado como comparsa dos irmãos Isaque e Zaqueu
  • Eduardo Pereira Alves - 42 anos. Morava em Brasília

Núcleo de Rondônia e Maranhão

outros mortos em Varginha -  -
Adriano Garcia, Nunis Azevedo Nascimento e José Filho de Jesus Silva Nepomuceno

  • José Filho de Jesus Silva Nepomuceno - 27 anos. É maranhense, mas já estava nos últimos anos em Minas Gerais. Tinha mandado de prisão pendente por suspeita de participação em um roubo em outubro de 2020 com a tática conhecida como "novo cangaço" em Miguel Alves, no interior do Piauí
  • Nunis Azevedo Nascimento - 33 anos. Com mandado de prisão preventiva expedido pela Justiça por suspeita de envolvimento na explosão de um caixa eletrônico na Assembleia Legislativa de Porto Velho (RO) em janeiro deste ano, Nunis já foi preso por roubo e esteve em um grupo de 16 internos que conseguiu fugir da prisão. Morava em Porto Velho (RO)
  • Gerônimo da Silva Sousa Filho - 28 anos. Desde março, já tinha um mandado de prisão em aberto por homicídio. Em maio, foi acusado de mais um assassinato. É apontado como autor do assassinato de um empresário porque teria se irritado com o preço de uma consulta para seu cachorro
  • Wellington dos Santos Silva - 31 anos, natural de Parauapebas (PA). Respondeu por crimes como roubo e homicídio

Núcleo de Uberaba (MG)

nucleo Uberaba -  -
Dirceu Martins Netto, Gleisson Fernando da Silva Morais, Ítallo Dias Alves, Júlio César de Lira e Thalles Augusto Silva

  • Thalles Augusto Silva - Tinha 32 anos. Já foi condenado a dois anos de prisão por tentativa de homicídio praticada contra policiais militares. De acordo com a denúncia, de setembro de 2015, ele trocou disparos de arma de fogo com os agentes após participar de um assalto a uma loja de materiais de construção
  • Júlio César de Lira - 36 anos. Tinha passagem pelo sistema prisional
  • Dirceu Martins Netto - 24 anos. Natural de Rio Verde (GO)
  • Itallo Dias Alves - 25 anos
  • Gleisson Fernando da Silva Morais - 36 anos
  • Arthur Fernando Ferreira Rodrigues - 27 anos
  • Francinaldo Araújo da Silva - 44 anos
  • Adriano Garcia - 47 anos. Único dos suspeitos que morava em Varginha, onde o grupo foi encontrado. Foi condenado a dois anos e meio de prisão em fevereiro de 2017 por furto

Núcleo de Uberlândia (MG)

nucleo Uberlandia -  -
Evandro José Pimenta Júnior, Gilberto de Jesus Dias, Giuliano Silva Lopes, José Rodrigo Dama Alves e Raphael Gonzaga Silva

  • Raphael Gonzaga Silva - 27 anos. Tinha passagem pelo sistema prisional e estava foragido desde fevereiro de 2019, com uma condenação a cinco anos e meio de prisão no regime semiaberto por roubo
  • José Rodrigo Dama Alves - 33 anos. Tinha passagem pelo sistema prisional
  • Gilberto de Jesus Dias - 29 anos. Tinha passagem pelo sistema prisional
  • Evandro José Pimenta Júnior - 37 anos
  • Pietro Henrique Silva da Fonseca - 20 anos
  • Luiz André Felisbino - 44 anos. É natural de Itapemiri (GO)
  • Giuliano Silva Lopes - 32 anos. Um dos suspeitos de envolvimento em um assassinato em maio de 2017. Já tinha outros dois mandados de prisão em aberto por homicídio
  • Daniel Antônio de Freitas Oliveira - 36 anos
  • Ricardo Gomes de Freitas - 34 anos

A corporação informou que as vítimas foram retiradas com vida do local, informação contestada por especialistas em Segurança Pública ouvidos pelo UOL.

"É uma informação, no mínimo, questionável. É difícil imaginar que todos os suspeitos sobreviveram inicialmente a uma troca de tiros com armas de alto poder de fogo. [A retirada dos corpos] esvazia a investigação e o laudo de perícia de local. Não estou dizendo que houve uma adulteração da cena do crime, mas isso precisa ser investigado", analisou Cássio Thyone Almeida de Rosa, perito federal aposentado e conselheiro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Luis Felipe Zilli, sociólogo, pesquisador da Fundação João Pinheiro e membro do Fórum, entende que a ação poderia ter sido mais bem planejada.

"A Polícia Militar teve uma semana para planejar essa ação, que foi feita sem a participação da Polícia Civil. Com a morte dos suspeitos, também se perde a oportunidade de buscar informações que seriam fundamentais em investigações contra o novo cangaço no Brasil. A morte de todos eles sem prisão representa um fracasso da operação", criticou o sociólogo.

O Ministério Público de Minas Gerais e a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa investigam se houve algum tipo de irregularidade na operação, também monitorada pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

O governador de Minas, Romeu Zema (Novo), chamou os policiais envolvidos de "heróis". "Em Minas a criminalidade não tem vez. As forças de segurança do estado trabalham com inteligência e integração para impedir ações criminosas", disse no domingo.

O caso está sendo investigado pela Polícia Civil de Minas Gerais e pela própria PM, que instaurou um inquérito policial militar para apurar as circunstâncias da ocorrência.