Assassinato, tiroteio, fuga: os crimes atribuídos aos suspeitos de Varginha
Os crimes ligados aos suspeitos mortos na ação policial na madrugada deste domingo em Varginha (MG) envolvem assassinatos, assaltos a mão armada, confronto com integrantes das forças de segurança e fuga da cadeia, segundo a polícia. Na lista de delitos, ocorridos em Minas Gerais, Goiás, Rondônia e Piauí, há uma morte por um desentendimento banal com o dono de um pet shop, um mega-assalto a banco e um ataque a um caixa eletrônico dentro da sede da Assembleia Legislativa de Rondônia.
Segundo a Polícia Militar de Minas Gerais, os 26 homens mortos em uma chácara na área rural da cidade mineira faziam parte de uma quadrilha especializada em assaltos a agências bancárias aos moldes do "novo cangaço", tática também conhecida como "domínio de cidades". Na ação em Varginha, nenhum policial morreu ou ficou ferido. O Ministério Público de Minas Gerais e a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado vão investigar a operação.
Relatório de inteligência da polícia de Minas Gerais, ao qual o UOL teve acesso, identifica 20 dos suspeitos mortos na ação. Outros dois nomes constam em lista divulgada pela polícia no fim da tarde de hoje. Do total, ao menos 14 já responderam a processo criminal e 4 estavam foragidos.
Mandados de prisão em aberto
Dos suspeitos mortos identificados até o momento, quatro tinham mandados de prisão pendentes, segundo levantamento feito pelo UOL no banco de dados do CNJ (Conselho Nacional de Justiça).
Um deles era José Filho de Jesus Silva Nepomuceno, de 27 anos, investigado por um assalto aos moldes daquele que seria cometido em Varginha (MG). Ele tinha mandado por suspeita de participação em um roubo em outubro de 2020 com a tática conhecida como "novo cangaço" em Miguel Alves, no interior do Piauí.
Na ocasião, criminosos com armas de grosso calibre e explosivos fizeram moradores reféns para assaltar uma agência do Banco do Brasil. Ninguém se feriu.
Um caso bárbaro envolve Gerônimo da Silva Souza Filho. Desde março deste ano, ele já tinha um mandado de prisão em aberto por homicídio, segundo o site do CNJ.
Em maio, foi acusado de mais um assassinato. A Delegacia Especializada em Crimes Contra a Vida de Rondônia também pediu a sua prisão preventiva por apontá-lo como o autor do assassinato do empresário Henrique Fernandes Barbosa Silva, no centro de Porto Velho.
O motivo do crime foi, segundo a polícia, banal. Gerônimo teria se irritado com o preço de uma consulta para seu cachorro no estabelecimento de Henrique, que foi morto com um tiro no tórax enquanto dirigia, na Rua 13 de Setembro.
A lista de mandados em aberto ainda tem Raphael Gonzaga Silva, que estava foragido desde fevereiro de 2019, com uma condenação a cinco anos e meio de prisão, no regime semiaberto, por roubo, na comarca de Uberlândia (MG).
Adriano Garcia —o único de Varginha, que seria o caseiro de um dos sítios alugados pelos suspeitos— foi condenado a dois anos e meio de prisão, também em regime semiaberto, em fevereiro de 2017, por furto.
Explosão de caixa eletrônico em Assembleia
Morador de Porto Velho, capital de Rondônia, Nunis Azevedo Nascimento, 33, exibe uma extensa ficha criminal. Com mandado de prisão preventiva expedido pela Justiça por suspeita de envolvimento na explosão de um caixa eletrônico na Assembleia Legislativa da cidade em janeiro deste ano, Nunis já foi preso por envolvimento em um roubo.
Em julho de 2019, estava entre os 16 internos que desligaram uma câmera de vigilância para fugir do complexo penitenciário em Belém, no Pará, e passou a ter o rosto estampado em uma lista de criminosos perigosos foragidos. Mas isso não inibiu a sua participação em outros crimes.
Em março de 2020, apenas oito meses após a fuga, integrou um grupo criminoso envolvido em um assalto frustrado, que acabou em tiroteio, deixando um homem morto em Porto Velho (RO), voltando a figurar em uma lista de procurados da Polícia Civil. Agora, após a identificação entre os mortos de Varginha, teve o seu rosto exibido pela última vez em uma lista de suspeitos.
'Novo cangaço', assassinatos e irmãos na quadrilha
Assim como Nunis Azevedo Nascimento, Giuliano Silva Lopes, 32, também já teve o rosto em um cartaz da Polícia Civil. Natural de Uberlândia (MG), ele era um dos suspeitos de envolvimento no assassinato de Rafael Lopes Pace, em maio de 2017.
Segundo as investigações à época do crime, a vítima foi alvo de uma emboscada por supostamente ter delatado crimes. Júlio Honorato, também acusado pelo assassinato, foi preso na ocasião. Giuliano já tinha outros dois mandados de prisão em aberto por homicídio. O registro, no entanto, não consta atualmente no banco do CNJ.
Os irmãos Isaque e Zaqueu Xavier Ribeiro, de 27 e 40 anos, que integravam o núcleo de Goiânia (GO) do grupo reunido em Varginha (MG), foram presos por acusação de ligação com uma quadrilha especializada em um roubo de carros em março de 2011.
Já Thalles Augusto Silva, 32, foi condenado a dois anos de prisão por tentativa de homicídio praticada contra policiais militares em Uberaba (MG). De acordo com a denúncia, de setembro de 2015, ele trocou disparos de arma de fogo com os agentes após participar de um assalto a uma loja de materiais de construção.
O UOL não localizou representantes dos suspeitos mortos.
'Prisão dos suspeitos ajudaria a esclarecer crimes'
"O envolvimento dos suspeitos nessa série de crimes só reforça a ideia de que eles deveriam ter sido presos [não mortos], porque isso ajudaria a esclarecer crimes do tipo em outros estados. A ação foi mal planejada", disse o sociólogo Luis Felipe Zilli, pesquisador da Fundação João Pinheiro e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
A Polícia Militar de Minas Gerais informou que os suspeitos foram socorridos ainda com vida nas duas chácaras onde foram baleados. A informação é questionada por especialistas.
"É difícil imaginar que todos os suspeitos sobreviveram inicialmente a uma troca de tiros com armas de alto poder de fogo. [A retirada dos corpos] esvazia a investigação e o laudo de perícia de local. Não estou dizendo que houve uma adulteração da cena do crime, mas isso precisa ser investigado", afirmou Cássio Thyone Almeida de Rosa, perito criminal aposentado e conselheiro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
O Ministério Público de Minas Gerais e a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa investigarão se houve algum tipo de irregularidade na operação, também monitorada pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). O caso está sendo investigado pela Polícia Civil de Minas Gerais e pela própria PM, que instaurou um inquérito policial militar para apurar as circunstâncias da ocorrência.
Confira, abaixo, a lista dos suspeitos identificados:
Núcleo de Goiânia (GO) e Distrito Federal
- Isaque Xavier Ribeiro - 27 anos. Tinha passagem pelo sistema prisional. De Goiânia (GO). Preso após ser acusado de ligação com uma quadrilha especializada em roubo de carros em 2011, é apontado pelas autoridades como suspeito de participar de outras ações de "domínio de cidades" e morava nos últimos anos em Uberlândia (MG)
- Zaqueu Xavier Ribeiro, 40 anos. De Goiânia (GO). Irmão mais velho e comparsa de Isaque nos crimes, também foi preso em 2011 e é suspeito de participar de ações de "domínio de cidades. Assim como Isaque, morava em Uberlândia (MG) nos últimos anos
- Darlan Ribeiro dos Santos - 41 anos. Em julho de 2018, foi preso por suspeita de integrar uma quadrilha especializada em roubo, receptação e adulteração de caminhões no Distrito Federal e em Goiás. Morava em Goiânia (GO)
- Romerito Araújo Martins - 25 anos. Apontado como comparsa dos irmãos Isaque e Zaqueu
- Eduardo Pereira Alves - 42 anos. Morava em Brasília
Núcleo de Rondônia e Maranhão
- José Filho de Jesus Silva Nepomuceno - 27 anos. É maranhense, mas já estava nos últimos anos em Minas Gerais. Tinha mandado de prisão pendente por suspeita de participação em um roubo em outubro de 2020 com a tática conhecida como "novo cangaço" em Miguel Alves, no interior do Piauí
- Nunis Azevedo Nascimento - 33 anos. Com mandado de prisão preventiva expedido pela Justiça por suspeita de envolvimento na explosão de um caixa eletrônico na Assembleia Legislativa de Porto Velho (RO) em janeiro deste ano, Nunis já foi preso por roubo e esteve em um grupo de 16 internos que conseguiu fugir da prisão. Morava em Porto Velho (RO)
- Gerônimo da Silva Sousa Filho - 28 anos. Desde março, já tinha um mandado de prisão em aberto por homicídio. Em maio, foi acusado de mais um assassinato. É apontado como autor do assassinato de um empresário porque teria se irritado com o preço de uma consulta para seu cachorro
- Wellington dos Santos Silva - 31 anos, natural de Parauapebas (PA). Respondeu por crimes como roubo e homicídio
Núcleo de Uberaba (MG)
- Thalles Augusto Silva - Tinha 32 anos. Já foi condenado a dois anos de prisão por tentativa de homicídio praticada contra policiais militares. De acordo com a denúncia, de setembro de 2015, ele trocou disparos de arma de fogo com os agentes após participar de um assalto a uma loja de materiais de construção
- Júlio César de Lira - 36 anos. Tinha passagem pelo sistema prisional
- Dirceu Martins Netto - 24 anos. Natural de Rio Verde (GO)
- Itallo Dias Alves - 25 anos
- Gleisson Fernando da Silva Morais - 36 anos
- Arthur Fernando Ferreira Rodrigues - 27 anos
- Francinaldo Araújo da Silva - 44 anos
- Adriano Garcia - 47 anos. Único dos suspeitos que morava em Varginha, onde o grupo foi encontrado. Foi condenado a dois anos e meio de prisão em fevereiro de 2017 por furto
Núcleo de Uberlândia (MG)
- Raphael Gonzaga Silva - 27 anos. Tinha passagem pelo sistema prisional e estava foragido desde fevereiro de 2019, com uma condenação a cinco anos e meio de prisão no regime semiaberto por roubo
- José Rodrigo Dama Alves - 33 anos. Tinha passagem pelo sistema prisional
- Gilberto de Jesus Dias - 29 anos. Tinha passagem pelo sistema prisional
- Evandro José Pimenta Júnior - 37 anos
- Pietro Henrique Silva da Fonseca - 20 anos
- Luiz André Felisbino - 44 anos. É natural de Itapemiri (GO)
- Giuliano Silva Lopes - 32 anos. Um dos suspeitos de envolvimento em um assassinato em maio de 2017. Já tinha outros dois mandados de prisão em aberto por homicídio
- Daniel Antônio de Freitas Oliveira - 36 anos
- Ricardo Gomes de Freitas - 34 anos
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