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Famílias são despejadas a pedido de Arquidiocese em SP: 'Ninguém avisou'

Polícia Militar acompanhou a retirada das famílias - Reprodução/ Instagram
Polícia Militar acompanhou a retirada das famílias Imagem: Reprodução/ Instagram

Simone Machado

Colaboração para o UOL, em São José do Rio Preto (SP)

17/11/2021 20h51Atualizada em 19/11/2021 11h44

Cinco famílias que viviam em um casarão na rua professora Sebastiana Silva Minhoto, no Tatuapé, em São Paulo, foram despejadas na manhã de hoje. Os moradores alegam que não foram avisados sobre a reintegração de posse do imóvel e que, sem terem para onde ir, ficaram com seus pertences nas ruas do bairro.

Eles contam que chegaram ao casarão, que pertenceria à Arquidiocese de São Paulo, há cerca de 1 ano e meio. À época, o espaço estava abandonado e sendo usado apenas para descarte de materiais.

"A gente veio para cá para ter um endereço fixo e poder construir a vida, trabalhar e ter escola para as crianças. Quando chegamos o local estava abandonado, cheio de lixo, nós o limpamos e estávamos mantendo ele conservado. Só viviam famílias aqui", afirma ao UOL a artesã Fernanda Cristiane dos Santos Martinho, uma das moradoras despejadas.

O desempregado Carlos Henrique Ferreira, de 33 anos, também morava no imóvel com a esposa Tauana Oliveira da Silva, de 26 anos, e dois filhos, de 4 e 5 anos, desde junho do ano passado. Ele relata que o grupo foi surpreendido com a chegada da Polícia Militar e do oficial de Justiça por volta das 6h.

"Eu estava acordando para arrumar as crianças para levar na escola quando o caminhão chegou e fomos avisados que seríamos retirados do local. Ninguém nos avisou ou deu um prazo para que a gente pudesse buscar um lugar. Simplesmente chegaram e mandaram a gente pegar nossas coisas", conta.

Durante a reintegração alguns moradores chegaram a se exaltar. Em um vídeo que circula nas redes sociais, uma mulher aparece discutindo com os policiais.

Tauane, esposa de Carlos, é a mulher que aparece nas imagens. Sem saber para aonde iria com os filhos, ela chegou a discutir com um policial militar e levada para a delegacia. A mulher foi liberada horas mais tarde após prestar depoimento.

Ainda segundo os moradores ouvidos pela reportagem do UOL, outras quatro famílias, incluindo uma mulher grávida na fase final de gestação e quatro crianças, também viviam no local e estão sem abrigo.

"A gente sonha em ter uma vida melhor. Eu estou estudando, prestei vestibular esse ano e quero me formar em história. Mas agora não sei mais o que vou fazer, sem ter endereço tudo fica mais complicado. As crianças vão ter que deixar a escola, nossos sonhos estão desmoronando", acrescenta o morador.

O desempregado e a família pegaram as poucas roupas e móveis que têm e seguiram para a Ocupação Viaduto Alcântara Machado, na Mooca, Zona Leste da capital paulista, onde vão ficar até encontrarem um novo local.

"A gente quer ter endereço para poder trabalhar e estudar", diz.

Em nota a Arquidiocese de São Paulo explicou que não estavam sendo realizadas atividades no imóvel devido à pandemia, mas que o local é usado para ações sociais.

"Quanto à assistência a uma mulher grávida e às crianças, foi oferecido o chamamento da Assistência Social da PMSP, imediatamente rechaçada pelos ocupantes diante das más condições de moradia que os próprios ocupantes ofereciam aos menores e o receio de constatação pelo Serviço Social Municipal. Cabe informar que todos os pertences dos ocupantes foram retirados em cinco caminhões pagos pela Mitra Arquidiocesana de São Paulo", diz o comunicado.

Em nota, a prefeitura de São Paulo afirmou, por meio da Procuradoria-Geral do Município, "que esse processo judicial se trata de reintegração de posse ajuizada pelo proprietário citado na reportagem contra os ocupantes. A Municipalidade de São Paulo não é parte do processo e não foi intimada para acompanhar a ação".

E acrescentou: "A Secretaria Municipal de Habitação informou que as famílias poderão realizar o cadastro da COHAB-SP para inserção nos programas habitacionais do município".