Salgueiro: Ao MP, Bope detalha tiros no mangue e diz não ter visto mortos
Os oito policiais do Bope que dispararam tiros durante a ação policial que terminou com oito corpos encontrados em um mangue, no Complexo do Salgueiro, detalharam o tiroteio e disseram não ter visto mortos. Eles prestaram depoimento ao MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) nesta semana sobre a ação do dia 21 de novembro, um domingo.
Os depoimentos foram prestados à 2ª Promotoria de Justiça junto à Auditoria da Justiça Militar, que apura as circunstâncias da ação — se houve alguma fraude processual, como não terem relatado as mortes ou isolado o local para perícia. Essa investigação não apura os homicídios. Além dos corpos no mangue, um outro homem foi morto na comunidade no mesmo fim de semana.
Os PMs foram ouvidos ao longo de toda a semana, sendo cinco depoimentos na segunda-feira (29), dois na terça-feira (30) e dois na quarta-feira (1º), com o último previsto para hoje (2).
Conforme revelado pelo UOL, 75 policiais do Bope participaram da ação, segundo consta em documento interno. Foram ouvidos, além do comandante da ação, os agentes da equipe Delta que protagonizaram o confronto que teria resultado nas mortes e um agente da equipe Charlie, que esteve na favela no sábado (20).
A Charlie foi a equipe do Bope que entrou primeiramente na favela, logo após a morte do sargento do 7º BPM Leandro da Silva, para "estabilizar o terreno" e resgatar policiais do 7º BPM que teriam ficado na região. Essa foi a justificativa oficial do batalhão para fazer a operação "excepcional". Uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) restringe operações nas favelas do estado do Rio de Janeiro durante a pandemia de covid-19, salvo casos de excepcionalidade.
O que dizem os depoimentos
Os relatos da equipe Delta ao MP-RJ são similares. Os policiais afirmam que entraram na localidade de Palmeiras em dois veículos blindados (os chamados caveirões), sempre sob ataques de homens armados. De acordo com os depoimentos, cabia a dois policiais a função de tirar as barricadas — sob tiros — para o blindado andar nas ruas. Ao mesmo tempo, outra dupla "dava cobertura" para os colegas, entrando em confronto com os homens.
De acordo com os relatos, conforme o caveirão avançava na favela, os traficantes se escondiam dentro de uma igreja abandonada que fica às margens do mangue. Acuados, os homens armados ("muito mais de dez") entraram no mangue, que tem vegetação alta e fechada, e continuaram atirando.
Os policiais afirmam que tentaram acessar o mangue por três ruas, sendo sempre atacados a tiros, e só conseguiram a aproximação em uma quarta rua, quando os tiros cessaram.
Com a instabilidade do terreno alagado e a proximidade do anoitecer, a equipe recuou e aguardou orientações do comandante, que ordenou a saída da favela para registro na 72ª DP das drogas encontradas na igreja abandonada.
De acordo com esses depoimentos, os agentes da Delta não encontraram feridos ou mortos durante ou após a ação, por isso não há relatos do tipo em seus registros na delegacia ou pedido de perícia no local.
Os corpos no mangue foram retirados por moradores, e só depois a perícia foi acionada. O primeiro dos mortos, antes do tiroteio no mangue, foi resgatado com vida mas não resistiu, de acordo com os registros na Polícia Civil e nota da Polícia Militar.
Agora, o MP-RJ pretende ouvir familiares das vítimas e testemunhas do confronto.
MP-RJ estuda reconstituição da ação
Depois de ouvir os policiais, o MP-RJ estuda uma reconstituição da ação policial no Complexo do Salgueiro. Mas a principal preocupação é a segurança dos moradores. Diante da presença de tantos homens armados na localidade, há receio da realização de uma nova ação policial na região, para tornar possível a entrada de grupos de policiais e profissionais necessários.
Não há data prevista para a reconstituição, considerada importante para a checagem de todos os relatos. No caso do Salgueiro, o MP-RJ também pretende confirmar a localização das construções e ruas citadas nos depoimentos, além de responder a outras perguntas que possam surgir nas investigações e nos depoimentos futuros.
Além dos depoimentos ao MP-RJ, os policiais também prestam ao longo desta semana depoimentos na DH (Divisão de Homicídios).
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