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'Tribunal do tráfico' matou 3 suspeitos por mortes de crianças, diz polícia

Lola Ferreira

Do UOL, no Rio

09/12/2021 19h36

A Polícia Civil do Rio de Janeiro informou hoje ter elementos que indicam que três dos cinco principais suspeitos de envolvimento nas mortes dos três meninos em Belford Roxo (RJ) foram assassinados a mando da cúpula da facção criminosa CV (Comando Vermelho) no chamado "tribunal do tráfico". As crianças desapareceram em dezembro de 2020.

Segundo as investigações, os meninos foram mortos após furtarem um passarinho de um tio do traficante Wiler Castro da Silva, conhecido como Estala. As crianças morreram após uma sessão de tortura na comunidade do Castelar, onde moravam no município da Baixada Fluminense.

A polícia diz que o crime foi autorizado por Edgard Alves de Andrade, o Doca, e José Carlos dos Prazeres Silva, o Piranha, chefes do tráfico da comunidade, controlada pelo CV.

Além deles, a traficante Ana Paula da Rosa Costa, conhecida como Tia Paula, também tinha conhecimento das mortes e, depois, foi responsável por esconder os corpos, segundo a polícia.

Com exceção de Doca, que está foragido, a Polícia Civil diz acreditar que Estala, Piranha e Tia Paula estejam mortos após decisão da cúpula do CV em razão da repercussão do caso.

Apesar disso, os três estão entre os indiciados pela morte das crianças. Sem corpos e provas concretas dos homicídios, eles são tratados como vivos durante o processo criminal.

O delegado Uriel Alcântara, da DHBF (Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense), afirmou que há investigações paralelas para encontrar e agrupar provas dos homicídios. Quando isso acontecer, as acusações contra os três serão extintas.

A polícia diz que um quinto traficante suspeito de envolvimento nas mortes das crianças está preso —ele não teve a identidade revelada. Um sexto homem responde em liberdade por ocultação dos corpos dos meninos.

Mortes após decisão do CV

De acordo com a Polícia Civil, o primeiro a ser morto foi Estala, convocado para uma reunião em 25 de agosto com a cúpula do CV na Vila Cruzeiro, na Penha, zona norte do Rio. Segundo as investigações, ele foi assassinado na favela e seu corpo não foi encontrado.

Na mesma época, Piranha perdeu, a mando da cúpula da facção, a liderança das comunidades que chefiava. Por volta de 9 de outubro, ele foi assassinado, segundo a polícia.

Também em outubro, por volta do dia 6, Tia Paula foi assassinada.

Um dia antes, um corpo carbonizado foi encontrado em um carro em Belford Roxo. A Polícia Civil investiga se era do traficante Leandro Alves de Oliveira, o Farol, também no Castelar. Não há informações sobre se Farol tem ligação com a morte das crianças.

Um mês depois, em 7 de novembro, outro corpo carbonizado foi localizado. A polícia investiga se era de Wagner Costa Teixeira, o Guil, irmão de Tia Paula. Assim como Farol, não está esclarecida uma possível participação de Guil na morte dos meninos.

Segundo as investigações, houve um traficante que tentou fugir da sanção da cúpula do CV. Victor Hugo dos Santos Goulart, o VT, ocupava o mesmo cargo que Estala: era gerente-geral.

O nome dele surge em um dos áudios interceptados pela Polícia Civil. Na mensagem, um traficante se refere a VT como "otário" e pessoa de sorte, "pois iria morrer pelos traficantes" e afirma que ele "meteu o pé porque viu que estava morrendo geral no tribunal do tráfico".

Em outro áudio, uma mulher conversa com outra e comenta que "VT" se entregou à polícia para não ser morto pelo "tribunal do tráfico". Ele foi preso em 9 de novembro. A polícia não informou se ele tem ligação com as mortes dos meninos.

Os corpos das crianças até hoje não foram encontrados.

"Sabemos que [os corpos] foram jogados no rio, nós diligenciamos em três locais distintos, mas o lapso temporal torna uma diligência em busca dos corpos inviável [em alguns pontos]. As buscas pelos corpos não estão encerradas. Qualquer informação que a gente tenha, vai analisar", disse Uriel Alcântara.