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Padre Júlio: Vi um bebê na rua tomando água com maisena para matar a fome

Do UOL, em São Paulo

17/12/2021 12h52Atualizada em 17/12/2021 13h57

A reportagem optou por borrar o rosto da mulher e da criança na imagem que ilustra esta matéria para não expô-las.

Em relato ao UOL News, o padre Júlio Lancellotti disse que ajudou uma mãe, de 21 anos, e um bebê de apenas um mês que estava tomando água com maisena para tentar amenizar a fome. Segundo o padre, a mãe e a criança foram encontradas na manhã de hoje em uma barraca que estava sobre uma calçada do bairro da Mooca, na zona leste de São Paulo.

"Estamos solicitando à prefeitura um local de acolhimento. A criança ficou internada durante um tempo por nascer prematuro e agora com um mês, estando junto da mãe na rua, ela não conseguiu amamentar porque durante todo o tempo de hospitalização acabou não amamentando a criança e estava misturando água com maisena para amamentar", afirmou.

O padre explicou que assim que viu a situação conseguiu uma lata de leite para dar à criança no mesmo instante.

Se você visse o momento em que aquela criança pegou o bico da mamadeira e tomou aquele leite, ninguém aguentou perto e os próprios moradores de rua se emocionaram de ver a luta de uma criança de um mês com fome, com sede. Estamos vivendo uma crise humanitária sem precedentes.
Padre Júlio Lancellotti em entrevista ao UOL News

Júlio explicou que a criança tinha sinais de desidratação e foi levada a uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e também solicitou que a prefeitura levasse a jovem e o bebê para um abrigo.

"Nós temos que esperar no mínimo quatro horas para ter uma resposta porque a prefeitura não é capaz de dar resposta em uma hora. Essa burocracia institucional é desumana", denunciou o padre, completando posteriormente que "respostas burocráticas não adiantam".

Crise humanitária

Para o padre, o país encontra hoje um número muito maior de pessoas em situação de rua do que em anos anteriores, sendo muito expressivo o número de mulheres, crianças e idosos nesta condição.

"Estamos vivendo uma situação em que alguns grupos familiares têm que escolher entre ter como morar ou ter como comer. E muitos que ainda mantém um lugar precário para dormir, eles têm que ir para rua para conseguirem comida, esperarem alguma doação, mas sempre em uma incerteza."

Padre Júlio declarou que a crise humanitária vivenciada no país atualmente também é um reflexo do "desdém" e da falta de respostas e ações do poder público.