Topo

Esse conteúdo é antigo

Homofobia: homem agride convidada de festa de aniversário em Eldorado (SP)

Jovem tem blusa rasgada em ataque homofóbico em Eldorado (SP) - Reprodução/Arquivo Pessoal
Jovem tem blusa rasgada em ataque homofóbico em Eldorado (SP) Imagem: Reprodução/Arquivo Pessoal

Maurício Businari

Colaboração para o UOL, em Santos

19/12/2021 17h54Atualizada em 20/12/2021 09h38

Uma jovem de 19 anos foi agredida verbal e fisicamente por um homem durante uma festa de aniversário em Eldorado, no interior de São Paulo. Segundo relatos dela e de testemunhas, após ter proferido ofensas homofóbicas, ele a teria agredido fisicamente e ainda tentado enforcá-la.

O suspeito é tio da aniversariante, que é amiga de infância da jovem agredida. O caso ocorreu no último final de semana e a polícia abriu inquérito para apurar os fatos. Até o momento, ninguém foi preso.

O aniversário, para qual a jovem havia sido convidada, estava sendo realizado em uma chácara a poucos quilômetros da cidade.
"Era a festa de uma amiga minha de infância, ela estava comemorando 20 anos", contou a vítima ao UOL, pedindo para não ser identificada. "Nos conhecemos há muito tempo, crescemos juntas. Mas eu nunca tinha visto esse tio dela".

A jovem afirma que se dirigiu à chácara onde a festa seria realizada com um grupo de amigos, na noite do dia 11 (sábado). Ela lembrou que todos foram muito bem recebidos e se divertiram muito.

Agressão na madrugada

Por volta das 3h do domingo, quando a comemoração já estava quase para terminar, um tio da aniversariante se aproximou do grupo em que ela estava e a segurou pelo ombro. Nesse momento, começaram as ofensas.

"'Você não é bem-vinda aqui, você é uma vergonha, não tinha que estar aqui' foi o que ele disse primeiro. Depois, começou a me xingar e me pegou pelo pescoço", contou a vítima.

"A esposa dele, que é tia da minha amiga, tentou puxar ele, tentou acalmar, mas ele empurrou ela com tanta força que ela caiu no chão, longe da gente. Foi nessa hora que ele me jogou no chão também e subiu em cima de mim, apertando ainda mais o meu pescoço".

Os amigos da jovem, que viram toda a cena, partiram para cima do homem, na intenção de contê-lo.

"Eu mesma fiquei sem ação. Não consegui nem me defender. Eu só gritava: 'mano, mas do que você está falando? Para, você está me machucando''. Mas ele não me ouvia. Quando conseguiram arrancar ele de cima de mim, eu corri para o banheiro com um amigo. E chorei. Chorei muito mesmo. Eu fiquei apavorada".

A jovem disse que familiares da aniversariante tentaram acalmá-la, contornar a situação.

"Mas eu estava assustada e me sentindo humilhada. Só queria ir para casa. Voltei então com um amigo, que ficou comigo até eu me acalmar, até ele ter certeza que estava tudo bem. Quando entrei em casa, contei tudo para a minha avó. E ela me deu todo o apoio, dizendo que assim que amanhecesse a gente ia tomar providências".

Na manhã seguinte, os avós, com quem a jovem mora, acionaram o pai e a madrasta, que a levaram à delegacia da cidade, onde registraram um boletim de ocorrência por injúria racial e lesão corporal. Ela passou por exame de corpo de delito.

O suspeito da agressão, a vítima e as testemunhas do caso já foram ouvidas e o inquérito encontra-se em fase de diligências finais. Assim que for finalizado, ele será encaminhado para o poder judiciário.

ELDORADO - Ivy Wiens/Arquivo Pessoal - Ivy Wiens/Arquivo Pessoal
Parentes e amigos da vítima fizeram protesto contra homofobia em Eldorado (SP)
Imagem: Ivy Wiens/Arquivo Pessoal

Ato contra a homofobia

No dia 16 de dezembro, familiares e amigos da vítima realizaram um ato contra a homofobia pelas ruas de Eldorado, cidade onde mora a mãe do presidente da República, Jair Messias Bolsonaro.

Portando faixas e cartazes em repúdio ao preconceito e pedindo justiça, eles se encontraram em frente à Igreja Nossa Senhora da Guia e caminharam até o Fórum da cidade. Durante o percurso, os manifestantes pararam em frente à casa da jovem agredida para demonstrar apoio.

Por meio de nota, a prefeitura do município declarou que repudia qualquer violência verbal ou física perpetrada contra a comunidade LGBTQIA+. "A sociedade é plural e o direito à igualdade e à diferença é uma de suas vertentes. Fomentar o respeito à orientação sexual e a identidade de gênero é um dever do Estado e de toda a sociedade para que tenhamos uma sociedade mais justa no respeito à diversidade sexual", diz o comunicado.

Uma semana depois do episódio, a jovem diz que tem evitado sair de casa, temendo que o suspeito possa querer vingança após ela tê-lo denunciado. "Eu espero, de coração, que a justiça seja feita, que esse inquérito realmente dê algum resultado. Porque, de verdade, eu tenho medo do que pode acontecer se o caso não andar. Não sei do que esse homem é capaz".

Ela afirmou que já conversou com a amiga responsável pela festa e diz que ela está muito envergonhada e triste pelo que aconteceu. "Ela me contou que esse homem é marido da tia dela e que ela não sabe o que fazer para consertar o que aconteceu, ela está muito abalada também", concluiu.