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Com postos de saúde ilhados, equipes atendem em barcos em cidade da Bahia

Além de atender, os barcos ainda estão servindo de transporte de moradores e também das equipes - Divuglação
Além de atender, os barcos ainda estão servindo de transporte de moradores e também das equipes Imagem: Divuglação

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL*, em Maceió

27/12/2021 22h54Atualizada em 27/12/2021 23h20

Equipes de saúde do município de Wenceslau Guimarães, na Bahia, atenderam hoje pacientes em pequenos barcos que navegaram pelas ruas alagadas da cidade. Segundo Felipe Lisboa, coordenador da Vigilância Sanitária do município (a 290 km de Salvador), os atendimentos ocorreram para não deixar os pacientes sem acesso à atenção primária saúde, uma vez que os postos ficaram ilhados após as fortes chuvas.

"Os postos de saúde não foram alagados, mas as estradas de acesso para alguns bairros onde os postos ficam localizados foram. Esse barco da foto [acima] estava atendendo hoje na Barra João Romão", afirma Lisboa. Wenceslau Guimarães está entre os cem municípios que situação de emergência reconhecida pelo governo estadual.

Nos últimos dias, as fortes chuvas na Bahia, sobretudo no sul do do estado, já afetaram mais de 470 mil pessoas, deixando 58 cidades debaixo d'água e 31,4 mil desabrigados, segundo último balanço divulgado pela Defesa Civil — 20 pessoas morreram e 358 ficaram feridas.

Uma base de apoio às vítimas das chuvas foi montada em Ilhéus, onde o governador Rui Costa (PT) vai passar a noite. "Conto com a ajuda de vocês para vencer essa tragédia que, na história recente da Bahia, eu não me lembro de outra igual, com essa dimensão. Já tivemos tragédias localizadas, mas com essa dimensão, não me lembro", disse, em nota.

Em Wenceslau Guimarães, barcos estão servindo ainda para transportar moradores e também as equipes de funcionários. Em uma outra fotografia enviada ao UOL (abaixo), um médico divide o pequeno meio de transporte com uma paciente em direção a um posto de saúde.

Barco leva médico e paciente do PSF - Divulgação - Divulgação
Barco leva médico e paciente do PSF
Imagem: Divulgação

"O médico aí, que se chama Edvaldo, estava indo para o PSF [Posto de Saúde da Família] do bairro Aliança, que só tem acesso por barco; e uma paciente foi com ele", diz.

Ainda segundo o coordenador, o município enfrenta ainda uma série problemas pelas chuvas. O rio que corta a cidade está com nível alto e o centro comercial segue debaixo d'água. "O centro está ainda dois metros embaixo d'água. Temos vários locais que só se tem acesso de barco", explica.

"O nosso hospital, porém, está em pleno funcionamento. Conseguimos abrir também alguns postos de saúde. Tivemos que levar alguns profissionais de barco porque está tudo muito alagado", afirma.

O município de Wenceslau Rodrigues tem grande parte dos moradores em áreas rurais. Segundo Lisboa, são mais de 100 km de estradas de terra. "Hoje funcionaram aqui dois PSFs na cidade, e outros dois 2 da zona rural. Esses que não abriram é porque eram distantes, não tinha como chegar porque estavam ilhados. Mas amanhã a ideia é abrir todos, porque a chuva está baixando", relata.

O coordenador afirma ainda que muitos locais seguem sem energia elétrica, e um dos setores afetados é a central de medicamentos do município —que está sem funcionar desde sexta-feira. "O pessoal desligou a parte elétrica porque estava dando choque, mas os medicamentos estão sendo entregues nos postos de saúde", diz.

Nesta terça-feira (28), os ministros da Saúde, Marcelo Queiroga, do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, e da Cidadania, João Roma, devem sobrevoar as regiões mais afetadas do estado — e em seguida conceder uma entrevista coletiva em Ilhéus. Ainda não se sabe se o presidente Jair Bolsonaro (PL), que passa dias de folga em Santa Catarina, também fará parte dessa comitiva.

Estradas bloqueadas

Os estragos causados pelas chuvas na Bahia também provocaram interdições em rodovias federais — entre elas, na BR-101, uma da mais importantes do estado. Até as 23h de hoje, havia sete bloqueios confirmados pela PRF-BA (Polícia Rodoviária Federal da Bahia). São eles:

  • BR-101: três trechos com interdições parciais, sendo um na altura da cidade de Itapebi (km 660) e dois em Presidente Tancredo Neves (km 314 e km 316). Todas foram provocadas por desmoronamentos ou queda de barreiras;
  • BR-330: bloqueio total em Jequié, onde houve deslizamento, queda de árvores e alagamentos na altura do km 792. Na mesma rodovia, o afundamento de parte do asfalto no km 806 também interditou um trecho na altura de Ubatã;
  • BR-349: em Santa Maria da Vitória, no km 830, houve afundamento da pista. A interdição é total;
  • BR-420: risco de queda de uma ponte levou à interdição parcial no km 244, em Laje.

Já o número de rodovias estaduais bloqueadas chegou hoje a 37, segundo a Seinfra (Secretaria de Infraestrutura) do governo da Bahia. A relação de todas as pistas afetadas pode ser consultada neste link.

Por que chove tanto?

Dois fenômenos meteorológicos foram responsáveis pelas chuvas fortes que atingem a Bahia: a ZCAS (Zona de Convergência do Atlântico Sul) e a frente fria vinda do Espírito Santo.

A ZCAS é um dos principais sistemas meteorológicos causadores de chuva no Brasil durante o verão. É formada por uma faixa de nuvens que normalmente se estende do sul da Amazônia até a região Sudeste, abrangendo também o Centro-Oeste. Se localizada mais ao sul do que o normal, pode atingir estados como Paraná e Santa Catarina; se mais ao norte, como agora, afeta a Bahia, o Piauí e até o Maranhão.

"Foram dois episódios de grande intensidade [entre 7 e 12 de dezembro e às vésperas do Natal] que aconteceram no mesmo local, num curto espaço de tempo. A região já havia sido castigada e o solo estava encharcado, o que contribuiu para um impacto maior para a população", explicou o meteorologista do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), Mamedes Luiz Melo.

*Colaborou Anaís Motta, em São Paulo.