BA: Bombeiros alertam para enchentes em 4 cidades após abertura de barragem
Em um cenário caótico devido às fortes chuvas que caíram na Bahia nos últimos dias, o Corpo de Bombeiros agora alerta para o risco de mais enchentes em quatro cidades, que serão afetadas pela abertura de comportas de uma barragem de Minas Gerais em direção ao sul do estado.
Segundo a corporação, o volume de água deverá ser triplicado até o fim do dia de hoje (28). Com isso, a corporação emitiu um comunicado, alertando as prefeituras para a necessidade de retirada imediata de moradores de áreas ribeirinhas em Itambé, Canavieiras, Mascote e Cândido Sales.
A região já sofreu prejuízos por causa das chuvas nos últimos dias. Em Itambé, por exemplo, o Rio Verruga transbordou. Até ontem, a prefeitura calculava que 600 famílias foram atingidas e pelo menos 60 casas desmoronaram.
Juntos, os quatro municípios têm população estimada de 93 mil habitantes, segundo dados do IBGE. Os bombeiros não confirmam o número exato de pessoas que vivem nas áreas que podem ser atingidas pelas novas cheias.
Em mensagem gravada em vídeo, o coronel Adson Marchesini, comandante do Corpo de Bombeiros no estado, fez um apelo, reforçando para a necessidade de uma ação preventiva.
Os moradores da região ribeirinha devem procurar abrigos para evitar um mal maior."
Adson Marchesini, comandante do Corpo de Bombeiros
Até o momento, as chuvas que atingem a Bahia deixaram 20 mortos, 358 feridos e mais de 470 mil pessoas atingidas, segundo dados divulgados no fim da tarde de ontem (27) pela Defesa Civil.
São 116 cidades afetadas —100 delas decretaram situação de emergência, o equivalente a 24% dos 417 municípios baianos, praticamente um em cada quatro.
Ainda de acordo com o levantamento, feito com dados enviados pelas prefeituras e consolidados pelo governo da Bahia, mais de 60 mil pessoas precisaram deixar as suas casas —31.405 delas estão desabrigadas e precisam de assistência do governo para ter uma moradia temporária.
A extensão da destruição é o que impressiona. Parece que houve uma guerra. As crateras, as barragens que foram levadas, as pontes, o dano à infraestrutura é enorme. Nossos técnicos estão avaliando os danos, mas ainda não temos esse dado [valor para reconstrução] concreto."
Rui Costa (PT), governador da Bahia
"Temos quase 80 cidades com decreto de calamidade. Pelo menos 50 cidades têm casas debaixo d'água e com extensões grandes. E agora, quando a água começa a baixar, a gente vê o grande prejuízo que foi provocado", completou o governador, que está em um gabinete avançado em Ilhéus.
Costa anunciou a criação de um auxílio financeiro do governo destinado às famílias atingidas pelas chuvas e a extensão da tarifa social da Embasa (Empresa de Águas e Saneamento da Bahia) para todos os imóveis que tiveram prejuízos com as enchentes nos municípios em situação de emergência.
Segundo o governador, as casas serão construídas em regiões com menor risco de novas tragédias. "Não construiremos casas na beira do rio. Todas têm que estar longe do rio, em lugares altos. As casas construídas pelo governo estadual serão assim. Se no passado alguém não pensou nisso, nós temos que corrigir esse erro", disse.
Em meio ao caos, há casos de luta pela sobrevivência nas cidades atingidas pelas chuvas. Como a história da então gestante Amanda Santana, 26, que abandonou a casa prestes a ser alagada em Ilhéus na tarde de domingo (26) e foi levada às pressas a um hospital, onde nasceu a sua filha Aysha.
Em Itabuna, o aposentado João Alves Nascimento, 71, foi resgatado de casa quando a água já estava na altura do seu peito só com a roupa do corpo e os documentos. A imagem do resgate viralizou nas redes sociais. Na mesma cidade, os próprios moradores usaram um colchão inflável para resgatar uma idosa de 102 anos da laje da casa onde ela mora.
Mas nem todas as vítimas tiveram a mesma sorte. "Algumas pessoas só estão com a roupa do corpo, nem documentos têm, e têm que recomeçar sua vida inteira", relatou o governador.
Situação das rodovias no estado
Ontem, a Polícia Militar liberou parcialmente oito rodovias. Entre elas, o trecho da serra do Marçal, na BA-263, que liga as cidades de Itambé, Vitória da Conquista, Itapetinga e Itabuna, com a utilização apenas de uma das vias e revezamento de veículos para subida e descida.
Em Uruçuca, o km 27 da BA-262, a circulação também está liberada, após o nível de água diminuir. Entretanto, os policiais recomendam que os motoristas reduzam a velocidade e redobrem a atenção.
Apesar de estar livre, a BA-549, trecho entre Apuarema e Gandu, requer cuidado devido à existência de árvores caídas e deslizamentos em diversos pontos da via.
A PRF-BA (Polícia Rodoviária da Bahia) mantém interdições em trechos de quatro rodovias federais: a BR-101, BR-330, BR-420 e BR-349. O trecho da BR-415, em Ilhéus, que estava parcialmente bloqueado, foi liberado mais cedo.
As chuvas de dezembro na Bahia já são as mais intensas desde pelo menos 1989, segundo dados do Inema (Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos). Segundo o Inema, Itamaraju foi o município com maior chuva no Brasil neste mês.
"Se a chuva cai em pouco tempo, tem potencial para causar um desastre natural maior. Se essa chuva se concentra em dois dias, por exemplo, as barragens são destruídas pela força dela. Esse é o maior problema", diz José Marengo, coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais).
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