Topo

Esse conteúdo é antigo

Cliente negro é abordado para mostrar nota em loja da Zara em Salvador

Juliana Almirante

Colaboração para o UOL, em Salvador

30/12/2021 04h00Atualizada em 30/12/2021 09h13

Um cliente negro foi abordado por um segurança para retornar à loja da Zara no Shopping da Bahia, em Salvador, na tarde de terça-feira (28). O segurança ordenou que ele apresentasse notas fiscais de uma compra. A situação foi gravada por testemunhas, que publicaram vídeos do caso nas redes sociais.

Em publicações e comentários, usuários das redes questionaram a abordagem e acusaram a empresa de racismo. A reportagem não conseguiu localizar o cliente abordado até o momento.

Procurada pelo UOL, a assessoria de imprensa do Shopping da Bahia declarou, em nota, que "um segurança do empreendimento foi acionado por representantes da loja, solicitando que o cliente retornasse à loja - pedido que foi prontamente atendido pelo cliente, que apresentou as notas fiscais ao lojista".

Já a assessoria da Zara Brasil disse que, juntamente com a administração do Shopping da Bahia, "está apurando todos os detalhes relacionados ao fato ocorrido na tarde de terça-feira, no centro comercial, para tomar as providências necessárias e evitar que episódios como esse se repitam".

"Por meio de investigação realizada até o momento, e até a finalização da mesma, tomou-se a decisão de afastar do serviço uma funcionária da loja. A empresa lamenta o ocorrido neste episódio, que não reflete os valores da companhia", diz a nota da loja.

zara, segurança - Reprodução - Reprodução
Segurança ordenou que cliente negro apresentasse notas fiscais de compra da Zara
Imagem: Reprodução

"Compro o que eu quiser"

O assistente de compras Iure Machado, de 26 anos, foi uma das pessoas que gravou a situação e publicou no Instagram. No vídeo compartilhado nas redes por Iure Machado, é possível ver que o homem abordado diz ao segurança: "Eu tenho cartão! Eu compro o que eu quiser! Não tem nada a ver".

Em outra gravação, que foi compartilhada no Twitter, a pessoa que filma declara: "Olha o que o Zara faz com o cliente. Pagou a mercadoria e eles ficam abordando só porque é negro". Nessas imagens, o cliente abordado aparece no vídeo mostrando os documentos.

Iure contou à reportagem que o caso ocorreu no início da tarde, por volta das 14h, quando ele entrou na loja para procurar uma peça de roupa. Foi quando ele viu a discussão ocorrendo e decidiu gravar.

"Não sei se o segurança era da loja ou do shopping. Primeiro estava um [segurança] e depois chegaram mais dois seguranças", relatou.

Depois, Iure conta que o cliente saiu da loja acompanhado pelos seguranças. "Eu fui atrás [deles]. Chegaram mais três [seguranças] e conduziram ele para outro canto [do shopping]", disse.

Iure afirma que, a partir desse momento, não conseguiu mais acompanhar o cliente que foi abordado. Assim, acabou não tendo contato com ele para identificá-lo.

A assessoria do shopping também disse que "o profissional não poderia ter atendido a tal solicitação, pois descumpre o que determina o regulamento do shopping, apesar dos constantes treinamentos recebidos".

Por fim, ainda segundo a nota, "a administração do empreendimento não compactua com qualquer ato discriminatório e incluirá as imagens deste fato nos treinamentos internos para evitar que se repitam".

"Zara zerou"

A grife Zara foi acusada recentemente de racismo quando a delegada Ana Paula Barroso, que é negra, foi proibida de entrar na loja da Zara no shopping Iguatemi, em Fortaleza, no dia 14 de setembro. Na ocasião, ela registrou um boletim de ocorrência por racismo.

A investigação desse caso fez com que a Polícia Civil do Ceará afirmasse que a loja teria criado um código secreto, a fim de que os funcionários ficassem atentos e acompanhassem pessoas negras ou com "roupas simples" que entrassem no local.

Esse "alerta" era dado pelo sistema de som da loja, por meio de um código: "Zara Zerou". Nesse caso, a Zara negou que utilize códigos para discriminar clientes.